Sair do lugar-comum e deixar o comodismo de lado. É deste jeito que a CRV Lagoa, empresa com mais de 50 anos de existência no mundo, está tratando seus negócios desde que a nova diretoria assumiu a empresa no Brasil. Comandada desde março pelo holandês Rudi den Hartog, a companhia tem realizado mudanças em sua equipe interna, onde 25 novos especialistas foram contratados. “Também estamos revendo nosso portfólio, e recentemente adquirimos diversos touros em leilões, num valor de três milhões de reais”, declara o presidente. A ideia é ampliar o portfólio de Nelore e Angus, contratando mais animais vindos dos Estados Unidos. “Com isso queremos voltar a ser número um no Brasil”.
Com as novas aquisições animais, o executivo conta que os produtores já estão perguntando sobre o que de novo em materiais genéticos a empresa tem, a fim de fazer parte da carteira de clientes. “Isso é um demonstrativo de resultado destas mudanças que estão sendo realizadas”.
Segundo Hartog, a necessidade de reformulação se deu porque nos últimos anos a empresa estava perdendo participação no mercado em termos de vendas, e com a entrada de outros concorrentes, oriundos principalmente dos EUA e Canadá, foi sentida a necessidade de voltar a ser protagonista na pecuária. “Foi a partir daí que nossa diretoria global decidiu investir no Brasil”, diz.
Com as transformações em prática, os resultados já começam a aparecer, e o presidente revela que nos últimos seis meses a CRV cresceu na faixa de 7 a 10%. “O Brasil na parte de inseminação artificial está crescendo 17%, e a nossa meta em um ano é chegar a 20%. Para isso acontecer, considero nossos consultores figuras centrais, e por isso estamos os capacitando mais para que em cada região se trabalhe o segmento mais indicado”, declara. Para ele, é preciso sair da zona de conforto para mostrar um novo caminho para os pecuaristas e ajudá-los a crescer. “O produtor se preocupa com a parte genética, então precisamos estar preparados para o suporte, com uma equipe forte e treinada”.
Estratégias e ambições
Dentro das diretrizes deste novo momento, atualmente a CRV conta com cerca de 110 funcionários, e está em busca de uma nova sede que se enquadre nas novas estratégias da companhia. Em sua central, localizada em Botucatu, interior de SP, a empresa possui aproximadamente 450 touros em produção. Além disso, os atuais dados apontam que a empresa realiza a venda de dois milhões de doses anualmente, número que deve ser batido já em 2020. “A meta para o fim do ano que vem é chegar a três milhões”. Com isso, o crescimento será de mais de 30%, o que é considerado grande, mas possível pela diretoria. “O mercado de Nelore está crescendo 28% neste momento, então temos um desafio pela frente para atingir a meta”, declara Hartog.
Para atingir esse crescimento, o executivo comenta que há fatores positivos e negativos que podem surgir pelo caminho e que a companhia deve estar preparada para o que vier. “Costumo dizer que o Brasil é campeão em deixar algo acontecer, como foi o episódio da carne fraca, por exemplo, que atrapalhou a exportação. Mas, creio que o setor em si é autossuficiente para nos ajudar nesse crescimento projetado”. Uma outra estratégia que a CRV já está adotando é a de se aproximar da nova geração de pecuaristas que tem surgido pelas fazendas brasileiras. “Esta é uma grande diferença do Brasil para os EUA. Lá os produtores são mais velhos, com média de idade em 80 anos e sem sucessores. Já aqui, os jovens estão mais estudados e preparados para assumir os negócios, e cabe a nós saber conversar nesta nova linguagem”, declara o presidente.
A nova era do Paint
Um dos principais e mais reconhecidos programas da CRV Lagoa, o Paint recentemente completou 25 anos, e dentro da reformulação que a companhia passa, uma novidade também recai sobre ele, em busca de mais 25 anos de sucesso. “Ao discutirmos com os participantes como serão as próximas décadas, nasceu a ideia do Paint ter uma associação, e assim foi feito”, revela Hartog.
Wellington Bino, pecuarista e presidente da Associação Paint, diz que a ideia foi bem aceita logo de cara pelos participantes do programa, e que o trabalho será realizado com independência, porém, contando ainda com a ajuda da CRV. “O Paint conta com 66 parceiros no Brasil, Bolívia e Paraguai, que ao todo tem 60 mil vacas, e a maioria dos parceiros vieram para a associação, com exceção dos que saíram da atividade por motivos particulares”, declara.
O projeto para 2020 é fazer a associação mais forte, buscando a aproximação com os clientes dos associados, que são as pessoas que de fato compram a genética, o sêmen de um animal identificado pela associação, coletado na Lagoa e distribuído no mercado. “O universo destas 60 mil vacas produzindo genética via sêmen ou via touro atinge um número próximo a 500 mil animais”.
Também faz parte dos planos trazer empresas de nutrição, sanidade, frigoríficos, entre outros, para dentro da associação, com o intuito de avaliar animais de genética superior. “Assim, ligamos elo produtivo e avaliamos juntos as necessidades do mercado. O foco é unificar o grupo produtivo e dar respaldo”, declara. Para Bino, entender o ponto de vista de todas as partes é o caminho para o bem do melhoramento genético.
Com a “bagagem” de duas décadas e meia de existência, o programa visa ainda identificar as melhores matrizes do mercado, uma vez que apenas 20% do universo de 60 mil animais viram candidatos a touros. “Então 20% do que é trabalhado, de fato é para a produção de carne. Assim, ter um animal diferenciado vai significar mais ganhos pelo frigorífico, seja ele um Nelore, ou um cruzamento”, diz Bino. Ele reforça que ideia é andar em paralelo, pois acha que o cruzamento é uma ótima ferramenta, mas que é preciso ter uma base de matrizes Nelore. “O programa de melhoramento identifica os animais superiores e cabe às centrais contratá-los”.
Para o presidente da associação isso tudo vai de encontro com a necessidade de aumentar a quantidade de carne produzida por hectare, pois não adianta ter boa qualidade no alimento produzido se os animais são de baixa eficiência, e geneticamente não superiores. “Se ele tem melhoramento genético, vai produzir mais arrobas em menos tempo, e em uma área que se manteria um determinado número de animais, se terá mais, pois o ciclo passa a ser mais curto”, diz. Dessa forma, segundo Bino, o Brasil tem condição de produzir mais carne nas mesmas áreas, ligando nutrição à genética. “Uma coisa não anda separada da outra, e por isso a ideia da associação é juntar todos os elos para um trabalho em conjunto”.
Com o crescimento populacional e a demanda por mais alimento, o cenário mundial aponta para o Brasil como referência em ter maior produção de carne de qualidade, e em cima disso, o executivo vê uma boa chance de conseguir mais associados para o Paint. “Queremos que pecuaristas que ainda não conhecem ou não fazem parte de nenhum programa de melhoramento genético, busquem eficiência em seus rebanhos contando com a nossa ajuda”, declara. Para Bino, tal busca tem que ser realizada em período integral, uma vez que o melhoramento genético é consolidado no Brasil, e os pecuaristas entendem que é preciso fazer, mesmo que isso não signifique que estão aplicando. “O Brasil é celeiro do mundo, temos a condição de suprir a demanda mundial e o pecuarista precisa se envolver mais nisso”.