Agricultura

Balanço: maior sucesso do agronegócio “virá dos grãos”

Depois de dois anos difíceis, produtores de soja e de milho (esse, a bola da vez!…), deverão desfrutar de dias mais favoráveis para a atividade. O crescimento da demanda por milho para a fabricação do etanol nos Estados Unidos e o aumento do uso da soja na produção do biodiesel tem papel importante nesse processo. De um modo geral, porém, os ventos devem soprar a favor da maioria dos principais setores da atividade rural.

O agronegócio foi um dos setores que mais cresceram na economia brasileira nos últimos cinco anos. De 2002 a 2006, as exportações de produtos agropecuários tiveram um aumento de 99%, saltando de US$ 24,8 bilhões para US$ 49,4 bilhões, segundo dados da Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

O complexo sucroalcooleiro teve o melhor desempenho, com incremento de 243% nas vendas externas. As carnes ficaram em segundo lugar, com expansão de 170%. Em terceiro, aparece o café, com crescimento de 143%; em quarto, cereais e preparações, com 123%; e em quinto, frutas, com 91%.

“Tivemos esse desempenho extremamente positivo apesar das adversidades enfrentadas nas últimas duas safras, como a seca, a valorização do real frente ao dólar, os problemas sanitários e a queda das cotações internacionais dos grãos no mercado mundial”, diz o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Luís Carlos Guedes Pinto. Ele atribui o crescimento à competência dos produtores brasileiros, à maior agressividade nas ações promocionais no mercado externo e à tecnologia desenvolvida no País. “Nossos agricultores são competitivos demais e, ao mesmo tempo, somos detentores da mais avançada tecnologia de agricultura tropical do mundo. A expectativa de Guedes é de que neste ano as exportações do agronegócio pelo menos repitam o desempenho de 2006.

Após um ano de condições desfavoráveis à comercialização, os produtores brasileiros deverão encontrar um quadro melhor na temporada 2006/07. Os estoques mundiais das principais commodities produzidas no Brasil têm sinalização de queda. Com o aperto no quadro de oferta e demanda, a tendência é de recuperação gradual dos preços.

Soja, milho, trigo, arroz, café e algodão, em menor ou maior escala, apresentarão estoques em queda. Em alguns casos, como o do milho e do trigo, a redução é bem significativa e o impacto deverá ser grande na composição dos preços. Em outros, o corte é mais leve, como para o complexo soja, arroz e algodão. Já o café encontra um quadro consolidado de aperto na oferta e demanda, responsável pela recuperação das cotações nas últimas duas temporadas e que deve continuar sustentando o mercado.

Complexo oleaginoso

Depois de uma temporada de forte crescimento, desta vez o ano comercial 2006/07 deverá ser marcado pelo recuo geral nos estoques finais do complexo oleaginoso. É bem verdade que não chegará perto dos recuos verificados na temporada 2003/04, quando das graves perdas combinadas de safra nos Estados Unidos, no Brasil e Argentina.

“Mesmo assim parece ser um importante indicativo para o comportamento futuro dos preços, na medida em que esse aperto nos estoques acontece sem problemas mais graves na oferta, ou seja, ancorado na seqüência de firme expansão da demanda nesses últimos anos”, destaca o analista Flávio França Júnior, da Safras & Mercado.

O analista lembra que até o ano anterior o ritmo de avanço da oferta vinha ficando acima da taxa de crescimento do consumo, o que resultou em acúmulo considerável na posição de estoques finais. “Tanto isso é verdade que nas últimas dez temporadas, incluindo a projeção para este novo ano, houve queda nos estoques em apenas duas”, completa.

De acordo com o levantamento do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), depois dos estoques finais das principais oleaginosas no mundo terem crescido 9,4% na temporada passada, a previsão atual aponta para queda de 0,6%, passando de 61,72 mls para 61,33 mls de toneladas.

“Mais do que a queda em si, o relevante nos parece ser a inversão de tendência, uma vez que acreditamos em novo aperto também para 2007/08 caso a hipótese de menor área de soja nos EUA se confirme”, acrescenta França Júnior. Nos farelos protéicos, os estoques devem cair 14,5%, passando de 7,57 mls para 6,47 mls de t, após já ter caído 9,8% na temporada passada. Apesar da gripe aviária, o consumo para a produção de ração segue crescendo em ritmo acelerado em todo o mundo. Nos óleos vegetais, a indicação de estoques é de 8,17 mls de t, caindo 11,8% sobre os 9,26 mls de t do ano anterior, depois de ter avançado 0,4% neste último ano.

“Além do aumento natural do consumo para alimentação humana e indústria química, temos agora forte demanda adicional para a produção de biodiesel, o que aparentemente ainda está subestimado nesses números dos USDA”, alerta.

Em relação à oferta, o analista destaca o fato de que a sinalização inicial é para aumento na produção mundial de oleaginosas de apenas 1%, passando de 388,30 mls para 392,53 mls de t. Esse avanço está ancorado basicamente em cima da soja, que tem crescimento avaliado em 3%. E também no caroço de algodão, com safra avaliada em 43,89 mls de t, com 3% de aumento sobre os 42,51 mls de t anteriores.

No entanto esse volume total está limitado pelas perdas sinalizadas para outras importantes culturas, como é o caso do amendoim e da colza/canola. Tanto que o total da produção das oleaginosas excluindo a soja está avaliado em 167,56 mls de t, 2% abaixo dos 170,26 mls de t da última safra. No amendoim, a expectativa é de retração em 7%, passando a produção de 33,78 mls para 31,51 mls de t. No girassol, há um leve aumento de 2%, passando de 29,77 mls para 30,41 mls de t. E na colza/canola, o USDA indica recuo avaliado em 5% na produção, passando de 48,55 mls para 46,16 mls de t.

