Negócios

Curtumes: um mercado que “dá no couro”

Indústria brasileira do couro comemora 50 anos de conquistas. Exportações da cadeia produtiva do couro em 2006 somaram US$ 4,5 bilhões, receita 7% superior ao ano anterior; setor é um dos responsáveis pelo bom desempenho da economia brasileira no exterior A cadeia produtiva coureiro-calçadista é um dos grandes motores da economia nacional.

O complexo industrial é formado pelos setores de curtumes, de componentes, de máquinas e de artefatos de couro. Trata-se de um negócio que movimenta receita superior a US$ 21 bilhões anuais, reúne 10 mil indústrias e emprega mais de 500 mil pessoas. No ano passado, as exportações da cadeia produtiva do couro somaram US$ 4,5 bilhões.

O Brasil é um dos grandes produtores mundiais de couros – com o processamento ao redor de 45 milhões de unidades, além de maior exportador com embarques da ordem de 35 milhões de peças. Essa posição de destaque é explicada por diversas vantagens comparativas, a começar pela abundante oferta de matéria-prima. O País possui o maior rebanho bovino comercial do mundo, estimado em mais de 200 milhões de cabeças.

Essa quantidade é transformada em qualidade por um moderno parque industrial, operado por mão-de-obra das mais qualificadas do mundo. O nível tecnológico do setor é dos mais apurados em nível internacional, fruto de maciços investimentos na modernização de processos, que absorveram mais de US$ 300 milhões nos últimos anos. Neste contexto, o Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) é a entidade que representa as 800 empresas que atuam na produção e processamento de couros, empregam 45 mil pessoas e movimentam um PIB de US$ 3 bilhões anualmente..

Até maio, os embarques já somam U$ 936 milhões, receita 33,61% superior aos US$ 701 milhões apurados no acumulado anterior. Em 2006, a indústria curtidora exportou US$ 1,87 bilhão, receita 34% superior ao US$ 1,4 bilhão de 2005.

Este ano, o CICB está comemorando 50 anos de atividades (ver retranca”Couro marca o cinquentenário com debate sobre o futuro”) estimando que os embarques de couros devam somar US$ 2,3 bilhões, um substancioso aumento de 22% em comparação ao ano passado. A entidade foi fundada em 15 de janeiro de 1957, com o objetivo de defender o setor curtidor brasileiro. De natureza federativa, com abrangência em todo o território nacional, o CICB é integrado por empresas e entidades regionais associadas, nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil.

Em sua trajetória histórica (ver retranca “CICB: uma história de desafios e vitórias”), a entidade organizou institucionalmente a indústria curtidora e a comercialização, definindo prioridades para a evolução de qualidade e produção do couro nacional.

Cinco décadas após a sua criação, as exportações brasileiras de couro foram multiplicadas por 21, saltando das 19 mil toneladas embarcadas em 1956 para as 400 mil toneladas exportadas em 2006.

O empresário Umberto Cilião Sacchelli é o atual presidente do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), além de diretor superintendente da Apucacouros Indústria e Exportação de Couros, em Apuracana, Paraná, e vem conduzindo a sua gestão focada no fortalecimento da cadeia coureiro-calçadista. Os trabalhos administrativos são conduzidos pelo diretor-executivo, Luiz Bittencourt, e uma diretoria estruturada em diversas áreas de atuação, que complementa os quadros da entidade.

O Conselho Diretor do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil é composto por Leonardo Swirski e Gladston José Dantas Campelo, primeiro e segundo vice-presidentes, respectivamente. Também o integram os vice-presidentes: Augusto Sampaio Coelho, (vice-presidente de Comércio Exterior), Roberto Mota da Silva, (vice-presidente de Gestão Corporativa), Arnaldo Frizzo, (vice-presidente de Marketing e Promoção Comercial), Leogenio Luiz Alban, (vice-presidente de Matéria-Prima e Produtos), e Paulo Enzweiller, (vice-presidente de Mercado Interno).

Os demais membros do conselho diretor são Wayner Machado da Silva, (vice-presidente de Novas Tecnologias), e Amadeu Pedrosa Fernandes, (vice-presidente de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentado).

Debate sobre o futuro

Mais de cem pessoas entre autoridades governamentais, parlamentares, além de lideranças e representantes de todos os segmentos da cadeia produtiva coureiro-calçadista participaram do IV Encontro Nacional do Couro, em Brasília, no início de maio O evento também marcou a comemoração dos 50 anos de existência do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), no Blue Tree Park.

O presidente do CICB, Umberto Sacchelli, abriu o encontro saudando os participantes (ver discurso anexo). Depois, o consultor de planejamento da entidade, Hélio Mendes, fez a apresentação “A Estratégia do Setor para o Século XXI e os Principais Gargalos da Cadeia Produtiva”.

