Ela tem sangue africano e chegou ao Brasil na década de 70. Pode atingir 60 cm e se reproduzir com facilidade. Perdendo apenas para a carpa, a tilápia é a segunda espécie mais cultivada no planeta e, por ser rústica e saborosa, torna-se lucrativa e chama a atenção de muitos piscicultores.
Embora se adapte melhor a climas quentes, a tilápia tolera grandes variações de temperatura. “É um peixe versátil. Conseguimos criá-la em regiões frias ou com temperaturas elevadas”, diz o presidente da ABRACOA (Associação Brasileira dos Criadores de Organismos Aquáticos), Wagner Camis. Segundo ele, esta espécie cresce rápido e resiste a baixos teores de oxigênio dissolvido na água. Além disso, a tilápia possui um sabor suave e contém baixo teor de gordura.
Com uma das mais importantes cadeias produtivas da aquicultura brasileira, a tilápia rompe as fronteiras e invade o exterior. Os Estados Unidos saem na frente e conquistam o título de maiores compradores. “O mercado internacional tem se mostrado aberto a este produto brasileiro.
A qualidade e o preço são fatores que auxiliam a venda”, diz Camis. De acordo com ele, o Brasil possui uma grande vantagem em relação a outros países. “Ofertamos este produto fresco ao passo que a China fornece este peixe congelado. Nosso produto acaba tendo um valor final melhor do que o chinês”, conta. O preço médio de exportação gira em torno de 7 dólares o quilo.
Para Camis o Brasil deve exportar cerca de 3 mil toneladas de filé até o final do ano. “Está faltando produção para que se exporte mais”, afirma o zootecnista. Ele, e seu parceiro Jorge Meneses, produzem 100 mil quilos de tilápia por ano. “Estamos em um processo de expansão. Pretendemos chegar a 200 mil quilos/ano”, revela. Para ele a tilápia tem grande chance de se tornar a primeira espécie mais cultivada no mundo.
A pele da tilápia é valorizada no Brasil, entretanto, encontra no mercado internacional maior espaço. O processo de curtimento permite transformar a pele em couro cujo metro quadrado pode ser vendido em torno de 70 dólares.
De acordo com o presidente da AB-Tilápia (Associação Brasileira Ind. de Processamento de Tilápia), Tito Livio Capobianco, o quilo deste peixe vivo gira em torno de R$ 2,20 a R$ 3,20. “Tudo depende de quem está comprando e da localidade do cultivo. Se o comprador for uma indústria, pagará valores mais baixos. Se for um pesque-pague gastará um pouco mais”, explica. Segundo Capobianco, o filé de tilápia de cativeiro está sendo vendido atualmente a partir de R$ 14,00/quilo. “O custo de produção é inferior ao de venda”, conta. Os tipos mais cultivados são as tilápias do Nilo, as tailandesas e as vermelhas.
A arte de tilapiar
A compra de alevinos é uma regra primordial para quem deseja começar uma criação de tilápias. Um milheiro destes peixes jovens sai aproximadamente R$ 100,00. Normalmente chegam com 1,5 cm e pesam em média 1(um) grama. Criados, primeiramente, em tanques escavados, os alevinos recebem uma ração que define o sexo que irão ter.
Os sistemas de criação são simples e, basicamente, se dividem em 3 categorias: extensivo, semi-intensivo e super-intensivo. O perfil e as condições da propriedade anexados ao objetivo do criador implicam na escolha do método a ser adotado.
O extensivo pode ser o mais lucrativo, no entanto, nem sempre o melhor. “A margem de lucro é maior, entretanto, o ganho de capital muitas vezes não se torna compatível com a pretensão do proprietário”, fala o presidente da ABRACOA. Este sistema é realizado em açudes e o crescimento dos peixes depende do alimento disponível na natureza.
O semi-intensivo adota viveiros escavados e é necessário que os cultivadores dêem não só alimentos naturais, como também, ração. Geralmente, neste método, os alevinos atingem aproximadamente 500 g em 8 meses. Por meio deste sistema é possível tanto controlar a temperatura e a entrada e saída de água como o nível de peixamento.
