O fato é que nos últimos dois anos verifica-se uma diminuição gradativa, por parte do agricultor brasileiro, no uso de algumas dessas tecnologias. Umas mais outras menos, mas, a verdade é que o produtor está deixando de usar alguns insumos básicos como adubos e defensivos agrícolas, ou, quando não, usando em menor quantidade.
Muitos especialistas alegam que a dificuldade de acesso a essas inovações tecnológicas se deve, primeiro ao cobertor curto do governo para investir no setor de produção e segundo a burocracia que toma conta do sistema financeiro, responsável pela liberação de crédito, problema que atinge tanto pequenos como grandes produtores rurais.
Diante dessa realidade fica a pergunta: Qual é o melhor caminho para o produtor rural ter acesso às novas tecnologias? Segundo Antônio Marcio Buainan, especialista em economia agrícola e pesquisador da Unicamp antes de fazer essa pergunta é importante levar em consideração que, apesar da quantidade de novas tecnologias, muitas delas mirabolantes, que aumentam a produtividade e reduzem os custos fixos do agricultor, a estrutura agrária brasileira, ainda é muito concentrada.
Buainan chama a atenção para o fato de que, dos 4,6 milhões de agricultores brasileiros, 95% serem de base familiar, com pouca terra e acesso limitado ao crédito, conhecimento e tecnologias. Na opinião do pesquisador talvez esse distanciamento entre pequenos e grandes agricultores explique o, porquê, dos avanços tecnológicos, na sua maioria, se mostrarem uma realidade tão distante da maioria dos produtores rurais. Outro ponto que o professor destaca é que tecnologia custa dinheiro, e dinheiro no Brasil é um dos artigos mais caros atualmente a venda.
Um terceiro fator que, segundo o especialista, desencoraja o produtor rural brasileiro à fazer novos investimentos é a falta de confiança no futuro. “A conjuntura desfavorável cria uma aura de pessimismo no ar e por conta disso o produtor se retrai para compra de novas tecnologias em sementes, adubos, defensivos e por aí vai”, fala.
Plano de custeio mostra números controversos
Uma análise dos dados referentes à participação do governo federal no custeio da produção agrícola brasileira atesta essa afirmação anterior, na medida que mostra uma situação paradoxal nos números referentes à quantidade de capital disponibilizados e a real necessidade do setor. As estatísticas que mostram apenas o montante de verba disponibilizada para custeio da safra, nos últimos dez anos, sinaliza, para uma evolução no crédito rural brasileiro. Entre o período 1997/98 até meados de 2001/02, excluindo a verba destinada ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), o montante oscilou entre R$ 13,8 bilhões e R$ 14,4 bilhões. Depois da virada do século, esse número praticamente dobrou, passando para R$ 22,0 bilhões e, daí para frente, não parou mais de crescer. O último orçamento referente a safra 2005/06, fechou com montante de R$ 44,35 bilhões, dados Associação Brasileira de Agribusiness (Abag).
Este cenário pó si atesta uma participação crescente do governo federal no pagamento da safra agrícola brasileira. Agora, é só dar uma olhada nos números que mostram a quantidade de reais investidos pelo governo, proporcional ao número de hectare de área cultivada, que esse quadro sofre uma inversão. O gráfico mostra uma diminuição gradativa na participação do estado brasileiro na liberação desses recursos. Em 1994/05, por exemplo, para cada hectare de lavoura plantada, o governo subsidiava R$ 2,28, com recursos da união. Esse valor chegou atingir picos em 1996/97 de até R$ 3,85, o que estaria ótimo para a atual realidade, na avaliação dos especialistas de mercado, pois, elevaria montante atual, por quase quatro vezes, para R$ 174,2 bi. Um sonho, diz Eduardo Daher, diretor da Associação Brasileira para Difusão de Adubos (ANDA), considerando que na safra deste ano essa quantia não passou de R$ 0,98 centavos.