Consumo cresce a taxa maior

Esse recuo nos estoques do complexo oleaginoso está ligado à combinação de pequena taxa de crescimento da produção, com ritmo de expansão superior pelo lado do consumo. Nas oleaginosas, o consumo está estimado em 392,92 mls de t, 3% superior aos 382,90 mls de t do ano que passou. Nos farelos, o consumo está avaliado em 223,84 mls de t, 4% a mais que os 215,06 mls de t do ano anterior. E nos óleos vegetais temos o consumo total avaliado em 121,21 mls de t, 5% acima do que os 115,31 mls de t de 2005/06.

Esta inversão de tendência, com a ampliação gradual do consumo, tem como base o sentimento positivo em relação ao crescimento da economia mundial. A recente revisão nas projeções para a economia mundial em 2006 e 2007, realizadas em setembro pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), apesar de alertar para os riscos trazidos pela inflação e pela alta dos preços do petróleo, elevou suas previsões de crescimento para o mundo desde o relatório anterior, passando a taxa para 2006 de 4,9% para 5,1%, enquanto a taxa de 2007 subiu de 4,7% para 4,9%.

O Fundo elevou suas previsões de crescimento mundial refletindo o momento de bonança na economia do planeta, apesar da desaceleração prevista para os EUA, em razão da queda no mercado imobiliário. Se tais previsões forem confirmadas, a economia mundial poderá registrar seu maior período de expansão desde o início dos anos 1970, com quatros consecutivos de forte crescimento. Segundo essas projeções, o crescimento dos EUA deverá ser de 3,4% este ano e de 2,9% em 2007, enquanto a Zona do Euro e o Japão manterão avanço firme, com taxas respectivas de 2,4% e 2,7%, e de 2,0% e 2,1%. Já a América Latina deverá crescer 4,8% este ano e 4,2% em 2007, graças às altas cotações das matérias-primas e da demanda interna. Ainda segundo essas projeções, a China manterá seu impressionante ritmo anual de crescimento na casa dos 10%.

Soja

Apesar de algumas diferenças, parte desse cenário para o complexo oleaginoso deve ser também a tônica para o complexo soja. A produção de soja está avaliada em 224,97 mls de t para 2006/07, 3% superior aos 218,04 mls de t do ano passado. Neste caso a taxa vai ficando acima do 1% de crescimento no ano anterior (inverso do total das oleaginosas). Destaque para os aumentos de quase 5% na safra dos EUA e para a projeção de mais 4% também para a América do Sul.

O consumo também deve crescer a uma taxa levemente superior a da produção. A previsão é de 221,06 mls de t, 3,4% acima dos 213,77 mls de t do ano passado. Destaques para os crescimentos esperados de 5% para a Argentina, de 7% no Brasil e dos 8% para a China. Depois de ter subido 8% em 2005/06, o estoque final de soja cresceria apenas 6%, passando de 52,15 mls para 55,22 mls de t, confirmando novo recorde histórico.

No farelo de soja, a produção tem projeção de avanço em 4,6%, passando de 144,88 mls para 151,53 mls de t. E o consumo tem previsão de melhoria em 4,4%, subindo de 145,55 mls para 151,99 mls de t. Destaques para os crescimentos de 3% na Argentina, de 4% no Brasil e de 9% na China. Com isso, os estoques finais desta vez cairiam 12%, passando de 5,83 mls para 5,13 mls de t;

No óleo de soja, a produção tem taxa estimada de melhora em 3%, subindo de 34,32 mls para 35,31 mls de t. E o consumo tem previsão de avanço em 6,5%, passando de 33,44 mls para 35,62 mls de t. Como destaques temos a expectativa de crescimento em 7% nos EUA, de 8% na China, de 11% na União Européia, de 23% na Argentina e de 27% no Brasil. Com isso os estoques finais deverão cair fortemente, na mesma direção dos óleos vegetais. A projeção atual aponta para 2,97 mls de t, 16% inferior aos 3,55 mls de t da temporada que passou.

Milho

Se para o complexo oleaginoso e para a soja, as alterações nos estoques são sutis, no milho o impacto do aperto na oferta e demanda é flagrante. O estoque mundial de 90 milhões de toneladas, projetado pelo USDA para 2006/07, é o mais baixo dos últimos trinta anos, com uma relação estoque/consumo inédita de 12%. “Este quadro mundial exige dos países produtores e exportadores uma elevação de área e produção em 2007 sob o risco de nova retração para 2007/08”, avalia o analista Paulo Molinari.

A expectativa é de estoques ajustados em função da forte demanda por etanol nos Estados Unidos. “O mercado mundial dependerá de uma ótima área plantada nos EUA em 2007 para tentar inibir uma maior queda nos estoques e uma nova alta de preços. Uma elevação de área no milho representa uma queda de área na soja, o que é bom para os preços da soja no mercado internacional também”, acrescenta Molinari, lembrando da elevação acentuada dos preços futuros de milho, soja e trigo nos últimos dois meses, por conta, em grande parte, desta complicada situação do cereal.

Este desequilíbrio na relação de oferta e demanda do milho é reflexo do consumo em elevação. A demanda mundial está projetada em 724,14 milhões de toneladas, 3,45% superior ao ano passado, que ficou em 699,97 milhões de toneladas. O principal fator para esta elevação é o aumento considerável no consumo de milho para a produção de etanol nos Estados Unidos. A demanda americana está estimada em 243,60 milhões de toneladas, com aumento de 5,2% sobre o consumo de 2005/06, de 231,58 milhões de toneladas.

Completando este quadro, a produção mundial deve recuar de 693,29 milhões para 688,73 milhões de toneladas. Os norte-americanos deverão colher 272,93 milhões de toneladas, contra 282,26 mls da temporada passada. “A alta de preços internacionais, com o risco de queda exagerada dos estoques nos EUA, traz a necessidade de novos exportadores mundiais com capacidade de venda de bons volumes”, destaca Molinari, apontando assim o principal efeito que este corte nos estoques pode trazer ao mercado brasileiro.

