Agricultura

Lavoura: sua excelência, o café

Na era do etanol, produto continua mantendo seu prestígio e tem espaço garantido no mercado internacional. Uma das bebidas mais populares do planeta, o café tem um vínculo muito forte com a história da agricultura brasileira.

Foi durante o chamado “ciclo do café” que o país recebeu o maior número de imigrantes, em razão da carência de mão de obra para trabalhar nessa lavoura. Assim, pode-se dizer que o produto tem um papel importante não só na economia do país, mas também na formação cultural do povo brasileiro. Hoje, mesmo não tendo o mesmo peso da época em que reinou soberana nos campos da região sudeste, o café ainda é um dos principais produtos agrícolas de exportação e continua sendo um bom negócio para o agricultor brasileiro. A Revista Rural reuniu nesta reportagem algumas orientações e dicas para ajudar o produtor na implantação de uma lavoura de café.

A primeira delas é com relação a semente. Para que a semente de café conserve por muitos meses uma elevada porcentagem de germinação ela deve ser desidratada após a eliminação da substância péctica que envolve. Essa desidratação é geralmente feita por meio de seca à sombra, mas pode também ser feita ao sol ou em secadores.

O importante no processo de seca de café para semente é o teor final de umidade que não deve ser inferior a 8-9%, por isto quando se processa a seca da semente ao sol é necessário muito cuidado uma vez que sendo muito rápida a seca, facilmente a umidade da semente atinge valores inferiores aquele limite e então o poder germinativo fica comprometido. É conveniente que as sementes, após terem sido desidratadas até um teor de umidade de 10%, sejam guardadas em recipientes hermeticamente fechados a fim de se evitar a reabsorção de umidade do ar.

O processo de germinação da semente de café é mais ou menos lento. Em condições bastante favoráveis de temperatura e de umidade ela se dá em 3 a 4 semanas. É de grande interesse para o fisiologista o conhecimento do sistema radicular das plantas. A extensão e profundidade atingida pelo sistema radicular são de importância para a absorção eficiente de sais minerais e água.

A melhor distribuição do sistema radicular encontrado foi no solo terra-roxa misturada. Neste solo as raízes do cafeeiro atingiram profundidade de mais de 2,50 m sendo que a 2 m a quantidade de radicelas encontrada foi grande. Em segundo lugar está o solo arenito de Bauru seguido pelos solos massapé e terra-roxa legitima.

Embora as tentativas de sombreamento dos cafezais no Brasil datem talvez da introdução dessa planta em nosso país, essa técnica de cultura não se generalizou. Além da produção bastante menor, os cafeeiros sob sombra, em nossas condições são, na grande maioria dos casos, severamente prejudicados pela seca.

Medindo a quantidade de água disponível no solo de cafezais sombreado e não sombreados durante períodos de seca verificou-se que nos primeiros a quantidade de água disponível era sempre menor que nos segundo. O sucesso do sombreamento na América Central, onde o período de seca é longo, comparável com o que ocorre nas regiões cafeeiras do Estado de São Paulo, é explicado pela grande quantidade de água disponível encontrada nos solos daquela região, mesmo após secas prolongadas.

A concorrência que as arvores de sombra fazem ao cafeeiro tornou-se mais evidente quando se mediu a quantidade de água transpirada diariamente pelo cafeeiro sombreado e pelo Ingazeiro durante um ano. Os ingazeiros são arvores que na ocasião se usavam para o sombreamento dos cafezais.

Embora o cafeeiro possa vegetar em uma extensa área geográfica compreendida em sua maior parte pelos trópicos, abrangendo uma ampla variação de clima e solo, a sua produção econômica, entretanto, se restringe a uma área bem menor, dentro daqueles limites, onde os fatores ecológicos são mais favoráveis.

Temperaturas médias anuais situadas entre 18 e 22ºC parecem ser as mais favoráveis ao cafeeiro. Entretanto, não se deve considerar apenas a média anual, pois muito importantes são os extremos, especialmente as temperaturas mínimas que se apresentam na região.

Assim, sendo o cafeeiro uma planta pouco tolerante ao frio, não deve ser plantado em regiões sujeitas a geada ainda que ocasionalmente, pois poderá ser fortemente prejudicado.

Mesmo temperaturas não muito baixas, de apenas uns poucos graus acima de zero, embora não sejam suficientes para produzir a geada já causam alguns danos aos cafeeiros, especialmente às suas partes mais novas.

Por outro lado, em regiões onde temperaturas acima de 30ºC são freqüentes, durante períodos longos, a produção do cafeeiro é prejudicada principalmente porque grande número de botões florais abortam, não produzindo frutos.

A geada tem se constituído em permanente preocupação para os agricultores, sobretudo para os cafeicultores do sul de São Paulo e Paraná.

Geada

Embora o Estado de São Paulo não tenha inverno considerado rigoroso, muitos estragos têm-se verificado nas plantações nesse período devido às geadas ocorridas. Para evitar esses problemas muitos métodos têm sido apregoados, mas nem todos são baratos, podendo trazer inconvenientes econômicos.

Geada é um fenômeno metereológico ocasionado pelo abaixamento da temperatura em conseqüência da invasão de massas de ar polar. Aparece em noites frias, calmas, e quando o céu está completamente limpo e estrelado.

Existem dois tipos de geadas: a branca e a negra. A geada branca é formada quando o ar está relativamente úmido, com o ponto de orvalho acima da temperatura de congelamento. Havendo o abaixamento da temperatura, poderá haver deposição de gelo, ou as gotículas de orvalho que estão sobre a superfície das plantas poderão se congelar, dando formação à geada branca. A geada negra aparece quando há o abaixamento da temperatura, mas o ar está com pouca umidade, não havendo formação de gelo.

