Pecuária

Genética: sangue novo na raça Santa Gertrudis

Com importação de sêmen, criadores de Santa Gertrudis pretendem melhorar ainda mais a genética do gado A genética brasileira da raça Santa Gertrudis é considerada muito boa, mas os criadores chegaram à conclusão de que ela precisa de sangue novo para dar um novo salto de qualidade.

E foi por isso que, recentemente, a Associação Brasileira de Santa Gertrudis, junto com diversos criadores realizaram importações de sêmen e embriões da Austrália e da África do Sul. Quem conta essa história é Antonio Roberto Alves Corrêa, médico veterinário, vice-presidente do laboratório de saúde animal Biovet e dono da Fazenda União do Brasil:

“Fomos à Austrália e escolhemos basicamente 2 touros. Um mocho e um raspado, para que nós pudéssemos trazer um material genético que nós achamos bastante interessante nos padrões do que está se buscando hoje em dia, em termos de frame, de altura dos animais, distribuição das partes nobres, uma homogeneidade muito grande dos seus filhos uma preponderância muito intensa da cobertura dos filhos como um todo e animais altamente qualificados dentro da genética australiana”, explica. Roberto conta que o sêmen da Austrália já chegou e os embriões da África do Sul estão para chegar ao Brasil e explica o porquê da importação. “Nossa genética é muito boa. Temos animais altamente qualificados, de uma conformação muito adequada, mas nós verificamos que na Austrália e na África do Sul, a pressão de seleção é maior. Eles, por estarem em regiões até certo ponto desérticas, com índices pluviométricos muito baixos, observamos que a pressão por seleção deles é muito forte. E eles conseguiram ultrapassar essas dificuldades com animais extremamente selecionados”, ressalta Roberto, que vê com otimismo o choque de sangue e o futuro da raça. “Nós queremos colocar em nosso plantel o que, sem duvida, irá proporcionar uma agilidade em termos de acabamento de animais; essa precocidade, rusticidade e acabamento de carcaça que eles gozam lá. Com certeza nós vamos acrescentar isso aos nossos plantéis. Eu sou extremamente confiante de que o Santa Gertrudis é uma raça que voltará a preponderar no nosso rebanho”.

O trabalho de sucesso de Antônio Roberto com o Santa Gertrudis é realizado na Fazenda União do Brasil, no município de Buri. A propriedade trabalha com um sistema de semi confinamento, com os animais sendo terminados a uma média de 550 quilos de peso vivo, ou 250 quilos de carcaça. As novilhas trabalham com duas inseminações artificiais e um repasse com touro. A meta, segundo Ricardo José Alves Rocha, gerente geral da fazenda é, até 2010 estar com 3.000 cabeças sendo 2.000 em confinamento. “Hoje nós confinamos por volta de 300 animais durante 90 dias. Os animais entram no confinamento com 330 quilos e saem com peso de abate de 530 a 550 quilos, ganhando de 1,6 a 1,8 quilos por dia”, conta o gerente geral.

Os animais da Fazenda União do Brasil, ainda segundo Rocha, têm rendido no frigorífico uma média de 53 a 56 por cento do peso vivo para o peso morto. O rendimento e a qualidade da carcaça dos animais são tão valorizados, que a fazenda conseguiu fechar um acordo com uma grande rede de restaurantes norte-americana especializada em carne bovina. “Temos um lote que faz parte do projeto Novilho Supreme para um restaurante de alto nível. O restaurante exige que a raça tenha pelo menos meio sangue britânico, o que o Santa Gertrudis atende plenamente. Tem que ter peso vivo de mais de 500 quilos, peso de carcaça de 260 quilos e idade média entre 16 e 22 meses. Eles também exigem um acabamento de carcaça de 6 a 12 milímetros de espessura de gordura na linha de lombo, e o Santa Gertrudis possui todas essas características ”, explica Rocha.

Rocha é engenheiro agrônomo e auxiliou na consolidação do projeto de integração de lavoura com a pecuária que a propriedade possui. Ali, os animais recebem uma ração altamente energética de pelo menos 55 por cento de milho ou sorgo em sua composição final. A propriedade, além destas duas culturas, planta também soja, cevada e trigo. A produção vai basicamente para a nutrição dos animais e a fazenda conta ainda com um silo de armazenamento e um pivô de irrigação.

Mas, como é sabido, a nutrição por si só não garante um rebanho de qualidade. Por isso, a genética na propriedade é uma questão levada a sério, e a reprodução dos animais é feita de maneira criteriosa. “Hoje nós trabalhamos com Inseminação Artificial por Tempo Fixo, e este ano fizemos Fertilização in Vitro. Temos aí também 20 produtos para nascer até o fim do ano de Transferência de Embrião”, explica Rocha.

O trabalho de genética da propriedade é tão bom, que ganhou não só reconhecimento de outros produtores, como também viu vários de seus touros vencedores de diversos concursos. Os campeões da fazenda são Neruda, Campeão da Raça em 2006 e 2007, Thor, Grande Campeão em Londrina e Rio Preto em 2007 e Monsueto, Grande Campeão em Esteio, em 2005. “Este último com progênie espalhada por todo o Brasil tanto de cruzamentos como de gado puro também; e considerada excepcional”, afirma Alexandre Zadra, gerente de produto/corte taurino da Lagoa da Serra, central que possui sêmen de Thor e Monsueto a venda.