Posteriormente, Paulo Reimann, presidente da Gelita do Brasil, empresa que é uma das maiores produtoras e exportadoras de gelatina, focou sua palestra na competitividade brasileira (abundante oferta de matéria-prima, condições climáticas favoráveis, busca da governança e equilíbrio mercadológica entre os atores da cadeia produtiva e a inovação como valor agregado). Salientou, entretanto, que o País tem que ter mais cuidado e atenção com o aspecto sanitário na produção, ilustrando com reportagens publicadas na imprensa internacional que exploram negativamente esse tema.

Os participantes do IV Encontro Nacional do Couro assistiram a um documentário sobre os 50 anos do CICB e depois a uma apresentação do diretor da Revista Courobusiness, Roberto Nogueira, que fez uma retrospectiva dos desafios e conquistas ao longo de cinco décadas, citando trechos do seu livro “Couro é insuperável – 40 anos de CICB 1957 – 1997”.

Troféu e homenagens

A solenidade CICB teve seu ponto alto com a entrega do Troféu O Curtidor e da Placa Comemorativa dos 50 anos da entidade que contemplaram personalidades, entidades e autoridades governamentais e parlamentares em reconhecimento ao seu apoio à indústria curtidora nacional.

O Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil recebeu mensagens de congratulações pelo seu cinqüentenário das seguintes autoridades do governo federal e entidades: ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge; do Presidente do Sebrae, Paulo Okamato; do secretário da Receita Federal, Jorge Rachid; e do presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto.

O IV Encontro Nacional do Couro também foi prestigiado pelos deputados federais, lideranças e representantes do setor coureiro-calçadista e de órgãos federais e instituições.

CICB participa de cooperação técnica com a UNIDO

Uma das novas ações do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) neste ano, em que a entidade comemora o seu cinqüentenário foi o acerto para cooperação técnica com a Organização para o Desenvolvimento Industrial das Nações Unidas (UNIDO), durante a 16ª edição do Painel do Couro e Produtos de Couro promovido pela ONU em Gramado/RS, no final de maio.

Essa cooperação abrange tecnologia e práticas de controle pelo Programa Brasileiro de Qualidade do Couro, que o CICB desenvolveu em parceria com o Sebrae Nacional. Este programa, focado na adoção de técnicas simples por parte de pecuaristas, no transporte dos animais e no processamento dos curtumes, pretende reduzir perdas perfeitamente evitáveis, que custam US$ 1 bilhão anuais à cadeia produtiva.

Conduzido em dezenove estados, o Programa Brasileiro de Qualidade do Couro mobilizou entre 2004 e 2006 500 mil pecuaristas, 18 mil trabalhadores em esfola e 1.080 universitários, que atuaram como multiplicadores de informações técnicas para pequenos criadores.

A parceria entre o CICB e a UNIDO foi recebida com entusiasmo pelo Diretor de Pesquisa e Estatística do órgão da ONU, o brasileiro Sérgio M. Miranda-da-Cruz, que, inclusive, aceitou o convite feito pelo diretor-executivo do CICB, Luiz Augusto Siqueira Bittencourt, para participar como palestrante do V Encontro Nacional do Couro a se realizar em Brasília, em 2008.

Couro verde-amarelo está presente em quase 100 países

O produto nacional ganha espaço no competitivo mercado mundial e deve exportar receita superior a US$ 2,4 bilhões até 2008

Além de consolidar a liderança brasileira neste segmento, a indústria do couro também garante o ingresso de divisas e empregos ao país. Um bom exemplo é o trabalho conduzido pelo Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), em conjunto com a Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), órgão do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A iniciativa está abrindo espaços para a participação do couro brasileiro no mercado internacional, em especial nos segmentos de maior valor agregado.

Por meio do Programa Brasileiro para Expansão da Exportação de Couro, também denominado Brazilian Leather, as duas entidades reforçam e viabilizam a presença de empresas nacionais em feiras e exposições internacionais.

O objetivo estratégico do programa é aumentar os embarques de couros do País, de US$ 1,4 bilhão apurados em 2005 para receita superior a US$ 2,4 bilhões até 2008.O couro brasileiro é muito apreciado no exterior, presente em mais de 85 países. Em anos anteriores, o Brazilian Leather proporcionou receita da ordem de US$ 33 milhões.Como resultado desta estratégia, nada menos do que 66 indústrias curtidoras marcaram presença em seis feiras internacionais realizadas em 2006 na Índia, Hong Kong, China França, e Itália.

O desempenho das exportações do setor atesta o sucesso da iniciativa. Os embarques de couros no ano passado somaram US$ 1,87 bilhão – receita 34% superior a igual período de 2005. Até maio deste ano, as exportações brasileiras de couros já cresceram 33,67% em relação ao acumulado de 2006, aumentando de US$ 701 milhões para US$ 937 milhões, o que atesta para 2007 um cenário promissor e de vigorosa expansão da indústria curtidora.