Caso os EUA necessitem reduzir as suas exportações para atender a sua demanda interna, Brasil e Argentina terão espaço para grande volume de exportações de milho ao longo de 2007 e 2008. Para 2007, o Brasil dependerá de uma safrinha recorde para marcar presença no mercado internacional, já que a safra de verão está registrando uma queda de área de 8,1%. “Esta safrinha determinará o caminho para o Brasil nas importações ou nas exportações”, indica.

Segundo o analista, a princípio, com uma safrinha recorde (12 a 13 milhões de toneladas), o Brasil poderá exportar entre 2 e 3 milhões de toneladas em 2007. Com uma safrinha menor, este perfil de exportações poderá perder espaço. “As importações somente ocorrerão do Paraguai e também em caso de quebra forte da safrinha/07. As importações de milho transgênico estão proibidas por enquanto”, completa.

Trigo

No caso do trigo, a situação é bastante semelhante a do milho e os reflexos também deverão ser parecidos. Segundo o último relatório do USDA, os estoques globais de trigo na safra 2006/07 serão de 118,83 milhões de toneladas, uma retração de 21% em relação ao ano comercial anterior. Este é o menor montante de estoques de passagem desde 1997. Naquele ano, no entanto, as 114,3 milhões de toneladas dos estoques finais, eram suficientes para atender 20% da demanda mundial. Na atual safra, o consumo global será de 615 milhões de toneladas, contra 567 milhões de 1997. Assim, a relação estoque/consumo neste ano será de 16%, o menor patamar da história da oferta e demanda de trigo.

“É muito evidente a situação de aperto na oferta mundial de trigo neste ano comercial. Para se ter uma idéia, a produção neste ano comercial deve ficar em 586,81 milhões de toneladas, o que corresponde a um déficit de 28,24 milhões de toneladas frente ao consumo (615,05 milhões de toneladas)”, aponta Elcio Bento, da Safras & Mercado.

Este cenário reflete diretamente no comportamento dos preços internacionais do cereal, que estão nos maiores níveis desde o recorde histórico de 1996. “A tendência segue sendo de alta e a análise dos números deste ano em relação aos de 1996, nos permite estimar que alcançaremos um novo recorde de alta. Naquele ano a produção mundial foi de 536 milhões de toneladas, para um consumo de 550 milhões de toneladas (um déficit de 14 milhões, abaixo dos 28 estimados para este ano). Os estoques finais eram de 103 milhões de toneladas, menor que os 118 milhões deste ano, porém, atendiam a 19% da demanda, contra apenas 16% deste ano. Fica claro que estamos num ano de alto ajuste no quadro de oferta e demanda”, completa.

Segundo ele, a tendência para os preços ainda é de elevação até o final do ano comercial 2006/07. A colheita de trigo no Hemisfério Sul encerra neste mês de novembro. “A partir daí teremos um período de entressafra até meados de maio, quando se inicia a colheita no Hemisfério Norte. A análise sazonal do comportamento dos preços nas Bolsas norte-americanas, principal referencial para o mercado mundial, mostra que a partir de dezembro temos uma escalada de recuperação de preços até maio. Assim, a tendência é de preços em alta nos primeiros meses de 2007, podendo ultrapassar o recorde de 1996”, aposta Bento.

Bento frisa que os estoques finais são determinados pelo comportamento da oferta e da demanda. A média da produção mundial nos últimos 10 anos foi de 586 milhões de toneladas, enquanto que a do consumo foi de 595 milhões de toneladas, uma diferença de 9 milhões de toneladas. Observa-se que a produção atual é igual à média dos últimos 10 anos. Já do lado da demanda, o total estimado para o consumo neste ano comercial (615 milhões de toneladas) é 21 milhões de toneladas superior à média dos últimos 10 anos.

“Com isso podemos perceber que há uma inconstância do lado da oferta, enquanto a demanda apresenta uma tendência clara de elevação, puxada por fatores demográficos e econômicos. Em relação aos estoques finais, a média dos últimos 10 anos é de 141 milhões de toneladas, 23 milhões de toneladas superior ao montante deste ano. Também por este ângulo de análise fica claro o ajuste no quadro de oferta e demanda”.

O mercado brasileiro já vem sentindo os reflexos da escassez de oferta. Claro que o reflexo é potencializado pela frustração na produção interna, que recuará de 4,4 milhões de toneladas para apenas 2 milhões de toneladas. O reflexo desta escassez de oferta mundial chega ao Brasil via Argentina. “Nosso vizinho comercial é o grande responsável pelo nosso abastecimento e é tomador de preços no mercado mundial. Ou seja, os preços do trigo argentino são influenciados pelo comportamento das bolsas norte-americanas (balizadoras do mercado mundial). Então, a escassez de oferta mundial eleva os preços internacionais, a Argentina segue este mesmo comportamento e os reflexos chegam ao Brasil”, explica.

Dependendo de mais de 70% de cereal estrangeiro para atender a sua demanda, o Brasil trabalha num regime de paridade de importação. Assim, os preços internos, tanto em nível de produtor como de indústria, depende do comportamento dos preços internacionais. Neste ano o mercado brasileiro está ainda mais sensível porque a Argentina não terá trigo suficiente para atender a demanda brasileira por importação, tendo que buscar entre 1,5 e 2 milhões de toneladas na América do Norte. Assim, os reflexos da escassez de trigo no âmbito mundial, serão sentidos de forma mais acentuada no Brasil.

A necessidade de importação do Brasil deve ser a maior da história. Até agora a maior necessidade de compras estrangeiras foi de 7,5 milhões de toneladas no ano 2.000. Para o atual ano comercial, com uma queda de 54% na produção interna, de 4,4 para cerca de 2 milhões de toneladas, o Brasil terá que importar cerca de 8 milhões de toneladas para fechar nosso quadro de oferta e demanda.