O projeto pecuário do qual participa a Fazenda Angélica, hoje pertencente a Ricardo Steinbruck, presidente do grupo Vicunha, é peculiar. Lá é criado gado das raças Santa Gertrudis, Brahman e Wagyu. O grupo Vicunha também possui uma propriedade de pecuária extensiva no Mato Grosso do Sul, onde é criado gado de corte. A Fazenda Angélica serve como um banco de melhoramento genético para a propriedade no Mato Grosso do Sul. “Nós pegamos os touros de raça daqui e mandamos para a fazenda no Mato Grosso do Sul. É um grupo de tamanho grande, basicamente concentrado no Centro Oeste, onde nós vendemos a produção do ciclo completo para os frigoríficos, com uma fazenda de gado de raça para melhoramento aqui em São Paulo”, explica Steinbruck.

A raça Santa Gertrudis é conhecida pela rusticidade, precocidade, boa habilidade materna e fertilidade. E são essas as características prezadas nos cruzamentos da Fazenda Angélica. “Nós trabalhamos com seleção do Santa Gertrudis, então buscamos animais com caracterização racial aliada à fertilidade, precocidade de carcaça e sexual, tanto dos machos quanto das fêmeas; animais modernos que estejam dentro dos parâmetros da raça e da pecuária de corte de hoje”, conta Odílio Marin Filho, gerente geral da Fazenda Angélica. Segundo Odílio, a propriedade ultimamente tem se destacado muito quanto a qualidade dos animais. “Nós hoje conseguimos chegar em um animal de frame médio, com carcaça bem terminada, comprida, aprumos bons, cobertura muscular muito boa, precocidade tanto dos machos quanto das fêmeas, e isso tudo, sem perder a caracterização racial”, ressalta o gerente geral.

Os touros dessa raça são um capítulo a parte, como conta Odílio: “Lá no Mato Grosso do Sul, o pessoal está muito satisfeito com os touros principalmente, porque não lá não usamos inseminação artificial. É touro cobrindo a campo. Touro trabalhando perfeitamente sem problema nenhum. Os touros enfrentam muito bem o calor, caminham e trabalham. Basta ir lá [na propriedade no Mato Grosso do Sul] e ver a bezerrada nascendo todos os dias. É uma das coisas que a raça prega: É a funcionalidade dos touros a campo e isso a gente atesta”, afirma Odílio.

Funcionalidade poderia ser o sobrenome do gado Santa Gertrudis, já que a raça é adaptável às condições de clima e pasto no Brasil, mesmo tendo sangue taurino; e produz uma carne de alta qualidade. “O produtor tem que ter um animal que vai andar, que vai correr atrás de vaca, que vai proteger bezerros, que vai pastar morro acima, morro abaixo, então eu acho que é mais ou menos isso que a gente tenta se destacar nos nossos animais: O mais funcional possível”, enfatiza Marin Filho.

O gado Santa Gertrudis é considerado de tão boa qualidade, que até quem entende de genética e vive dela rasga elogios. “É uma raça que sempre congelou muito bem as doses. São animais diferenciados, de progênie excelente e que agradam muito por causa de suas carcaças, qualidade de carne e marmoreio”, afirma Luiz Roberto Marques, gerente comercial da Central Bela Vista. Marques acredita que o Santa Gertrudis é ideal para quem quer trabalhar com tricross, cruzamento industrial e para quem vai trabalhar em pequenas propriedades. “A venda de touros ajuda muito o produtor que quiser trabalhar com a raça, porque facilita o manejo a campo. É um animal rústico, que trabalha muito bem a pasto”, explica Marques. A Bela Vista produz sêmem de 5 touros da raça Santa Gertrudis. São eles Beethoven, Herói e Exemplo, de Davi Fernandes, Checkmate, da Caeté Agropecuária Ltda. e Douradilho, de Reinaldo Pascoal. Segundo Marques, o mercado de sêmen está aquecido. “A gente sente pela produção e atualmente tem um crescimento alto [da coleta de sêmen]. Raças Taurinas e sintéticas estão em crescimento para cruzamento industrial. Sentimos a volta do cruzamento industrial em cima da vacada Nelore”, ressalta o gerente comercial da Bela Vista.

Alexandre Zadra acredita que o cruzamento de Santa Gertrudis na região Centro Norte do País deve ser realizado sobre uma vaca três quartos zebu. “Nessa matriz, será gerado um animal praticamente meio sangue, onde é o grau máximo que se adota para um bezerro que vai ser desmamado, recriado e engordado a pasto no centro norte” Já no Centro Sul do país, a estratégia da Lagoa da Serra preconiza utilizar sêmen sobre a matriz meio sangue. “Para o produtor que está de São Paulo para baixo, utilize sobre a vaca meio sangue, que serão gerados bezerros desmamados acima de 250 quilos e bois com até 18 arrobas, muito bem terminados”, enfatiza o gerente comercial da central.

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