CICB: uma história de desafios e vitórias

Em suas cinco décadas de existência, o CICB participou ativamente de várias etapas da história do crescimento da indústria brasileira do couro. A primeira, no início dos anos 70, quando o setor iniciou acelerada industrialização e agregação de valor acentuada. Na década de 80, também houve grande crescimento industrial, com fortes investimentos, estimulado pelo incremento do rebanho bovino nacional. Já nos anos 90, os investimentos da indústria foram direcionados aos produtos de maior valor agregado, com o crescimento da indústria de estofamento, moveleira e automotivo.

Atualmente, entre as suas ações institucionais, a entidade apóia a regulamentação da Lei nº 11.211 (aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva), também conhecida como Lei do Couro, que obriga fabricantes e importadores de calçados e artefatos a identificar os materiais empregados na fabricação de produtos oriundos de pele animal.

Outra iniciativa do CICB que também merece destaque é o Programa Brasileiro da Qualidade do Couro, desenvolvido com o Sebrae, que capacitou 58.341 produtores, profissionais e estudantes de 23 estados do País.

O Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil também participa ativamente nos Fóruns de Competitividade do setor coureiro-calçadista, e realiza, em parceria com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI, órgão vinculado ao governo federal), um levantamento de cenários e possibilitar identificar fatores de competitividade, prospecção de mercados e tendências futuras.

Couro e pecuária bovina: uma longa trajetória histórica de sucessos

Do século XVII ao segundo milênio, uma longa estrada de desafios e vitórias da pecuária bovina e da indústria brasileira do couro

Neste segundo milênio, a cadeia produtiva do couro está reeditando um capítulo de sucesso na história da economia brasileira. A primeira versão foi escrita nos idos do século XVII, quando o negócio assumiu tal importância que passou para a história do país como o ciclo do couro.

O couro, à época, despontava como importante derivado do gado vacum, introduzido no Brasil pelo colonizador português Martim Afonso de Sousa, em 1534. A pecuária, de fato, mostrou-se uma competente ponta-de-lança para promover o desenvolvimento da então colônia.

Além de importante provedor de alimentos – carne e leite – para as populações das fazendas e povoados, o gado era empregado como força motriz auxiliar dos escravos nos engenhos de açúcar e dos garimpeiros na exploração das minas de ouro e pedras preciosas do Brasil Central.

Mas foi no século XIX que surgiu a indústria do curtimento, em 1824, com a chegada dos primeiros imigrantes alemães, que se instalaram no Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul.

A produção, inicialmente caseira e feita na confeccção de arreios de montaria, ganhou força com a Guerra do Paraguai (1864-1870). A partir de então, surgem os primeiros curtumes e a necessidade de ampliar o mercado. Dessa forma, em 1888, é instalada, no Vale dos Sinos, RS, a primeira fábrica brasileira de calçados.

Curiosidades históricas

Alguns estudos indicam que há 10 mil anos a.C. já existiam os primeiros calçados eram sandálias confeccionadas com fibras de plantas ou couro. No Egito Antigo, entre 3.100 a.C e 32 a.C., apenas os nobres usavam sandálias de couro, enquanto os faraós usam calçados deste tipo adornados com ouro.

Os persas inventaram por volta de 1.500 a.C. o primeiro sapato macio feito com tiras de couro. Na Idade Média, o rei Eduardo (1272-1307), da Inglaterra, padronizou a numeração dos sapatos. No mesmo país, em 1642, há o registro da primeira produção “em massa” de sapatos em todo o mundo: quatro mil pares de calçados e 600 pares de botas para o Exército. Mas foi durante a Revolução Industrial, no início do século XVIII, na Inglaterra, que as máquinas passaram a produzirem calçados em larga escala.

O modelo bico fino é oriundo da época da Reforma Protestante, no século XVI, e por volta de 1842 foi que os norte-americanos criaram os primeiros sapatos direito e esquerda, para proporcionar maior conforto dos pés. E em 1930, surgem as sandálias plataformas.

Informações e dados para gráficos, tabelas e pizzas
Exportações brasileiras de couro 2004 a 2006
US$ (em milhões)
2004 2005 2006
US$ 1,29 US$ 1,40 US$ 1,87
Cresc. s/ano anterior (22%) (8%) (34%)
Fonte: Secex/CICBCouro Indústria Brasil 2006 (produção e exportação)
Receita
Exportação – US$ 1,87 bilhão
PIB da indústria curtidora – US$ 3 bilhões (*)
Volume
Produção – 44,4 milhões de unidades
Exportação – 34 milhões de peças
Disponibilidade: 46,4 milhões de unidades
Fonte: CICB

Consumo de couro (*)
50% ?Indústria calçadista
30% ?Indústria automobilística
10% ?Setor moveleiro
10% ? Segmento vestuário
(*) Estimativa CICB

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