A indústria está preocupada, pois esta maior necessidade de importação ocorre justamente neste ano em que o quadro de oferta e demanda mundial será muito ajustado e os preços internacionais estão elevados. “Para piorar, o governo argentino vem tomando várias medidas para garantir o abastecimento interno sem reflexos inflacionários, o que traz incertezas ao mercado e pode prejudicar a dinâmica da cadeia tritícola brasileira”, ressalta o analista.

A indústria também vem pleiteando a retirada da TEC (Tarifa Externa Comum) para trigo de outras origens além do Mercosul. Esta medida encontra resistência do lado dos representantes dos triticultores brasileiros, que depois de vários anos acumulando prejuízos, finalmente podem vender seu produto a um valor atrativo.

Arroz

Depois de sofrer redução por quatro anos seguidos, o estoque final de arroz no mundo apresentou uma pequena recuperação (3,3%) em 2005/06, atingindo, segundo o USDA, 80,58 milhões de toneladas de arroz beneficiado. Atualmente, aproximadamente 46% deste estoque encontra-se na China, maior produtor e também o maior consumidor de arroz no mundo.

A projeção para o ano 2006/2007 é de que os estoques finais de arroz no mundo voltem a apresentar redução, em conseqüência de um aumento de produção de apenas 0,4%, volume insuficiente para suprir o aumento do consumo mundial de arroz de 1,1%. A projeção do USDA é de que o estoque mundial de arroz tenha uma redução de 2,2%, ficando em 78,8 milhões de toneladas de arroz beneficiado.

O comportamento dos estoques mundiais de arroz tem influência direta no comportamento dos preços do cereal no mercado internacional. “Essa relação ocorre de forma ainda mais intensa quando as variações de estoque se concentram entre os principais importadores (Oriente Médio, Filipinas e Nigéria, entre outros) ou principais exportadores (Tailândia, Vietnã e Índia)”, aponta o consultor Tiago Sarmento Barata.

O Brasil, em função da sua ainda pequena participação no mercado internacional de arroz, sofre pouca influência das variações no comportamento dos estoques finais e conseqüentemente variações nos preços internacionais. A influência é pequena, mas existe. O Brasil, nos últimos dois anos, vem aumentando a sua participação no mercado internacional como exportador e a recuperação do preço do cereal aumenta a competitividade do país nesse mercado. “O grande empecilho nesse momento é a política de manutenção da baixa relação cambial”, indica.

O maior impacto dos preços internacionais no mercado doméstico ocorre com relação às importações. Quando os preços do arroz no mercado internacional estão baixos e existe um déficit no abastecimento doméstico, ocorre uma diversificação das origens do produto importado. Além das tradicionais importações do cereal uruguaio e argentino, ocorre também a entrada de arroz americano, vietnamita e tailandês.

Para o ano comercial 2007/2008, a projeção é de um significativo aumento das importações e redução das exportações de arroz no Brasil. “Isso porque a produção (2006/2007) deve ser mais uma vez inferior à demanda doméstica e os estoques iniciarão o ano comercial com um volume 41,5% menor. Além da necessidade física de adquirir arroz para abastecer o mercado interno, existirá também um forte interesse em buscar fontes mais baratas, já que no Brasil o arroz deverá estar bastante valorizado”, antecipa Barata.

Algodão

Para o algodão, o quadro de oferta e demanda é bem mais folgado do que para as outras commodities, resultado em estoques tecnicamente altos. O estoques de passagem da safra 05/06 para 06/07 são de 53,81 milhões de fardos (217,7 kg cada), representando cerca de 46,4 % da demanda, o que é um número considerado elevado pelo mercado.

Mas a tendência para 2007 é de uma redução dos estoques para cerca de 51,05 milhões de fardos, frente a um consumo de 120,88 milhões de fardos, o equivalente a 42,2% da demanda, que se aproxima do patamar “psicológico” de 40% de estoques em relação ao consumo. “A queda dos estoques para a temporada 06/07, espera-se, será via aumento do consumo da China, que vem apresentando taxas impressionantes de incremento na demanda. O consumo chinês para 06/07 é estimado em 50 milhões de fardos, o que significa 41%,3 da demanda mundial”, informa o analista Miguel Biegai Júnior.

Os preços do algodão no mercado interno têm estreita relação com as flutuações dos preços internacionais. A redução dos estoques mundiais para 06/07 deve trazer suporte para as cotações, tanto no mercado externo, como no Brasil. No entanto, caso venha a ocorrer uma produção muito grande no Brasil (em relação à demanda e exportações), os preços podem acabar sendo balizados por paridade de exportação, o que tende a significar cotações mais baixas que as praticadas na temporada 05/06.

As exportações do Brasil na temporada 06/07 tendem a ser maiores do que em 05/06. Estimativas indicam exportações de 500 mil toneladas ou mais a serem destinadas para embarque ao mercado externo, frente às cerca de 380 mil toneladas da atual temporada. “No entanto, as importações podem recuar em função da maior disponibilidade interna”, conclui Biegai.

Cana

A safra de cana-de-açúcar na região Centro-Sul do Brasil apresentou um crescimento em produto (açúcares totais) de 13,9%, sendo 10,14% na moagem de cana, 17% na de açúcar e 11,2% na produção de álcool. Isso resultou numa produção de 371 milhões de t de cana contra 336,9 da safra anterior, 25,8 milhões de t de açúcar contra os 22,0 milhões do último período e 15,9 bilhões de litros de álcool, superando os 14,3 bilhões de litros da última safra. O mix de produção entre os produtos foi de 50,4% para álcool e 49,6% para açúcar, compatíveis com os números apresentados na previsão inicial de maio de 06, revisada em setembro de 06.

Para o presidente da Única, União da Indústria de Cana-de-Açúcar, Eduardo Pereira de Carvalho, os números confirmam a confiabilidade das previsões da entidade e se devem à metodologia empregada, com imagens de satélite e pesquisa de campo, cuja concretização é fruto de parcerias da Unica com o CTC – Centro de Tecnologia Canavieira; Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e Cepea/Esalq-USP. O crescimento de 1 bilhão de litros no consumo de álcool hidratado foi anulado pela redução de 1 bilhão de litros no de anidro, resultado da redução da mistura de álcool na gasolina de 25% para 20% em março de 2006, teor que foi aumentado para 23% em novembro.