Primeiramente escolhe-se o local para o plantio das culturas, lembrando que o ar frio é mais pesado que o ar quente e que os efeitos da geada nos vegetais dependem da temperatura e do tempo de exposição a essa temperatura.

As matas funcionam como verdadeiras represas para o ar frio, dificultando o seu escoamento para áreas mais baixas. Assim sendo, a abertura de corredores (derrubada de árvores em faixas) dentro das metas, possibilitará a saída do ar frio, canalizando-o para as baixadas. Caso isso não seja feito, as culturas que se localizarem a montante sofrerão os efeitos do ar frio represado, agravando consideravelmente as conseqüências da geada. Esses corredores deverão ter uma largura aproximada de 100 metros.

No planejamento de uma propriedade agrícola, se houver possibilidade e interesse em construir uma barragem, ela deverá ser localizada acima da cultura que se quer proteger das geadas. Isso porque a água conserva o calor do sol por mais tempo do que o solo. Assim, o ar frio, em seu caminho descendente, será aquecido na sua passagem sobre a água da barragem e alcançará e cultura com uma temperatura mais elevada e mais umedecida.

Sempre que possível a vegetação sem interesse para o lavrador e as coberturas mortas deverão ser retiradas do solo, pois elas funcionam como uma camada isolante do calor liberado pelo solo durante a noite. O solo nu absorve o calor do sol durante o dia e devolve-o durante a noite, reduzindo, dessa forma, o resfriamento.

Nebulização

É mais uma opção para proteger a lavoura, fazendo-se à noite por meio de uma nuvem artificialmente produzida que cobrirá a plantação funcionando como cobertura, evitando a saída do ar quente, assim evitando a entra do ar frio e o contato com as plantas.

O material para nebulização deverá estar preparado durante o período mais provável de geadas. No Estado de São Paulo esse período vai de maio a setembro.

Escolha do local

Na escolha do local da futura lavoura, devem ser evitadas as seguintes situações: 1. terrenos voltados para faces sujeitas a ação dos ventos frios que são prejudiciais ao cafeeiro; 2. locais que tenha tido cafezais há menos de 5 anos, porque essa condição poderá favorecer o aparecimento de pragas e moléstias no novo cafezal principalmente os nematóides; 3. baixadas úmidas; 4. topografias muito íngremes, solos rasos, pedregosos ou muito erodidos.

Para a maioria das regiões cafeeiras de São Paulo, o sistema de plantio de café que pode ser recomendado de modo geral é o de livre crescimento.

Neste sistema o espaço básico indicado é o de 4 x 2,5m para as variedades Mundo Novo e Bourbon Amarelo, podendo entretanto essa distancia sofrer pequenas alterações para mais ou menos em função de condições locais e dos tratos a serem dispensados ao cafezal e que poderio influir no seu desenvolvimento.

O número de mudas por cova deverá ser de 2 a 3, sempre dispostas no sentido das linhas e mantendo entre si uma distancia de 20 a 25 cm.

Para as regiões altas (acima de 650 metros) e menos sujeitas a períodos de secas prolongadas, especialmente aquelas situadas ao longo da divisa com o Estado de Minas Gerais, poderá ser recomendada o plantio no espaçamento de 3 x 2m, com 2 plantas por cova e condicionado ao decote das plantas a uma altura máxima de 1,5m do solo quando as mesmas apresentarem tendência para o fechamento nas ruas.

Este decote deverá ser renovado em ciclos de 3 a 5 anos e sempre após uma safra elevada, ou na previsão de uma pequena produção no ano seguinte. Essa operação deverá ser efetuada nos meses de agosto ou setembro após o término da colheita.

Esse sistema proporciona uma maior produção por áreas especialmente nos primeiros anos. Favorece também a operação da colheita quando a mesma é feita por derriças a mão ou em cereja. Por se tratar de sistema mais intensivo é indispensável uma assistência mais efetiva do técnico.

Culturas lntercalares

O cultivo intercalar de outras plantas dentro do cafezal é admissível somente durante a formação deste, objetivando uma renda compensatória ao cafeicultor enquanto não tem o café produção. As culturas intercalares variam bastante quanto ao prejuízo que podem causar ao cafeeiro. As principais culturas intercalares, na ordem crescente do prejuízo, que podem causar ao cafeeiro são: feijão, amendoim, soja, arroz, algodão, milho, girassol e mamona.

Durante o período chuvoso é admissível o cultivo, por rua do cafezal, de duas linhas de milho ou três de arroz ou algodão ou quatro de feijão ou outra leguminosa de baixo porte. No segundo ano poderá ser plantada uma linha de milho ou de arroz ou três de leguminosa. No terceiro ano apenas 1 ou 2 linhas de leguminosas, sendo contra-indicado o cultivo intercalar a partir do 4º ano.

Capinas

As ervas daninhas podem causar grandes prejuízos ao cafezal se não forem adequadamente controladas. Contudo, quando o seu crescimento não for excessivo, o seu efeito na lavoura pode ser benéfico, controlando a erosão, contribuindo para manter o nível de matéria orgânica do solo e evitando o aquecimento demasiado deste e sua compactação.

Durante os meses de seca as ervas invasoras concorrem com os cafeeiros no consumo da água disponível do solo, razão pela qual as lavouras devem ser mantidas, nessa época, livres de qualquer vegetação estranha. A eliminação das ervas daninhas é feita pelas capinas, geralmente em número de 3 a 5 durante o período chuvoso. As capinas podem ser manuais, mecânicas ou por meio de herbicidas.

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