O Brasil é uma potência no agronegócio e está desenvolvendo aos poucos sua vocação para a produção de frutas, principalmente no mercado externo. O País já adquiriu um status importante no setor e hoje é um dos maiores produtores do mundo de frutas com números nada desprezíveis. Mas engana-se quem pensa que estas ações estão sendo feitas somente por grandes produtores.
Cidades pequenas e pequenos produtores estão contribuindo, e muito, para cada número contabilizado no setor de exportação da fruticultura. Situada a 90 km de São Paulo, o município de Valinhos, localizado na região metropolitana de Campinas, tem conquistado o paladar, principalmente dos europeus com suas frutas. As principais culturas desenvolvidas no município, e que tem um destaque especial, são os de figo roxo e a goiaba, mas a pêra japonesa e a uva também vêm ganhando espaço.
Mas, o que explica o sucesso da fruticultura no município? Os produtores afirmam: é o clima, a região e a terra abençoada. Hoje, Valinhos também faz parte do pólo turístico do circuito das frutas, que integra as cidades de Vinhedo, Itatiba, Jundiaí, Jarinu, Morungaba, Indaiatuba, Louveira e Itupeva. Outra prova da força de Valinhos é a união dos pequenos produtores. Há aproximadamente seis anos, com a formação de uma associação – hoje denominada – Associação Agrícola de Valinhos e Região, eles se fortaleceram para encontrar alguns caminhos alternativos para melhorar a produção, ganhar mais lucro, diminuir os custos e viabilizar a comercialização.
No Sítio Kusakariba, propriedade de Teruo Kusakariba, a sua parceria com a associação trouxe os técnicos agrícolas que acompanham com freqüência sua produção. “Contamos hoje com o apoio dos técnicos especializados da CATI – Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, entidade ligada a Secretaria de Estado da Agricultura de São Paulo”, argumenta.
Para o produtor, que destina grande parte de suas terras para o cultivo de goiaba, pêra japonesa, ceriguela, na verdade, a Associação Agrícola surgiu como uma forma de tentar reunir os pequenos fruticultores da região para torná-los um grande produtor, principalmente no momento da comercialização. “Mas, nas vendas, até o momento não tivemos êxito, cada um vende o seu produto da sua maneira, porém para a compra de insumos, como defensivos e embalagens, tivemos uma grande economia. Como todos compram juntos, conseguimos um grande abatimento no preço, isto se reverte, é claro, em lucro”, revela.
Lucro que Kusakariba espera obter neste ano, principalmente na sua maior cultura, a de goiaba. “Ao contrário do ano passado, por causa das chuvas, espero colher nesta safra aproximadamente 80 mil caixas de goiaba”, diz. Dos 1.300 pés, sendo 1.000 de goiaba vermelha e 300 de goiaba branca, o produtor agora aposta em uma variedade de goiaba diferenciada, mais cremosa e mais doce.
Desenvolvida pela própria família, o produtor já entrega para o mercado uma fruta, que chega a pesar um quilo. “A saída do pequeno produtor é ver o que o mercado esta pedido e, muitas vezes numa pequena área é possível conseguir bons resultados fazendo boas parcerias. Hoje, com os investimentos, o custo de produção aumentou bastante e o preço não tem ajudado os pequenos produtores”, comenta.
Agroturismo
Com a Associação, os produtores de Valinhos também estão agregando valores na produção, além das frutas saírem direto para a comercialização (parte que ele ainda faz sem a ajuda da Associação), o seu Sítio, graças a esta parceria, faz hoje parte do roteiro do Agroturismo do município.
“Ao contrário do produtor encontrar o cliente, aqui, são eles que procuram as propriedades. E o resultado é excelente. Depois disto, partimos até para a fabricação de alguns doces caseiros, como goiabada cascão, geléia, doces cristalizados. Tudo a pedido dos turistas. Isto ajudou, e muito, no rendimento familiar”, confessa. De acordo com o produtor, depois deste programa, os lucros subiram em torno de 35%. “Os turistas vem conhecer a cultura da goiaba, entende todo o processo e passa a dar mais valor na fruta e no produtor”, conta.