Para a safra 07/08, a expectativa é de que grande parte da produção de cana seja destinada à produção de álcool, resultando, portanto, numa safra mais alcooleira que a atual. A participação do álcool aumentou na safra 06/07 de cana-de-açúcar na região Centro-Sul do Brasil para 50,12%, devido às condições climáticas favoráveis ao processamento. Já a participação do açúcar ficou em 49,88%, de acordo com levantamento da Unica. A moagem de cana da região Centro-Sul da safra 06/07 atingiu 365,4 milhões de toneladas, volume 10,19% acima dos 331,6 milhões de toneladas do mesmo período da safra anterior. A produção de açúcar somou 25,6 milhões de toneladas – 17,13% a mais que os 21,8 milhões de toneladas de igual período da safra 05/06.

Foram produzidos 15,6 bilhões de litros de álcool, 11,01% a mais que os 14,1 bilhões de litros da safra anterior. A produção do hidratado ficou em 8,4 bilhões de litros – 21,39% acima dos 6,9 bilhões da safra anterior, enquanto a de anidro ficou em 7,3 bilhões de litros, 1,06% amais que os 7,2 bilhões de litros do mesmo período da safra 05/06.

O Açúcar Total Recuperável (ATR) por tonelada de cana ficou em 147,20, o que representa aumento de 3,34% em comparação com 142,45 do mesmo período da safra passada.

“Somos o maior produtor e exportador mundial de açúcar e álcool”, observa o ministro da Agricultura Luiz Carlos Guedes Pinto. Hoje, acrescenta, esse é um dos setores que mais atraem investimentos para o agronegócio nacional. Em 2006, foram instaladas 12 novas destilarias no País e outras 16 devem entrar em funcionamento neste ano. As novas agroindústrias se concentram na região Centro-Sul, principalmente em São Paulo. “Isso representa mais emprego e renda para o setor sucroalcooleiro.” O Brasil tem 360 unidades produtoras de açúcar e álcool, que tem uma renda anual de R$ 40 bilhões e empregam diretamente cerca de um milhão de trabalhadores.

Café

Após a crise e o desequilíbrio estrutural que marcou o início do novo século, os últimos anos foram de reajustes, com produção ficando abaixo do consumo e, por isso, de estoques em queda. Para esse ano, espera-se uma recuperação na produção, que deve gerar excedente, após anos de déficit na produção.

A Organização Internacional de Café (OIC) aponta produção de 120 a 122 milhões de sacas, com consumo projetado em 2006 em 116 milhões de sacas. Uma sobra de 4 a 6 milhões de sacas, segundo a OIC. Esse excedente deve ser utilizado para recompor os baixos estoques de passagem na temporada anterior. A OIC projeta, atualmente, estoques de 18,89 milhões de sacas entre os exportadores e ao redor de 20 milhões junto aos importadores. No total seriam, 38,89 milhões de sacas estocadas.

“O próximo ano deve ser de carência na oferta, diante da projeção de uma safra pequena no Brasil. Ano de carga baixa e problemas na florada antecipam uma menor produção brasileira em 2007, que, dada a importância do Brasil no quadro mundial da oferta, deve repercutir sobre a produção global. Antecipa-se, então, um ano de produção abaixo da necessidade outra vez, o que deve levar a nova recuo nos estoques”, projeta Gil Barabach.

A evolução da produção mundial depende principalmente dos movimentos de oferta do Brasil, cuja safra alterna anos de produção em alta com outro de produção em baixa. O consumo, apesar da melhora nos últimos dois anos, ainda evoluiu de forma quase estagnada. Com isso, os períodos de excedente ou de carência são determinados pela oscilação da produção, com especial destaque ao tamanho da produção brasileira. “O consumo, nesse sentido, tem pequena participação no contexto geral dos estoques, pelo menos tem sido assim nas últimas décadas”, completa.

A menor produção e a queda nos estoques no próximo ano já vêm oferecendo suporte às cotações do café no mercado mundial, com tendência positiva devendo se estender ao longo dos próximos meses, pelo menos até junho de 2007, quando do avanço da safra nova. A menor safra brasileira deve reduzir as exportações do país e mundiais ao longo da temporada 2007/08, que tem inicio em julho e termina em junho de 2008.

O secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Linneu Costa Lima, fez um balanço do mercado do café no Brasil nos últimos quatro anos. Entre 2003 e 2006, o Brasil produziu 143,6 milhões de sacas do produto, dos quais 103,1 milhões foram exportados, gerando uma receita de US$ 9,4 bilhões no período. O consumo interno em quatro anos foi de 60,6 milhões de sacas.

De acordo com o secretário, o orçamento do Fundo de Desenvolvimento da Economia Cafeeira (Funcafé) foi de R$ 4,155 bilhões entre 2003 e 2006, dos quais R$ 16,4 milhões aplicados em publicidade e R$ 33,3 milhões em pesquisa. Os recursos do Funcafé investidos em pesquisa incluem o trabalho desenvolvido pela Embrapa no seqüenciamento de genomas. “O sequenciamento permitirá à Embrapa detectar, por exemplo, as virtudes de uma variedade de café quanto à resistência a seca, pragas e doenças, sabor, aroma e produtividade”, explicou Costa Lima.

Com relação aos preços, o secretário informou que nos últimos quatro anos a política anticíclica do governo federal permitiu um crescimento gradual, contínuo e estável nas cotações do produto. Em 2003, o preço da saca de café era de R$ 173,00 e em 2006 chegou a R$ 246,00. O preço médio foi de R$ 229,00. “Cerca de 80% desta estabilidade se deve ao trabalho sério desenvolvido pela Conab no levantamento da safra de café, que deu credibilidade às informações e reduziu os movimentos especulativos”, enfatizou Linneu Costa Lima.

