Canchinzeiros discutem os caminhos a seguir para ampliar o espaço ocupado pela raça e alcançar mercados mais promissores. A Embrapa Pecuária Sudeste realizou, nos dias 18 e 19 de maio um workshop com o tema “Estratégias para o desenvolvimento do Canchim”.
O congresso foi organizado pela Associação Brasileira dos Criadores da raça Canchim (ABCCAN) e pelo Núcleo Paulista do Canchim, e contou com diversos criadores, pesquisadores da Embrapa e pessoas interessadas na raça. Com uma série de palestras voltadas ao desenvolvimento do Canchim, o evento foi considerado um grande sucesso, demonstrando as inúmeras qualidades da raça e a preocupação em se encarar os desafios atuais da pecuária nacional.
“A raça Canchim foi uma escolha baseada no critério econômico. “Quando eu decidi utilizar pela primeira vez um reprodutor Canchim, foi para obter um animal de cruzamento industrial que fosse mais precoce do que o animal zebuíno com o qual eu trabalhava em termos de idade e abate”, conta Denis Ferreira Ribeiro, criador e ex-presidente da ABCCAN. Denis também enfatiza que as crias dos animais de seu plantel cruzados com o Canchim melhoraram a precocidade e melhoraram ao encurtar o ciclo de produção.
“O Canchim tem carcaça com formação frigorífica, rica nas chamadas carnes nobres, com um tamanho bastante proporcionado e esses fatores ainda se aliam à capacidade do canchim de transformar comida em carne rapidamente.
Então, esses fatores de precocidade, rusticidade, ganho de peso e conversão alimentar torna o Canchim muito atrativo em qualidade de produção”, explica Luis Adelar Scheuer, atual presidente da ABCCAN, que palestrou sobre os desafios atuais do Canchim e da pecuária de corte no Brasil. Com a elevação dos preços das terras cultiváveis no País, a pecuária de corte sente cada vez mais a necessidade de se tornar altamente tecnificada e produtiva, analisou Scheuer. Neste cenário, o gado Canchim com certeza é uma ferramenta importantíssima para quem busca obter esta produtividade, já que alia a precocidade do gado taurino e a rusticidade do zebu; além de se mostrar um imbatível ganhador ser peso, especialmente nas condições de clima tropical, concluiu o presidente da ABCCAN em sua palestra.
Em seguida, o Professor da USP Pirassununga, Edvaldo Lencioni Tito proferiu uma palestra intitulada “Ambiência para bovinos de corte e a tolerância ao calor da raça Canchim” onde mostrou os dados obtidos no último experimento realizado sobre sua supervisão com animais da raça. Nesta oportunidade foi observada a alta tolerância ao calor do gado Canchim, lembrando também que existe uma grande variabilidade entre indivíduos de uma mesma raça em relação à dissipação de calor, variabilidade esta que será provavelmente estudada nos próximos experimentos com a raça, focando desta vez a identificação das linhagens dentro da Canchim que apresentam maior facilidade nesta dissipação.
Palestrantes e criadores consideraram o encontro muito satisfatório, já que ali puderam ser discutidas idéias que comprovaram o Canchim como a raça ideal para o sistema de criação de gado de corte no Brasil, aliando a rusticidade ao alto desempenho produtivo em um curto espaço de tempo, como enfatiza Denis Ferreira Ribeiro: “Após alguns anos de utilização, obtive bons resultados. Assisti e testemunhei o aumento pela procura de reprodutores dessa raça no Mato Grosso do Sul. Outros criadores passaram a se interessar e a selecionar a raça e começaram a produzir animais visando multiplicar a genética que estávamos selecionando. Isso [seleção] eu comecei a fazer no ano de 1991 e estou até hoje. Sou um criador que se orgulha muito de estar trabalhando essa raça”.
Embrapa investe em novas linhagens
O pesquisador Pedro Franklin Barbosa palestrou sobre as linhas de pesquisa com o gado Canchim que estão sendo realizadas na Embrapa Pecuária Sudeste. Franklin fez uma síntese do trabalho da Embrapa com o Canchim nas últimas décadas e o trabalho genético realizado atualmente. Explicou que na década de setenta o canchim estava restrito a uma base genética muito pequena, com poucos touros formadores. Naquela época houve um movimento para aprovar um esquema de obtenção de Canchim de cruzamento absorvente. Porém, os pesquisadores viram que esse esquema de cruzamento absorvente caia no mesmo problema. O esquema consistia em utilizar os touros canchim já existentes nas vacas Nelores, depois meio sangue, 3/4, 7/8, assim por diante em um esquema conhecido por ATV, em homenagem ao doutor Antonio Teixeira Vianna. Esse é o esquema que segundo Franklin, persiste até hoje. Quando chegou na década de oitenta, a Embrapa começou a fazer um novo esquema de obtenção de Canchim; as chamadas novas linhagens que consistem em cruzar touros canchim com vacas nelore, e desse cruzamento obter uma fêmea cruzada Canchim/Nelore e nessa fêmea colocar um touro Charolês de linhagem nova, obtendo assim um produto de linhagem nova que os pesquisadores chamam de MA (mestiçagem alternativa). “Esse touro MA cruzado com vaca MA, dá canchim linhagem nova, então é o que nós estamos fazendo aqui. Hoje nós produzimos aqui um projeto grande de pesquisa, comparando as linhagens antigas, fechadas com a linhagem nova. Então nós podemos cruzar linhagens antiga/nova e nova/antiga”, explicou Franklin.
A Embrapa Pecuária Sudeste está desenvolvendo um projeto em que o objetivo principal é comparar as linhagens antigas, novas e cruzadas. Para isso os pesquisadores estão mantendo aproximadamente cem vacas de cada linhagem e acompanhando o desempenho delas ao longo da vida e dos seus bezerros. “Nós medimos tudo aquilo que é possível medir, então há propostas novas de medir tolerância ao calor, tolerância ao carrapato, ganho de peso, fertilidade, todos os índices zootécnicos possíveis sob dois enfoques. Isso é muito importante dizer, porque às vezes, as pessoas pensam que a gente só tem o enfoque de genética antiga, tradicional, então nós temos também o enfoque da genética molecular disso”, enfatiza Franklin. A idéia dos pesquisadores da Embrapa, segundo Franklin é intensificar o sistema, ou seja, usar mais vacas por área do que é utilizado hoje. “Nós sabemos aqui com o resultado de outros projetos que é possível manter cinco vacas Nelore por hectare e estamos começando um sistema intensivo de produção de canchim; porque as fêmeas Canchim são maiores do que as fêmeas Nelore e ainda tem os produtos, então nós vamos ter uma equivalência em termos de lotação semelhante”, ressalta Franklin, que garante que existem alguns resultados parciais mostrando vantagens em se realizar e utilizar novas linhagens em cruzamentos. Mas, ainda segundo Franklin, é prematuro concluir qualquer resultado: “Nós temos que continuar o trabalho por alguns anos pra depois se produzir um pacote, um manualzinho para o produtor de canchim, porque a dúvida grande deles é: Afinal de contas há vantagens em se fazer novas linhagens? Há vantagens em se utilizar novas linhagens? Essas novas linhagens estão vindo da onde?” Franklin explica que os touros Charolês estão vindo principalmente dos Estados Unidos e da França. Alguns vêm também da Argentina. “Provavelmente nós vamos incluir a Inglaterra na nossa bateria de touros Charolês e também touros Charolês brasileiros, porque hoje, o Brasil é considerado o berço do Charolês mocho; quer os franceses queiram, quer não”, afirma.