Pesquisas realizadas na Embrapa Semi-Árido, em conjunto com as universidades federais da Bahia e Paraíba, e as vinícolas Santa Maria, Garziera e Milano, identificaram qualidades forrageiras nas sobras das uvas processadas na indústria de vinho.
Com 14% de proteína, este material fibroso é apontado pelos pesquisadores como um bom ingrediente para compor dietas alimentares para ovinos e caprinos, em especial durante o período seco quando há escassez de forragens no sertão.
Coordenador deste estudo, Gherman Garcia Leal Araújo, da Embrapa Semi-Árido, considera que, embora seja resíduo, este material deve ser valorizado como um co-produto da indústria vinícola e do negócio agrícola da ovinocultura. As boas propriedades nutricionais, que o qualificam como um alimento volumoso para compor dietas completas, aliado a uma oferta que pode ser estável ou até crescente devido à expansão das vinícolas, devem tornar mais freqüente o uso desse co-produto nas roças de agricultores, prevê o pesquisador.
Mais gordos – Nos testes realizados no Laboratório de Nutrição Animal da Embrapa Semi-Árido por alunos dos cursos de pós-graduação das universidades federais da Bahia e Pernambuco sob a orientação de Gherman, o co-produto administrado nas dietas misturados em quantidades iguais a três fontes de alimentos como grãos de milho, raspa de mandioca e farelo de palma, resultaram em aumentos de pesos diários dos animais. Foram ganhos de 117, 71 e 132 g, respectivamente.
São níveis de engorda bastante significativos para a ovinocultura no semi-árido, ainda mais que obtidos num sistema de cria de semi-confinamento dos animais, explica o pesquisador Gherman Araújo. A expectativa inicial dos pesquisadores era de, ao menos, conseguirem fazer com que os animais não perdessem peso no período avaliado (90 dias). Para surpresa deles os animais ficaram mais gordos.
Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia, Daniel Ribeiro Menezes explica que em termos nutricionais, o co-produto tem características de alimento volumoso. Para o criador tirar mais proveito da suas propriedades forrageiras, o ideal é fornecer aos animais combinado a fontes com qualidades forrageiras mais protéicas.
Sem poluição – Na agroindústria do vinho cerca de 40% da uva processada se transforma em resíduo. No Submédio São Francisco, onde existem em operação sete delas, são mais de 3.360 t de material por safra, que podem ser transformados em alimentos para ovinos. Atualmente, parte deste material é utilizado na adubação dos parreirais e parte é queimado. A ampliação das áreas de cultivo e da capacidade de processamento das vinícolas irão elevar a quantidade dos resíduos na região.
Segundo Gherman, o destino forrageiro para o resíduo vai aportar nutrientes para os animais, em especial nos períodos de maior escassez de forragem na região. O uso desse resíduo é uma maneira de reciclar seus nutrientes e pode ser um importante fator de redução de custos de produção para a indústria vinícola. Manuela Silva Libânio Tosto, bolsista da Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba, destaca que os impactos da utilização de resíduos agroindustriais na alimentação animal não são apenas econômicos. O uso contribui para diminuir a poluição de solos e mananciais, além de ser convertido em leite, carne e pele, afirma.
Na opinião do pesquisador da Embrapa, a integração das vinícolas e os milhares de pequenos criadores de ovinos descapitalizados em torno do resíduo formam um arranjo produtivo interessante e original no semi-árido. A disponibilidade do co-produto a um baixo custo beneficia os sistemas agrícolas familiares com o aumento da oferta de alimentos de qualidade para os animais. As vinícolas, por sua vez, podem descartar, pela doação ou comercialização, de um material potencialmente poluente, destaca Gherman Araújo.