BRAHMAN – RAÇA PRODUTIVA E FUNCIONAL
Ser precoce e fértil é quase uma obrigação de qualquer animal inserido num projeto pecuário moderno. A alta adaptabilidade do Brahman advinda da rusticidade, porém, faz dele uma opção excelente para o cruzamento a campo, em vacas azebuadas ou F1 de cruzamentos com raças taurinas.
Investimento em tecnologias e aquisição de qualidade nos processos não é segredo em nenhum setor econômico, em tempos de crise, principalmente para agentes que desejam sair na frente, quando os bons ventos voltam a soprar. Nesta rota, os irmãos Albano e Alexandre Coccapieller Ferreira melhoraram muito sua atividade pecuária e encontraram leme seguro para atravessar a tempestade. Na raça norte-americana Brahman, chegada ao Brasil há pouco mais de 12 anos, aportaram em segurança e descobriram um grande parceiro.
Ser precoce e fértil é quase uma obrigação de qualquer animal inserido num projeto pecuário moderno. A alta adaptabilidade do Brahman advinda da rusticidade, porém, faz dele uma opção excelente para o cruzamento a campo, em vacas azebuadas ou F1 de cruzamentos com raças taurinas.
Investimento em tecnologias e aquisição de qualidade nos processos não é segredo em nenhum setor econômico, em tempos de crise, principalmente para agentes que desejam sair na frente, quando os bons ventos voltam a soprar. Nesta rota, os irmãos Albano e Alexandre Coccapieller Ferreira melhoraram muito sua atividade pecuária e encontraram leme seguro para atravessar a tempestade. Na raça norte-americana Brahman, chegada ao Brasil há pouco mais de 12 anos, aportaram em segurança e descobriram um grande parceiro.
Os irmãos provêm de uma família tradicional de invernistas e vivem exclusivamente da pecuária. Engordam animais de sua cria e de outros rebanhos. Cerca de seis anos atrás, depois de testarem várias raças no cruzamento industrial, na tentativa de identificar reses mais produtivas, que permitissem um ciclo mais curto, perceberam nas crias de sangue Brahman um caminho bastante interessante. Estes animais eram produtos de inseminação artificial.
Pelo seu modelo e infra-estrutura, os Ferreira saíram a procura de touros da raça para utilizá-los na cobertura a campo. “Foi aí que descobrimos que não havia oferta suficiente para o atendimento de nossa demanda. Obviamente, decidimos selecionar o gado puro, de modo que fizéssemos os nossos próprios touros e pudéssemos aproveitar todo o potencial de mercado que a raça já mostrava no início de 2003”, conta Alexandre.
Fizeram importações de animais dos Estados Unidos e adquiriram outros de importantes plantéis nacionais, que na época fomentava a raça no País. Para se ter uma idéia, em meados de 2003, a Associação de Criadores de Brahman do Brasil possuía porco mais de 30 sócios, enquanto que ao final deste 2006, são quase 400. Constituída uma base sólida para o plantel que nascia, hoje, o Brahman Vitória, os irmãos Ferreira passaram a multiplicar rapidamente o rebanho com a utilização de FIV (fertilização in vitro) e TE (transferência de embriões).
O gado puro de origem importada é selecionado em uma propriedade nas imediações de Araçatuba, SP. O plantel reúne pouco mais de 60 cabeças e várias receptoras cheias. Próxima a cidade de Ilha Solteira, ainda no Estado de São Paulo, a Fazenda Vitória faz a recria das fêmeas. O rebanho Brahman Vitória, em pouco tempo de trabalho, já rendeu aos pecuaristas vários títulos em exposições importantes, como a Expozebu e a Expobrahman. Nesta última, a mostra nacional de 2006, fez o Grande Campeonato de Fêmeas, com Miss Vitória FIV 20, entre outros prêmios.