O diretor de Departamento do Café, Vilmondes Olegário, disse que foram transferidos nesta sexta-feira para os agentes financeiros R$ 167 milhões liberados para custeio da safra no final de novembro pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O valor é parte de um total de R$ 350 milhões aprovados pelo conselho.

Ao comentar sobre a variação dos financiamentos para o setor, o diretor informou que, além dos R$ 167 milhões para o custeio, foram destinados R$ 337 milhões para a colheita, R$ 778 milhões para estocagem, R$ 239 milhões para financiar aquisição de café pela indústria, num total de R$ 1,522 bilhão repassados para os bancos. Desse montante, R$ 1,350 bilhão poderão ser utilizados para estocar 8 milhões sacas. “Cerca de 50% do volume deverão ser comercializados em 2008”, comentou Olegário.

Linneu e Vilmondes informaram ainda que o Conselho de Desenvolvimento da Política do Café (CDPC) deverá avaliar se o Brasil deve investir na promoção do café brasileiro no Japão a partir do próximo ano. A proposta foi feita ao secretário e ao diretor durante encontro com representantes da cadeia produtiva japonesa de café esta semana em Tóquio.

Segundo o secretário, a proposta é de que a partir da promoção do café brasileiro, haja um crescimento gradual de 2% ao ano nas vendas do produto para o Japão durante cinco anos. Atualmente, o Brasil exporta 2 milhões de sacas para o país asiático por ano.

“Os empresários querem iniciar a campanha em 2007, com repercussão maior em 2008, para dar ênfase às comemorações do centenário da migração japonesa no Brasil, que ocorreu em função da cafeicultura”, acrescentou Vilmondes Olegário. A idéia é de que a promoção do café brasileiro no Japão seja financiado pela iniciativa privada, tanto brasileira quanto japonesa, complementada, se for necessário, com recursos do Funcafé.

Fruticultura

A fruticultura foi outro setor que expandiu as exportações nesse período. Os embarques de frutas, incluindo nozes e castanhas, passaram de US$ 400 milhões em 2002 para US$ 702 milhões em 2006. “O crescimento dessa cadeia produtiva no mercado mundial foi impulsionado pelo programa de Produção Integrada de Frutas (PIF), coordenado pelo ministério. Com o PIF, reduzimos os índices de aplicação de substâncias agroquímicas nos pomares, oferecendo aos consumidores frutas mais saudáveis e seguras, além de contribuirmos para preservação ambiental e para a saúde do trabalhador”, comenta o Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Luiz Carlos Guedes Pinto.

Carne

Apesar da febre aftosa e do temor da gripe aviária chegar ao Brasil, as exportações brasileiras de carne apresentaram em 2006 um crescimento de 5,5%. De acordo com dados da balança do agronegócio divulgados hoje pelo Ministério da Agricultura, as vendas externas de carnes passaram de US$ 8,2 bilhões em 2005 para US$ 8,6 bilhões em 2006. Enquanto cresceram as exportações de carne bovina, diminuíram as vendas de carne de frango e suína.

As exportações de carne bovina “in natura” aumentaram, no período, 29,6% – de US$ 2,4 bilhões para US$ 2,4 bilhões. “Esse aumento ocorreu apesar dos efeitos dos focos de febre aftosa identificados em outubro de 2005 no Mato Grosso do Sul e Paraná”, ressaltou o ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto. Pelos cálculos do Ministério da Agricultura, a expansão das vendas externas de carne bovina “in natura” é decorrente do aumento de 12,9% da quantidade exportada e de 14,8% nos preços.

Frango

Dados recém-divulgados pela UBA revelam que o alojamento brasileiro de matrizes de corte encerrou 2006 registrando um novo recorde, já que no mês foram alojadas 3.584.812 matrizes de corte, volume 4,66% e 2,71% superior aos registrados, respectivamente, em dezembro de 2005 e em novembro de 2006. Bastante significativo, o volume de dezembro significou acréscimo de quase um milhão de cabeças sobre o alojamento de abril (2,635 milhões de matrizes), os dois números ilustrando a grande variação de alojamento ocorrida no ano.

Em função desse resultado, 2006 foi encerrado com um alojamento total de 38,398 milhões de matrizes de corte, volume que corresponde a um incremento de 4,73% sobre os 36,664 milhões de cabeças alojados em 2005.

Note-se, aqui, que o alojamento médio de 2006 (3,200 milhões de cabeças/mês) correspondeu, aproximadamente, ao alojamento médio do segundo semestre de 2005 (3,206 milhões de cabeças/mês, 19,237 milhões no semestre). Mantida a mesma “escrita” em 2007, o alojamento do ano pode chegar aos 40 milhões de cabeças (4,4% de aumento sobre 2006), já que o alojamento do segundo semestre do ano passado totalizou 20,039 milhões de cabeças.

Nada impede, porém, que em 2007 se chegue aos 42 milhões de matrizes de corte, quase 9,5% a mais do que em 2006. Para isso basta, apenas, manter (sem qualquer aumento) o mesmo volume do último trimestre de 2006, período em que o Brasil alojou pouco mais de 10,5 milhões de matrizes de corte, média de 3,506 milhões/mês. Já as exportações de carne de frango “in natura” caíram 12,1%, refletindo o impacto da gripe aviária nas vendas.

Suínos

Balanço divulgado hoje pela Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs) mostra que a receita obtida pelo Brasil com a exportação de carne suína no ano de 2006 registrou uma queda de 11,19% em comparação com o ano anterior.

De janeiro a dezembro, a receita acumulada foi de US$ 1,04 bilhão frente aos US$ 1,17 bilhão em 2005. O volume embarcado de carne suína teve uma retração similar. Foram exportadas 528.195 toneladas em 2006, contra 625.075 em 2005.

