Os agricultores de soja esperam para 2006 um acréscimo de 15% na produção – um volume de 58,741 milhões de toneladas frente a 51,090 milhões de toneladas colhidas em 2005. A área plantada ou a plantar deve ter um decréscimo de 6,39% no próximo ano (previsão de 21,905 milhões de hectares), enquanto a produtividade apresentará um incremento em torno de 20% (2.743 kg/ ha).
De acordo com os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), divulgados no mês de abril, a divisão da produção por grandes regiões deve ser a seguinte:
Norte, 1.310 milhões de toneladas (-2,65%); Nordeste, 3.871 milhões de toneladas (-2,19%); Sudeste, 4.683 milhões de toneladas (-0,96%); Sul, 19.668 milhões de toneladas (57%); e Centro Oeste, 29.209 milhões de toneladas (2,34%). Os acréscimos para a região Sul revelam uma recuperação dos índices de produtividade, que foram bastante atingidos pela seca de 2005.
A produtividade no Rio Grande do Sul deve ir dos 655 kg/ ha de 2005 para 1.804 kg/ ha em 2006. Os demais Estados, como o Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul deverão apresentar, no próximo ano, respectivamente, produtividades 30%, 52% e 53% maiores.
O crescimento na produção de soja previsto para 2006 vem basicamente desses Estados, onde as condições climáticas foram muito severas para a cultura na safra de 2005. Os outros importantes produtores de soja, como o Mato Grosso, Goiás e Bahia devem apresentar redução em suas estimativas para 2006, em decorrência dos preços baixos, descapitalização dos produtores, desvalorização cambial, entre outros fatores.
Os dados divulgados pelo IBGE da safra de 2006 mostram, que além da necessidade de mais atenção à soja para valores comerciais, é preciso diante da crise reforçar ainda mais a necessidade de conduzir as lavouras de forma racional, visando a obtenção da maior produtividade, com os menores custos de produção.
Com tudo isto, apontam os pesquisadores da área, é preciso que o agricultor fique atento para a escolha criteriosa das cultivares, levando em conta suas características, como o potencial de rendimento e, principalmente, a resistência às doenças. Sabe-se que existem grandes diferenças nos níveis de resistência das cultivares, principalmente em relação à ferrugem da folha. A escolha correta das cultivares em função do clima e do solo de cada região e o manejo adequado para cada uma delas, serão de fundamental importância, principalmente em um cenário de estreita margem de lucro.
Em outras palavras, dizem os pesquisadores, a escolha da variedade e época da semeadura irá determinar o sucesso ou fracasso, lembrando que dentro de uma mesma região, dependendo da época do plantio, terão grande influência o tipo de cultivar, o ciclo e tolerâncias às doenças. A condição climática para a cultura de safrinha, por exemplo, difere das de verão, onde a temperatura, radiação solar e disponibilidade de água são decrescentes, conduzindo a planta a uma situação de estresse, influindo na decisão de qual cultivar ou tipo a ser semeado.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Soja, Lineu Alberto Domit existem outras considerações importantes quanto à escolha do cultivar. “Estas escolhas tem que incluir além de outras especificações o histórico da área; um fator importante na regra decisória para plantio, pois dependendo do seu potencial produtivo (terras fracas ou boas) irá depender a escolha dos cultivares e do nível tecnológico a aplicar. Também a cultura anterior terá grande influencia na produtividade da soja, principalmente em regiões onde há cultivares de safrinha, por isso, o ideal é ter um planejamento estratégico de rotação de cultura. As condições climáticas também são indispensáveis nesta época que há muita instabilidade”, conclui o pesquisador.
Na maioria das regiões Centro Oeste do Brasil, de clima mais definido, a escolha do cultivar deve recair sobre cultivares mais precoce. Já em regiões intermediárias, aponta o pesquisador, parte do sul do Brasil, por exemplo, com um clima irregular para a cultura de soja a escolha das variedades com estabilidade e adaptação mais ampla é o recomendável. A época de plantio também influenciará na produtividade, pois a cultura de soja está diretamente relacionada com a temperatura, assim como os tipos de cultivares e a diversificação. “Das cultivares a serem utilizadas, tanto no tipo e ciclo bem como o nível de tecnologia a ser aplicado, também é fator fundamental na escolha da cultivar, temos que ter sempre em consideração o retorno econômico”, ressalta.
Segundo o pesquisador da Embrapa Soja, o produtor ainda “peca” muito na hora de adquirir as cultivar, e principalmente, quando o assunto são as doenças, além de outros fatores. “A questão doenças é de maior conhecimento do produtor e também consta nas publicações e nas palestras dos dias de campo. A questão dos sistemas de produção está diretamente relacionada com a região, a exemplo disso é a região centro e sul do Paraná que não cultiva o milho safrinha e com isso não tem necessidade de iniciar o plantio mais cedo. Acredito que todos os itens são importantes e o bom agricultor tem de estar atento a todos eles. Lembrar que o item principal é conhecer bem a sua propriedade e com essas informações fazer um bom planejamento de uso dela. Nesse momento, temos que escolher a variedade que melhor se adapte possibilitando maior renda. Além disso, consultar a assistência técnica regional ou local e fundamental para evitar erros”, conta o pesquisador.
De acordo com o Lineu Domit, com mais informações (palestras, resultados de Unidades demonstrativas, observações nos vizinhos) são maiores as possibilidades de acertar e obter melhores resultados (rentabilidade). Outra questão que deve ser observada e a qualidade da semente adquirida, por isso é importante adquiri-la de revendedores conhecidos e adquirir somente cultivares testadas na região.
“O produtor precisa utilizar uma mesma cultivar pelo menos por um período de dois anos para ver a sua produtividade. Só assim, terá certeza se há necessidade de uma mudança na escolha. Hoje, todos os produtores tem acesso às informações através de palestras, resultados de Unidades demonstrativas, observações nos vizinhos e também tem facilidade de consultar um assistente técnico de sua confiança. A dificuldade maior é do pequeno agricultor que depende de aluguel de equipamentos de plantio e colheita e muitas vezes não pode executar o planejamento pretendido”, conta o pesquisador.
Novas Cultivares
A Embrapa Soja, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, está apresentando 23 cultivares de soja, safra 2006. Pela primeira vez, estão sendo apresentados oito cultivares de soja RR desenvolvidas pela Embrapa. São elas: a BRS 256 RR, BRS 247 RR, BRS 244 RR, BRS 243 RR, BRS 255 RR, BRS 246 RR, BRS 245 RR e BRS 242 RR. “São variedades de ampla adaptação e altamente produtivas. Mas o agricultor precisa se lembrar que o transgênico é mais uma alternativa tecnológica e não uma solução milagrosa. A escolha entre o transgênico e o convencional vai depender de variáveis como mercado, características e na origem das cultivares e, principalmente, nas condições da lavoura”, explica o pesquisador Lineu Domit, da Embrapa Soja.
Para o agricultor que adota o sistema produtivo convencional, a Embrapa está apresentando 15 cultivares, sendo duas delas específicas para consumo humano. As cultivares BRS 257 e BRS 213 têm sabor suave, devido ao baixo teor de lipoxigenase (enzima responsável pelo gosto de feijão cru da soja). Cinco cultivares de soja convencionais também estão sendo demonstradas na área de agricultura orgânica: BRS 257, BRS 232, BRS 258, BRS 213, BRS 230.