“É muito importante para nós alcançarmos uma condição destas, pois mostra o bom direcionamento de nosso trabalho, no que diz respeito aos investimentos que fizemos em genética e mesmo nos acasalamentos dentro da fazenda. Percebemos um fortalecimento da nossa marca e até mesmo o retorno rápido do que foi investido”, ressalta Albano, que não hesita em afirmar que o “boom” da raça Brahman no Brasil ainda está por acontecer e será exatamente no momento em que os criadores puderem disponibilizar ao mercado um volume de animais da raça mais expressivo. “Na hora que popularizarmos o touro Brahman é que veremos a força produtiva desta raça, em uma pecuária como a nossa”, justifica.
Desempenho e produção de carne
Mas é na produção direta de carne que os irmãos Ferreira mostram todo o diferencial deste gado norte-americano. Na Fazenda Tropical, situada no município de Brasilândia, MS, cidade próxima ao Rio Paraná, 1.300 alqueires se destinam totalmente à pecuária. As pastagens são de brizanta e braquiária decumbens. Cerca de 1,5 mil matrizes estão na atividade de cria, sendo 700 aneloradas, 500 ½ sangue Brahman (uma parte é three cross de F1 Angus) e 300 ½ sangue Angus.
Em 2006, todas elas foram inseminadas exclusivamente com Brahman, sendo que as vazias receberam repasse em estação de monta que vai de outubro a dezembro de touros Brahman. O rebanho de matrizes aneloradas é reposto com fêmeas adquiridas de outros criatórios, mas também por ½ sangue Brahman. Em 2006, a propriedade engordou 1 mil animais em confinamento e 700 no pasto. Outros 800 garrotes estão em recria.
A desmama acontece aos sete meses de idade. Na temporada de 2006, os bezerros ½ sangue Brahman alcançaram peso de 250 kg, enquanto que os three cross 270 kg. Não houve sequer um único caso de problemas de parto. Valdionor de Jesus, administrador da Tropical, aqui faz uma ressalva: “apesar dos bezerros de cruzamento terminal desmamarem mais pesados, é preciso considerar que são animais com menor conversão alimentar, ou seja, comem mais. Aliás, cada fêmea F1 de Angus pesa quase 20% mais que as aneloradas ou mesmo ½ sangue Brahman e representam na lotação dos pastos algo em torno 1,2 animal”. Por isso, pelos números, uma tendência do sangue Angus reduzir sua participação no plantel como um todo.
Segundo Alexandre Ferreira, o desempenho da desmama permite até a possibilidade da produção de novilhos superprecoces. No entanto, a estratégia só será adotada em tempos mais favoráveis, de melhor remuneração. O confinamento é também uma ferramenta para baixar a lotação das pastagens e, por isso, preserva-las, no período da seca. Em 2006, a Tropical engordou em confinamento 1 mil machos, quase todos inteiros, sendo 207 de sangue Brahman.
Eles entraram para terminação com peso de 360 a 430 kg e idade oscilando entre 16 e 30 meses, para abate em dois turnos: 70 e 90 dias. Eles receberam 16 kg/animal/dia de cana-de-açúcar picada (lavoura própria), 3,7 kg/animal/dia de milho e farelo de algodão com sal mineral, e 2,9 kg/animal/dia de polpa cítrica.
Como resultado, estas 207 cabeças de sangue Brahman de um lote de 465 que entraram na unidade Marfrig de Bataguaçu, MS, alcançaram peso médio de abate de 17,4 arrobas, sendo todos de conformação regular e 85,5% com acabamento de gordura entre 2 e 3 mm, o que rendeu ao lote padrão de exportação de premiação de R$ 1,50 por arroba. Carlos Alberto Scheneidwinger, veterinário do frigorífico, foi enfático ao destacar que “os animais apresentavam padrão de qualidade para entrar em mercado europeu”, inclusive com padronização.
Este, aliás, para Alexandre Ferreira é um dos bons argumentos para se trabalhar com Brahman na produção direta de carne. “A raça demonstra grande capacidade de impor suas características no que diz respeito a tipo de carcaça, musculatura e potencial de desenvolvimento, o que permite padronização, algo exigido pelos principais frigoríficos do País”, explica.