Segundo Daher esse dinheiro do governo a juros de 8,75% ao ano é maravilhoso. O problema está nos limites prefixados pelo governo para sua aquisição. O valor da última safra era de R$ 70 mil/CPF, valor que, sozinho, é suficiente apenas para atender projetos de agricultura familiar. Jônadam Ma, diretor executivo do Grupo Ma Shou Tao, de Uberaba, MG, explica que este ano, só com a lavoura de soja ele movimentou mais de R$ 1,2 milhão. Iss por causa das três aplicações de fungicidas usados contra ferrugem asiática. Além disso, o produtor cultiva milho, algodão e cana-de-açúcar, num total de 3,5 mil hectares. Segundo ele, o mix de juros do grupo Ma Shou Tao ficou próximo de 16%.
Para o representante da ANDA, com uma taxa Selic de 15,75%, o mix de juros conseguido pelas fazendas brasileiras oscila entre 12% e 14%. Isso, aliado ao alto endividamento do produtor, está criando uma situação de medo no campo para contrair novas dividas. Da parte da indústria a confiabilidade vai se pautar em crédito, cautela e cadastro, ele diz. Além disso, a oferta de insumos como adubos, defensivos, herbicidas máquinas e implementos vai se ajustar muito ao tamanho da demanda. Nesse embate que deve figurar como mediados é o governo que já começou a injetar dinheiro no mercado com a liberação dos primeiros R$ 6 bilhões, para ações emergenciais.
Segundo o diretor da ANDA, a saída tem sido o produtor buscar a verba para complementar seus gastos com fontes privadas como tradings e fabricantes de insumos, na maioria, multinacionais, que trabalham no sistema de troca. Jônadam Ma, que também disse usar empréstimos privados para pagar suas contas, mostra que o problema está na relação cambial desfavorável para o produtor rural que fez o financiamento para compra de máquinas e outros insumos quando o dólar estava cotado à R$ 2,60. Hoje, esse mesmo produtor está tendo que entregar em produto o equivalente ao mesmo montante negociado com um dólar à R$ 2,15, “muita gente vai entregar toda sua produção e ainda ficar devendo”, conclui.
Do montante de R$ 120,0 bilhões, disponibilizados para o agronegócio para pagar as custas da produção, na safra 2005/06, 40% vieram do Conselho Monetário Nacional, (CMN). Uma outra parcela, também de 40%, é formada por investimentos próprios de produtores capitalizados e os outros 20% é de participação das empresas de insumos que praticam, venda direta por meio das revendas ou mesmo, em grandes projetos, negociam direto com o produtor.
Para José Manuel Arana, diretor de Marketing da Dow Agrociences o maior gargalo que limita o crédito no mercado é que o Brasil só possui uma cultura que tem seu preço atrelado ao dólar. Segundo ele, uma bolsa de commodities nos moldes de Chicago (EUA), que garanta liquidez aos produtos oriundos da produção agrícola daria maior segurança nas transações futuras. “As empresas precisam de garantias quanto ao recebimento dos créditos advindos de suas relações”, destaca o representante da empresa de defensivos, mostrando que hoje no Brasil, isso só é possível com a soja.
Arana mostra ainda que os créditos subsidiados via cooperativas, representam cerca de 15% dos negócios da empresa, além das vendas diretas, via revendas, com critérios para obtenção, e venda particular para grandes projetos de agricultura, na grande maioria de cana-de-açúcar. Dados da Associação Nacional de Defesa Vegetal mostram que a indústria de defensivos agrícolas vende US$ 4 bilhões de dólares por ano no Brasil, sendo que do total 10% é venda à vista. Segundo o diretor da Dow esse número mostra que a situação que está sendo mostrada de que a agricultura está falida, não é de todo verdadeira. Arana sita alguns exemplos de culturas que, nos últimos anos, vêem apresentando altos índices de lucratividade e por conseqüência adquirem todo tipo de tecnologia. Entre elas, ele destaca a cana-de-açúcar, café, citrus e batata. “São segmentos que estão vivendo situação alheia à crise e por isso não param de fazer planos e apresentar projetos”, diz.