Mas ele não é o único, dentro do roteiro do Agroturismo a Chácara Boa Esperança é a mais aguardada pelos turistas. Nos dois alqueires e meio, onde estão os pés de uva niagara rosada e uva niagara branca, Mario Scabello, de 64 anos, confessa que já conseguiu muito lucro com a uva. “Na safra anterior foram 12 mil caixas de uvas”, conta. Ele também é um dos associados e confessa que com a participação a realidade mudou: “Sozinho não conseguiríamos nada. Uma andorinha só, não faz verão”. Mario vê a associação com bons olhos. “Tivemos uma redução no preço na compra de insumos é isto barateou a produção, que, aliás, conta hoje com as goiabas e figos a pedido dos turistas”, diz. Atualmente, a vedete do produtor não são mais as uvas, mas uma adega. Agregando valor ao produto, ele conseguiu transformar o espaço da chácara em um lugar onde comercializa licores, vinhos, e a “grappa” (um aguardente de uva). Uma produção feita pela própria família. “Consegui aumentar a renda da propriedade em pouco tempo e até comprei uma caminhonete, só com o lucro da adega”, conta satisfeito.
Agora, Mario já pensa em aumentar o local e construir quiosques para receber melhor os turistas. “O agroturismo e a associação melhorou bastante a vida dos produtores. Com o turismo foi possível divulgar melhor o nosso produto, as nossas frutas e produzir melhor”.
Já para Luiz Roberto Bodrin, proprietário da Chácara Califórnia e produtor de figo há 32 anos, a produção poderia estar melhor. “Comecei aqui com 2.500 pés, mas hoje tenho apenas 500 pés, tudo conseqüência de uma doença terrível que atacou os pés”. Tentando encontrar novas soluções para combater a praga, Roberto também é um dos produtores a participarem da Associação. “Como já melhorou para os produtores aqui, espero que continue e que a gente faça cada vez mais bons negócios nas compras do insumos”.
Sua propriedade que chegou a produzir até cinco mil frutas (e que exportava quase dois mil para os países da Europa), Roberto também fazia parte do roteiro do agroturismo. “Mas por conta dos problemas na propriedade, ele parou de receber os turistas. A nossa esperança é que ele volte logo”, conta o guia de turismo Valberto Fonseca.
O Agroturismo, passeio onde os turistas visitam as propriedades rurais de Valinhos que produzem frutas típicas e ainda podem comprar produtos feitos nas chácaras foi um caminho viável e mais curto para a valorização do pequeno produtor rural. E que até o momento, garantem os organizadores, está dando certo.
As Parcerias
Segundo o presidente da Associação Agrícola de Valinhos e Região, Pedro Pellegrini, o intuito de criar uma associação com os pequenos produtores era com objetivo na comercialização. “No entanto, tivemos alguns problemas e dificuldades pelo caminho”, conta. Porém, a Associação encontrou outra forma de ajudar os produtores, como foi no caso da compra de insumos. “Com esta ação não existem mais ‘atravessadores’, o que contribui muito para o barateamento do preço final. Compramos diretamente dos fabricantes”, diz Pellegrini.
Atualmente, a Associação também busca junto ao produtor incentivar a exportação das frutas, principalmente para os países da Europa. “Juntamos os produtores para atender esta demanda de volume de produção”. Para 2006, os produtores já têm um projeto de ampliar a linha de comercialização, adquirindo mais espaço no mercado interno. “Hoje, a Associação busca novas parcerias além daquelas que já contamos, como a Prefeitura e a Casa da Agricultura. Isto incentiva o produtor a acreditar no seu produto e fazer maior volume na sua produção”, acrescenta.
57ª Festa do Figo e 12ª Expogoiaba
O município de Valinhos chega a receber em torno de 500 mil pessoas durante o evento, que acontece nos meses de janeiro, época da safra do figo na região, no Parque Municipal de Feiras e Exposições “Monsenhor Bruno Nardini”. Com o slogan “Uma delícia de festa pra família toda”, a Festa do Figo e Expogoiaba reúne todos os anos os setores da fruticultura, indústria, comércio e entidades assistenciais. O evento consolida a imagem de Valinhos no cenário nacional pela sua grande produção de frutas, como morango, uva, pêssego, ameixa, caqui, acerola, além das estrelas da festa – figo e a goiaba. Através da atuação da Asserutil (Associação das Entidades Assistenciais de Valinhos) e união dos agricultores, é resgatado a história da festividade, criada em 1949 pelas mãos do Monsenhor Bruno Nardini para angariar fundos para construção da Matriz da São Sebastião.
Segundo a Comissão Organizadora, presidida por Aldemar Veiga Júnior, secretário municipal de Desenvolvimento Social e Habitação, esta a oportunidade dos produtores divulgarem o seu produto e o agroturismo da região. “Hoje quase 90% da produção de figo roxo no País, saí daqui de Valinhos”. “Neste ano de 2006 contamos com 40 produtores, e esperamos nos próximos anos aumentar este número”, diz.