De acordo com o pesquisador e responsável pelos experimentos, Daniel Sosa-Gomez, da Embrapa Soja (Londrina – Paraná), o problema ocorre com freqüência no final dos meses de dezembro e janeiro, momento em que há uma epidemia na população de lagarta. Se o produtor aplica o fungicida para controlar a doença da soja muito cedo, sistematicamente elimina a ação do fungo no campo.
“O ideal, é claro, que o produtor aplique o produto, mas antes certifique que há mesmo os primeiros indícios da doença, ou se há um surto nas proximidades da sua cultura. Quando não ocorre a doença da ferrugem asiática e o sojicultor aplica o fungicida, automaticamente “joga” fora o produto e, conseqüentemente causa um desequilíbrio natural desnecessário”, aponta Sosa-Gomez.
Já quando a aplicação é tardia feita nos meses de fevereiro, lembra o pesquisador, o Nomuraea já atingiu o pico máximo e possivelmente não ocorreria estes tipos de problemas. “Quando o fungo ataca a lagarta, a mesma não chega a fase de mariposa, com isto, não se reproduz, diminuindo o risco de surto em algumas regiões”, diz.
E o pesquisador também lembra, que dentro do grupo de fungicidas usados atualmente no combate à ferrugem, há poucos que são seletivos. “Infelizmente, não contamos com todos os produtos seletivos, com isto, a maioria pode afetar os inimigos naturais, como o fungo Nomuraea, que é inimigo natural de algumas lagartas, como a da soja, a falsa medideira, a do cartucho do milho e da maçã do algodoeiro”, revela o pesquisador.
Os experimentos conduzidos pela Embrapa Soja apenas comprovaram a tese em que nas áreas onde fungicidas não seletivos foram aplicados há um aumento da população de lagartas. Os estudos concluíram ainda que este efeito torna-se mais importante quando a aplicação do fungicida é feita cerca de 40 a 45 dias após a germinação, que é o período onde o fungo Nomuraea inicia o processo de infecção no campo. De acordo com as informações do pesquisador, nesta fase, a soja começa a fechar e as condições de umidade e de temperatura facilitam a multiplicação do fungo.
“Os inimigos naturais são os aliados mais importantes e baratos que o sojicultor pode ter no controle das pragas da soja. Os predadores, parasitas, e doenças, isto é, os inimigos naturais, eliminam grande parte das pragas da cultura”, lembra o pesquisador da Embrapa Soja.
Na verdade, o sojicultor só nota no campo as pragas que conseguiram escapar dos inimigos naturais. Em muitas lavouras, os inimigos naturais são tão eficientes, que fazem as função dos inseticidas, ou seja, o agricultor não precisa passar veneno na lavoura, porque os inimigos naturais controlam as pragas. Por isso, é bom sempre lembrar que quando existe pouca praga na lavoura, quando não é preciso passar inseticida, isso se deve aos inimigos naturais. Para que eles possam cumprir sua missão é preciso preservá-los na lavoura, para isto, é extremamente importante utilizar um produto seletivo, que mata só a praga e não mata os inimigos naturais.