A Rússia continua sendo o principal destino da carne suína brasileira, respondendo por 51% do mercado no acumulado do ano. Na comparação com o ano anterior, a queda nos volumes embarcados para a Rússia foi de 33,86% (267.689 toneladas em 2006 contra 404.738 em 2005). E a retração da receita das exportações para a Rússia foi de 22,74% (US$ 622,3 milhões em 2006 ante US$ 805,4 milhões no ano anterior). Contudo, o valor médio por tonelada embarcada para a Rússia apresentou um aumento de 5,10% na comparação dos dois anos. Se por um lado a Rússia importou menos carne suína brasileira no ano de 2006, todos os outros principais compradores aumentaram suas aquisições de forma expressiva. As exportações para Hong Kong aumentaram 21%, para a Ucrânia o aumento foi de 130%, Cingapura 52% e para a Argentina 11%. Esses países somados à Rússia compraram 83% do total de carne suína exportada pelo Brasil em 2006 e responderam por 85% da receita gerada com essas exportações. É preciso fazer a lição de casa na questão sanitária para ganhar novos mercados e reduzir a concentração nas exportações de carne suína.

O setor não tem grandes expectativas para 2007. O custo de produção deve-se manter alto neste ano devido à grande demanda mundial dos dois principais componentes da ração, o milho e o farelo de soja, o que pode elevar os preços desses insumos, apesar da previsão do aumento da safra para este ano.

Com isso, a única alternativa para que os produtores voltem a ter resultados positivos é o aumento dos preços recebidos pelo animal. Para tanto é preciso crescimento da demanda e/ou controle de produção. Neste início de ano, o mercado suinícola segue lento.

Couro

As exportações brasileiras de couros cresceram 33% em relação a 2005, aumentando de US$ 1,26 bilhão para US$ 1,69 bilhão, segundo dados elaborados pelo Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB). O valor já supera o total de US$ 1,5 bilhão exportado o ano passado. Em volume, os embarques cresceram 25%. Nos 12 meses de 2006, as vendas externas de couros acabados foram 34% superiores em volume e 40% em receita, quando comparadas ao mesmo período do ano anterior.

Os principais destinos do couro brasileiro foram a Itália (participação de 26,43% e crescimento de 51% ante 2005), China (participação de 20,11% e aumento de 48%) e Hong Kong (15,39% e elevação de 23% sobre o período anterior). Outros mercados importantes para o produto nacional foram os Estados Unidos, Coréia do Sul, Indonésia, Países Baixos, Portugal,Taiwan e Vietnã. O maior aumento percentual foi registrado pela Indonésia, cujas importações cresceram 444%, saindo de US$ 5,9 bilhões para US$ 32,6 bilhões. Outro país que manteve forte e contínua elevação das importações do couro brasileiro foi o Vietnã, com aumento de 234%, de US$ 9,6 bilhões para US$ 32,2 bilhões.

Leite

Como costuma dizer o economista Eduardo Giannetti da Fonseca, ao se referir aos impulsos de crescimento do país, tivemos, no biênio 2005/2006, um típico “voo de galinha” no setor leiteiro. As exportações, sobre as quais no início do ano tinha-se expectativas de até US$ 300 milhões, ficaram na metade disso e, considerando o comportamento do câmbio, até que o resultado não foi de todo mal. O resultado na balança comercial foi de praticamente equilíbrio, pelo terceiro ano consecutivo, comprovando que, atualmente, o estágio do país é de auto-suficiência no consumo de leite, ora importando, ora exportando, mas sem que se alcance, pelo menos ainda, o status de exportador estrutural, como na Argentina e outros países.

Também no efeito cambial reside parte da explicação sobre o porquê dos preços de leite terem estacionado no patamar médio de R$ 0,50/litro, ainda que com uma oferta em baixa, resultando, até novembro, com preços médios nominais cerca de 9,6% mais baixos do que em 2005. Com o dólar valendo R$ 2,15-2,20, o preço do leite no Brasil, em dólar, ficou em valores relativamente altos do meio do ano para frente, na casa dos US$ 0,23-0,24/litro, representando um limite natural para maiores elevações, sob o risco de aumento das importações.

O ambiente macroeconômico também jogou um balde de água fria nas expectativas de crescimento de vários setores. De uma projeção de 5% no início do ano, devemos terminar 2006 com um modesto crescimento de menos de 3%, ainda que parte da renda tenha sido melhor distribuída, em função principalmente dos programas de transferência de renda.

Chegou-se, enfim, ao final de 2006, com um cenário mais. Apesar de um ensaio de queda de preços de leite no mês de dezembro, fruto de um leve aumento de oferta no Sudeste e Centro-oeste, que vem ocasionando queda acumulada de cerca de R$ 0,06/litro no leite “spot” desde a segunda quinzena de novembro, vários fatores levam a crer que 2007 será melhor.

O primeiro aspecto é a constatação de que o aumento de oferta tem sido muito tímido e os preços praticamente se mantiveram, sendo a possível variação de 2-3 centavos para baixo bem menor do que os dados históricos para essa época do ano. Sem dúvida, 2007 iniciará em um patamar de preços significativamente superior ao início de 2006. A tendência é de elevação nos preços; afinal, essa safra praticamente não aconteceu e já está do meio para o seu fim.

O outro aspecto que sinaliza, para o produtor, preços melhores em 2007 é a situação do mercado internacional, que vive um momento de preços bastante elevados, a ponto de ressuscitar o interesse nas exportações de leite em pó pelas empresas – e isso com um dólar de R$ 2,15, algo que seria impensável há um ano. A brutal elevação dos preços externos acaba trazendo novamente a competitividade ao setor exportador, de certa forma compensando o câmbio. Embora possa haver alguma desaceleração da economia mundial no primeiro semestre, nada indica que esse cenário de preços será muito alterado, isto é, deverá continuar sendo um fator propulsor do mercado e dos preços internos.