Cria, recria e engorda a pasto
No trabalho a campo, os touros Brahman estão aptos à cobertura após os 30 meses, sem a exigência de qualquer suplementação, em estação de monta de 90 dias. Valdionor relata que eles caminham todo o tempo para o trabalho e alcançam 90% de eficiência no repasse para cada 30 fêmeas. Da mesma forma, as fêmeas são muito rústicas e estão prontas para a primeira gestação aos 18 meses, quando pesam entre 330 e 350 kg. Na mesma faixa etária, as ½ sangue Angus já estão com 410 kg.
As novilhas entram para estação de monta de outono de 45 dias de duração. O objetivo é identificar as melhores em vários itens, tais como fertilidade, índole e precocidade. Desta operação saem as fêmeas que farão a reposição do rebanho de matrizes. No ano seguinte, elas entram para a estação de monta normal: a de primavera/verão.
Valdionor explica a necessidade de se obter eficiência a partir de fêmeas que sejam capazes de desmamar bezerros com mais de 50% do seu peso vivo. Ele atenta para o fato de que as fêmeas ½ sangue Angus mostravam um percentual de descarte muito maior do que o das fêmeas ½ sangue Brahman, que superam as exigências com um grupo bem maior de animais.
Mesmo na engorda a pasto, destinada aos animais mais de fundo plantel, a resposta é mais positiva quando identificamos o sangue Brahman nas reses. Apesar do número restrito, eles saem do pasto com no máximo 36 meses, enquanto que o restante do grupo, de outras genéticas, apenas com suplementação mineral comum, pode superar em semanas e até meses esta idade.
Para Albano Ferreira, a raça se mostrou uma grande parceira da pecuária. “Não só encurtamos nosso ciclo, como encontramos inúmeras possibilidades de manipulação do manejo, em função da rusticidade versatilidade dos animais. Isso nos permite mudar sempre que a realidade exige intervenção para melhorarmos os números. É o que todo pecuarista procura em seu gado”, conclui.
A jornada Brahmista
O Brahman é uma raça originária dos Estados Unidos resultado do cruzamento de quatro importantes raças zebuínas: Nelore, Gir, Guzerá e Krishna Valley. Apesar de existir a mais de 100 anos, ela foi introduzida recentemente no Brasil, tendo sua primeira importação no ano de 1994. Em abril de 1993, o então presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu – ABCZ, Rômulo Kardec de Camargos e o também presidente da Associação Americana de Criadores de Brahman – ABBA, John Jefcoat, assinaram protocolo alterando a legislação vigente, visando facilitar o ingresso da raça Brahman no Brasil. A partir daí a raça mostrou constante crescimento, o que pode ser provado pelos dados estatísticos dos Registros Genealógicos de Nascimentos, assim também como os Definitivos fornecidos pela própria ABCZ.
Pecuaristas brasileiros tradicionais descobriram no gado Brahman um parceiro adequado para os cruzamentos e estão comemorando os primeiros resultados obtidos com a raça, uma das mais difundidas no mundo. Um time de peso, em pecuária de corte, foi buscar a melhor genética do mundo, principalmente nos Estados Unidos, Argentina, Colômbia e Paraguai, como é o caso da Fazenda Sant’Anna, de Jovelino Carvalho Mineiro Filho, que importou todo um plantel de um conceituado criatório paraguaio.
A capacidade do Brahman de tolerar altas temperaturas faz dele um animal de corte ideal para as áreas quentes e úmidas, principalmente por possuir pelagem curta, grossa e sedosa, o que reflete bem os raios de sol. Já a pele é solta e com pigmentação escura, o que contribui para sua tolerância ao calor. No frio, sua pele se contrai, aumentando a sua grossura e a densidade dos pêlos, que ficam mais longos e toscos. Sua cor clara é pouco atrativa aos insetos e a pelagem curta e grossa impede a penetração dos mesmos.