O super-intensivo pode ser executado em tanques-rede em que os peixes já são estocados com um peso médio de 50 g. Ao contrário do semi-intensivo, eles podem chegar a 500 g em apenas 4 meses. Algumas espécies de tilápia são muito resistentes e, portanto, podem ser criadas em águas doce ou salgada. O controle do dia-a-dia desta atividade torna-se mais rigoroso assim como é maior a produtividade por metro cúbico. “Se eu produzir em 10 mil metros quadrados extensivamente, a produção vai girar na ordem de 50 mil quilos por hectare”, fala Camis. De acordo com ele, a mesma situação em sistema semi-intensivo renderia 10 mil quilos por hectare.
Milhares de criadores preferem os tanques-rede como forma de cultivo. Este sistema de gaiolas flutuantes pode ser executado tanto em açudes como em rios ou lagos. Por haver uma intensa renovação de água dentro dos tanques, a produtividade dos peixes aumenta. Os tanques-rede exigem cuidados não só com a escolha das espécies, mas também, com a água. “O nível de oxigênio, a transparência e a temperatura da água são de alta importância”, alerta Wagner Camis. A transparência da água deve ser de 35 a 50 centímetros. As temperaturas inferiores a 20 graus afetam o bom desenvolvimento das tilápias.
Em relação aos alevinos, Camis diz que ficam em tanques de concreto até atingirem 12 gramas. “Depois vão para estruturas de tanques-rede onde recebem ração com 36% de proteína. Permanecem lá até obterem 30 gramas”, explica. Após este processo os alevinos são diluídos em estocagem final em torno de 1300 unidades por tanques-rede de 6 metros cúbicos. “E recebem uma ração com 32% de proteína”, completa. Para ele, é possível produzir 600 quilos por safra em 6 metros cúbicos. Para Capobianco, o peso ideal para o abate varia de acordo com o cliente final. “Basicamente é de 600 g a 1 quilo”, diz.
No limite
Por se reproduzirem em alta velocidade e quantidade, a criação de tilápias em tanques escavados gera um problema conhecido como superpopulação. De acordo com a pesquisadora do Instituto de Pesca, SP, Maria Aparecida Guimarães Ribeiro, o ideal é trabalhar ou com tilápias do sexo feminino ou masculino. “Para reverter o problema de superpopulação é necessário efetuar o processo de reversão sexual”, diz. Segundo ela, a reversão pode ser feita em laboratórios. Os ovos fecundados são retirados da boca da fêmea e colocados em incubadoras. “Depois recebem hormônio masculino na água”, completa. Outra forma de se reverter o sexo destes peixes é adicionar hormônios masculinos na ração.
O presidente da ABRACOA afirma que a superpopulação afeta a estabilidade do peixe. “Falta comida e oxigênio”, diz. Ele revela que este problema ocorre, pois geralmente os produtores ou adquirem alevinos sem origem comprovada ou compram peixes jovens sem serem sexados. O manejo reprodutivo inadequado é um outro fator comum que causa a desestabilidade. “Nossos alevinos passam por um processo de tratamento hormonal. Cerca de 98% dos alevivos são machos. Desta forma diminuímos o aumento populacional”, explica.
A superpopulação é uma realidade que causa a distribuição insuficiente de ração para todos os peixes, problemas de manejo e despadronização do lote. É como, segundo Camis, preparar uma festa para 60 pessoas sendo que há, em sua casa, o dobro do que foi esperado.
Raio “X” da Tilápia
* A Tilápia é originária da África, Jordânia e Israel, tendo sido introduzida no Brasil na década de 70;
* É da família dos Ciclídeos;
* Convive bem com outras espécies;
* Pode chegar até 60 cm;
* Modo de reprodução: ovíparo. Cuida bem da prole;
* Reproduz-se facilmente;
* Alimentação: pedaços de camarão, alimento floculado, larvas, minhocas;
* Suportam ambientes diversos;
* Toleram grandes variações de temperatura e baixos teores de oxigênio dissolvido na água;
* Adapta-se melhor ao clima quente;
* A cadeia produtiva da tilápia é considerada uma das mais importantes da aquicultura brasileira;
* Os tipos mais cultivados são: tilápia do Nilo, tilápia vermelha e a chitralada ou tailandesa;