As empresas de laticínios estão trabalhando, em suas projeções, com preços significativamente maiores em 2007 do que em 2005, o que, para o produtor, é uma boa notícia. Porém, do lado dos custos, a expectativa é de elevação, principalmente pelo lado das commodities agrícolas.Percebe-se que a relação de troca, que foi a salvação da lavoura para o produtor de leite em 2006, não dará o ar de sua graça em 2007, pois milho e soja devem ter preços mais altos em 2007.

Saúde Animal

O bom desempenho das exportações de carne de frangos, bovina e até suína e o sucesso das campanhas oficiais de vacinação contra febre aftosa e raiva dos herbívoros, coordenadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), estão entre os fatores determinantes para o crescimento da indústria veterinária em 2006. De acordo com estimativas do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (SINDAN), o setor encerra o ano com faturamento estimado em R$ 2,4 bilhões, elevação de 7% em relação a 2005 (R$ 2,2 bilhões).

Segundo Emilio Salani, presidente do Sindan, esse resultado positivo também decorre da maior preocupação dos produtores em relação à saúde animal. “O desempenho da indústria veterinária resulta de conscientização gradual dos criadores, cada vez mais conscientes da necessidade dos investimentos em sanidade para melhorar a produtividade e reduzir os riscos de enfermidades. Outro fator a ser considerado é a modernização do parque industrial veterinário brasileiro, atualmente entre os mais avançados do mundo, capaz de atender não só às demandas sanitárias do Brasil como também de outros países”, analisa Salani.

Os produtos veterinários destinados à bovinocultura foram responsáveis por cerca de 57% das vendas do setor, ou R$ 1,3 bilhão de reais, ante R$ 1,2 bilhão no ano passado. O segmento de produtos para saúde animal da avicultura permanece como o segundo maior, com participação de 17% ou R$ 408 milhões. Em seguida, vem o segmento de produtos para animais de companhia, com 11,2% do faturamento total, o equivalente a R$ 268 milhões.

O crescimento nas vendas de produtos para suínos foi uma das surpresas positivas em 2006. As vendas do segmento passaram de R$ 181 milhões (2005) para R$ 220 milhões, representando agora 9,2% do movimento da indústria veterinária, contra 8,2% no ano anterior. Esse resultado reflete recuperação frente à instabilidade vivida desde 2002. As vendas de produtos para saúde de eqüinos também registraram crescimento. O faturamento do segmento totalizou R$ 72 milhões, ou 3% do total. O mercado de produtos para ovinos e caprinos movimentou R$ 62,4 milhões, ou 2,6% do total do setor.

Campanhas de vacinação

De acordo com o presidente do Sindan, outro fator importante para o desempenho positivo da indústria veterinária em 2006 foi o sucesso campanhas oficiais de vacinação. Este ano, a venda de vacinas contra febre aftosa deve encerrar o ano com 373 milhões de doses vendidas, marcando novo recorde. A venda de vacinas contra raiva dos herbívoros também apresenta resultado expressivo: a previsão da indústria é encerrar o ano com cerca de 130 milhões de doses comercializadas, ante 108 milhões de doses vendidas em 2005.

“Em 2006, a indústria veterinária mais uma vez cumpriu o papel que lhe cabe no combate à febre aftosa e à raiva dos herbívoros, garantindo o sucesso das campanhas com a oferta de vacinas em todo o território nacional”, comenta Salani.

Para 2007, o Sindan estima crescimento menor do que o verificado este ano, atingindo algo em torno de 3% a 4%. “Com a mudança de governo e a indefinição quanto aos Ministérios, especialmente os ligados ao agronegócio e à economia, é prematuro estabelecer expectativa otimista ou pessimista. Somente após conhecer os programas relacionados à área do agronegócio, será possível fazer previsões”, ressalta o presidente do Sindan.

Rações

A indústria de alimentação animal, que compreende fabricantes de rações balanceadas, alimentos para animais de estimação (pet food), premix, suplemento mineral e suprimentos, fechará o ano de 2006 com um crescimento de 2,5%. Segundo dados do SINDIRAÇÕES, Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal, a produção do setor chegará a 48,4 milhões de toneladas.

O crescimento do setor só não foi maior devido a dois fatores adversos ocorridos no começo do ano. O primeiro foi o surto de febre aftosa registrado em plantéis de bovinos no Mato Grosso do Sul e Paraná, que abalou o preço do boi vivo. As dificuldades enfrentadas pelos pecuaristas foram sentidas pelos fabricantes de insumos e de suplementos minerais para a pecuária de corte.

Além disso, o surgimento da gripe aviária em alguns países da Europa e da Ásia abalou a confiança do consumidor nestes locais, provocando uma grande redução no consumo de carnes de aves. O Brasil, que participa com mais de 40% nas exportações deste segmento, foi prejudicado pela queda.

Ainda com relação ao mercado internacional, o setor de alimentação animal deixou a posição secundária – dependendo apenas do crescimento nas exportações de carnes, leite e ovos, para crescer no mercado interno – e passou a exportar também produtos para alimentação animal. Em 2006, as exportações devem representar cerca de US$ 130 milhões, ou 1,4% da produção brasileira. Em 2005, exportou US$ 120,4 milhões.

Para o próximo ano, as projeções são de um crescimento maior. “As dificuldades enfrentadas pela agropecuária no início do ano foram superadas e esperamos crescer entre 6% e 7% bem 2007”, conta Mario Sergio Cutait, presidente do SINDIRAÇÕES.

O grande destaque da indústria de alimentação animal foi o segmento de pet food, que cresceu 7,58% em relação mesmo período de 2005. A suinocultura também teve um desempenho expressivo, com crescimento de 6%. Para 2007, a expectativa é que a avicultura de corte e a bovinocultura de leite superem as dificuldades deste ano e cresçam 7% cada uma, seguidas pela avicultura de postura, que deve aumentar seus negócios em 6%. Já a projeção para a suinocultura é que ela registre uma expansão de 5%, enquanto a bovinocultura de corte deve crescer 3,5%.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *