Agricultura

Produção de grãos: soja continua sendo uma boa aposta

A área cultivada com grãos no Brasil pode chegar a 47,7 milhões de hectares. A estimativa é da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em seu primeiro levantamento de intenção de plantio da safra 2007/08, iniciada no mês passado e que começa a ser colhida em fevereiro.

A pesquisa, realizada junto ao setor produtivo, aponta uma colheita entre 134,9 e 138,3 milhões de toneladas. Em relação à safra 2006/07 (131,5 milhões t), o crescimento da produção pode variar entre 2,6% e 5,2%.

A expectativa de aumento da safra se baseia nos bons preços dos produtos no mercado. “Essa confirmação dependerá, também, das variações climáticas para o período”, comenta o diretor de Logística e Gestão Empresarial da Conab, Sílvio Porto.

A projeção da safra atual de soja é reforçada principalmente pela soja, com produção estimada entre 59,4 e 61,3 milhões t. Isto representa de 1,6% a 4,9% a mais que a do ciclo anterior (58,4 milhões t). Os técnicos da Conab estimam que serão cultivados 21,2 e 21,9 milhões de hectares, indicando um ganho de área entre 2,4% (504 mil ha) e 5,7% (1,2 milhão ha). Esse crescimento se deve, principalmente, aos preços negociados em patamares bem mais elevados que em safras anteriores.

Mato Grosso, maior plantador de soja, deve puxar a recuperação de área que foi deixada de lado na safra anterior, apresentando crescimento entre 7% a 11%, de acordo com o gerente de Levantamento e Avaliação de Safras da estatal, Eledon Oliveira. Goiás e Mato Grosso do Sul também apresentam crescimento entre 2% e 5% nas áreas de cultivo. No Paraná, apesar da concorrência do milho, a soja terá um ganho entre 1% e 4%. Já no Rio Grande do Sul, pode haver decréscimo de 1% ou acréscimo de 3% na área.

Oliveira ressalta que “estamos apenas no início do período de plantio e que poderá haver mudanças neste cenário. As chuvas podem atrasar o plantio e os efeitos do fenômeno meteorológico La Niña ainda não são bem conhecidos”.

Produção

Na avaliação do gerente de Oleaginosas e Produtos Pecuários da Conab, João Paulo de Moraes Filho, os produtores continuam apostando na soja. Com as condições normais de clima, a produção vai representar recorde histórico e deve contribuir para que o Brasil ultrapasse os Estados Unidos como maior exportador mundial de soja em grãos. Com este resultado e com incremento das exportações do grão, será possível atender com folga o aumento do esmagamento interno com a conseqüente elevação da produção de farelo e óleo.

Desta forma, a demanda, principalmente do setor de ração, está assegurada, bem como o incremento nas exportações, conclui o analista da Conab.

Comercialização – O levantamento realizado pela Conab junto a diversos segmentos da cadeia produtiva indica que a comercialização da safra 2007/08 está mais rápida que a verificada em 2006/07, principalmente no que se refere às vendas antecipadas (soja verde).

Para Oliveira, três fatores contribuem para que os sojicultores invistam na oleaginosa: a comercialização antecipada com adiantamento de insumos por parte das grandes tradings, o volume de recursos a juros mais competitivos disponibilizados pelo governo para o custeio e a melhor capitalização dos produtores na última safra indicam maior facilidade para o plantio da atual safra. Tendo em vista os bons níveis de preços do produto, os produtores buscam ainda o melhor pacote tecnológico disponível que refletirá na melhor produtividade da lavoura.

Com base nos dados da Conab, comparando a rentabilidade para a próxima safra de soja e milho primeira safra no PR, GO e MT, a soja leva grande vantagem, além de apresentar maior liquidez na comercialização. As questões de logística e infra-estrutura também são importantes para a rentabilidade da soja na próxima safra. Os produtores das regiões mais distantes dos centros de comercialização e das plataformas exportadoras terão dificuldades em obter rentabilidades mais elevadas. Investimentos que permitam a utilização de transporte ferroviário, hidroviário e rodovias pavimentadas, novas plataformas de exportação como a ampliação do porto de São Luís/MA e recuperação das estruturas já existentes, são exigências para a manutenção e expansão da produção brasileira nos próximos anos.

Em setembro, aproximadamente 28% da produção esperada para a futura safra já estava negociada, contra 10% para a mesma época no ano anterior para a safra 2006/07. Mato Grosso lidera a comercialização antecipada da safra 2007/08, com 45%, seguido da Bahia com 40%, Goiás com 28%, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Maranhão e Piauí com mais de 25% em cada estado.

Exportações

Quanto às exportações de grãos, o Brasil vem a cada ano aumentando sua participação no mercado internacional. “Nas próximas temporadas, com certeza, o Brasil irá superar os Estados Unidos, se tornado o maior exportador mundial”, disse Moraes Filho. No caso do óleo e do farelo, com o problema de escassez de energia na Argentina, a participação brasileira nas exportações mundiais também aumentará em 2007 e em 2008. O complexo soja (grãos, farelo e óleo), que nos últimos anos tem sido o principal item da pauta de exportação do País, continuará a contribuir significativamente para saldos positivos na balança do agronegócio brasileiro.

Com a reação das cotações a partir do segundo trimestre de 2007 e o indicativo do mercado futuro para a época de colheita do grão, a projeção atual é de melhoria significativa na rentabilidade do produtor de soja para o próximo ano. Mesmo com aumento dos fertilizantes e custo da mão-de-obra, a redução no preço das sementes, dos principais defensivos utilizados na soja (exceção do glifosato) e juros, está indicando pequena redução no custo das lavouras para a próxima safra, mais um indicativo de melhoria na rentabilidade do produtor.

Moraes Filho destaca ainda que, “mesmo com projeções de margens de rentabilidade razoáveis, qualquer despesa extra do produtor pode reduzir a lucratividade”. Os produtores que optarem por cultivar soja geneticamente modificada devem estar conscientes da obrigatoriedade do pagamento de royalties e taxa tecnológica, lembra o analista.

Cenário internacional

A produção mundial deve continuar caindo ou no máximo se estabilizando, principalmente devido à perda de área para o milho nos Estados Unidos. A Argentina praticamente atingiu o limite de áreas disponíveis. Qualquer aumento na soja implica necessariamente em redução na área de milho, pastagem, trigo ou girassol. O Brasil é o único com possibilidade de aumentar significativamente a produção de soja, mas alguns entraves de logística, infra-estrutura e produção sustentável devem, no curto prazo, limitar este potencial.

O consumo mundial de grãos, embora em ritmo menor que o verificado recentemente, deve também apresentar crescimento. O estoque final continuará apresentando tendência de queda, com a relação estoque final/consumo voltando a patamares históricos, inferior a 19%. As cotações internacionais do grão estão se fixando em novo patamar, acima dos US$ 8,0/bushel (base Chicago), contra a média de US$ 5,5/bushel nos últimos anos. A demanda mundial por óleos vegetais continuará forte e crescente, elevando a cotação do óleo de soja nas principais praças formadoras de preços.

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