O bezerro Brahman pesa, em média 27 a 29 kg ao nascer, o que descartam as possibilidades de problemas no parto. Mas contribuem também os fatos de a vaca possuir uma grande área pélvica, bem como a cabeça e o ombro do bezerro não serem desproporcionalmente grandes ao nascer. O mesmo acontece com as fêmeas F1 híbridas do Brahman.
Uma marca da adaptação ambiental do Brahman está na sua capacidade de se reproduzir regularmente. As vacas parem um bezerro com bom potencial de crescimento todos os anos e os touros montam um número normal de vacas em uma determinada época, isto devido à alta tolerância do Brahman a temperaturas altas, onde acontece a maioria das estações de monta. Esta característica está estreitamente associada à sua capacidade de tolerar temperaturas altas. Por possuírem pigmentação escura ao redor dos olhos, praticamente não padecem de câncer do olho.
O Brahman, que é um sintético Bos Indicus (Zebu), não tem nenhum parentesco com o Bos Taurus, o que lhe proporciona uma vantagem notável no vigor híbrido, maior crescimento, eficiência de conversão alimentícia e produção de carne magra, ou seja, sem gordura entremeada. Aos 10 dias do mês de abril de 1993, na cidade de Londrina, PR, reuniram-se os criadores e demais pessoas ligadas à criação do gado da raça brahman, aproveitando o ensejo da realização da 33ª Exposição de Londrina, para constituírem uma sociedade destinada ao fomento e desenvolvimento da raça no País. Nasceu assim Associação Brasileira dos Criadores de Brahman – ABCB. Atualmente, seu presidente é Gabriel Prata Rezende.
Melhoramento
O Programa de Melhoramento Genético da Raça Brahman (PMGRB) teve início em fevereiro de 2001, em reunião realizada em Goiânia, entre os professores Cláudio Magnabosco, Roberto Sainz, Raysildo Lôbo (Presidente da ANCP), Ovídio Carlos Miranda de Brito Filho e Ovídio Carlos Miranda de Brito (Presidente da ACBB), com o objetivo de promover o melhoramento da raça, com vistas à maior produtividade.
Em julho de 2001, por iniciativa de Antônio Prata (Tonico) foi realizada reunião na fazenda Brumado com a presença de criadores, dentre eles o Jovelino Carvalho Mineiro Filho, ficando acordado que a Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP) realizaria levantamento de rebanhos interessados, para posterior coleta de dados, com o objetivo de gerar a Avaliação Genética da Raça Brahman.
Em fevereiro de 2002, assumindo a presidência da Associação dos Criadores de Brahman do Brasil (ACBB), Jovelino Carvalho Mineiro Filho criou o Conselho Técnico, constituído por professores da USP, UNESP e criadores, com o objetivo de implementar o PMGRB. Em reunião de Diretoria, realizada em Uberaba em maio de 2002, Jovelino priorizou a criação do PMGRB, como oficial da ACBB e a equipe técnica da ANCP como responsável pelo recebimento, processamento e consistência dos dados. A avaliação genética ficará a cargo dos geneticistas da USP e da UNESP.
As análises estatísticas e genéticas são efetuadas pela metodologia conhecida como Melhores Preditores Lineares não Viciados (BLUP), que envolve a construção e solução de equações para cada grupo de contemporâneos, conjuntamente a uma equação para cada animal avaliado. As DEP’s preditas consideram todas as informações disponíveis, incluindo o desempenho do próprio animal, de sua progênie e de todos os seus parentes.
Para a obtenção dos preditores BLUP todas as informações de parentesco entre os animais são utilizadas, sendo que essas relações formam uma matriz de parentesco que facilita o uso das informações provenientes dos parentes, promovendo maior conectabilidade entre os grupos de contemporâneos. A matriz de parentesco, possibilita também, a ligação entre gerações através de genes comuns, garantindo assim a comparação entre animais jovens e velhos de gerações diferentes.