Agricultura

Soja verde é um sério problema

Os longos períodos de estiagem, verificado, no ano passado, em grande parte das regiões produtoras do país, fez muito sojicultor colher parte ou até toda sua safra de soja, com os grãos fora das condições ideais de maturação. A qualidade dessa produção, seja para uso na indústria de óleo e farelo – principais subprodutos da cultura – ou para retorno à lavoura na forma de sementes, tem seu potencial reduzido sensivelmente. No primeiro caso a redução no volume de óleo extraído é de 2% a 3% inferior aos grãos colhidos em condições normais. Já no segundo, as perdas podem atingir até totalidade da produção.

Quem faz esse alerta e pede a conscientização imediata do produtor é o pesquisador José de Barros França Neto, que externa sua preocupação ao demonstrar os números da Associação Brasileira de Semente e Mudas, ABRASEM, que mostra que 47% usa na lavouras sementes provenientes de lavouras não certificadas ou piratas. O maior contingente de produtores, que não se preocupam ou se preocupam minimamente com a sanidade da lavoura, está concentrado no estado do Rio Grande do Sul. Hoje, cerca de 97% dos sojicultores gaúchos, compram sementes pirateadas da Argentina, as famosas semente “Maradona”, que entram no país sem nenhum laudo de inspeção ou controle de procedência. Os outros 57 % da produção que se preocupam em empregar tecnologia na lavoura está concentra no cerrado, principalmente, no estado do Mato Grosso.

Para o pesquisador da Embrapa Soja, como a semente é o alicerce da construção se o produtor começa de forma errada está mais sujeito a problemas. Os números da última safra mostram como o uso da tecnologia interfere no resultado da produção. Com uma média nacional de 2.171 Kg/ha, o estado do RS, obteve na safra 2004/05 uma produtividade de 565 Kg/ha. Já no estado do MT, essa média foi de 2.804 Kg/ha.

A morte prematura da planta seja por estresses hídrico ou qualquer outro fator, acaba forçando o processo de maturação das sementes. Com isso ao invés de amarelarem, as sementes são colhidas ainda verdes, com altos índices de clorofila, o que afeta seu potencial de vigor e germinação. Algumas sementes esverdeadas chegam a germinar, mas não se desenvolvem bem, explica o pesquisador.

Estudos realizados pela Embrapa Soja, Universidade Federal de Lavras, em parceria com uma grande empresa de sementes do Mato Grosso, mostra que a porcentagem máxima de soja verde permitida em um lote de sementes não deve ser superior a 9%. Acima desses valores, o produtor pode ter prejuízo com a não germinação ou baixa produtividade. “Para quem não quer ter a surpresa de adquirir lotes de sementes verdes, deve exigir o termo de conformidade e o boletim de análise, entregues junto com a nota fiscal no momento da compra e podem servir de indicativo do problema” observa. “Só que, antes de adquirir o lote, o produtor pode ainda solicitar amostras para realizar testes de germinação em laboratório ou no solo”, conclui.

As pesquisas mostraram ainda que a soja é mais suscetível ao problema quando a combinação dos dois fatores climáticos ocorre na fase final de enchimento de grão, principalmente quando as plantas estão em estádio R6. Também há diferenças de comportamento entre cultivares, pois algumas são mais sensíveis ao problema do que outras. No estado do Mato Grosso, principal produtor de soja do país a cultivar FMT Arara Azul, apresenta a maior sensibilidade ao esverdeamento dos grãos. Além disso, estresses ambientais como doenças que afetam as raízes ( fusariose de raiz), o colmo ou haste da planta (Cancro da Haste), ou de área foliar (ferrugem asiática), podem ocasionara morte da planta antes da maturação completa do grão. Grandes infestações de insetos, principalmente percevejos sugadores, também, são causa corrente de morte prematura em plantas de soja.

Dados do CNPSO, mostram que na safra 2002/03, na região de Alto Garças, MT, foi detectado que plantas de soja da variedade cv.MG/BR 46 (Conquista), que tiveram morte prematura e maturação forçada devido à ocorrência de fusariose de raiz, apresentaram maior concentração de sementes esverdeadas na sua parte inferior 21,2% em relação ao terço superior, onde foram constatados 3,5 de grãos esverdeados.

Outro fator apontado pelo especialista como motivador é o manejo inadequado das lavouras com a distribuição inadequada de calcário e fertilizantes. O uso incorreto dos herbicidas dessecantes, fora do período considerado ideal, também ocasiona o aparecimento do problema. Os experimentos realizados com a variedade cv. MG/ BR 46 ( Conquista), também sujeitas a fusariose de raiz, mostraram maior concentração de sementes esverdeadas no terço médio e inferior da planta. A aplicação do herbicida foi feita antes do período de maturidade fisiológica da soja, estádio (R7).

De acordo com o pesquisador como resultados dos vários estudos realizados ficaram evidentes que a ocorrência desse fenômeno prejudica a qualidade fisiológica a sua presença interfere negativamente na qualidade do lote. ” Foram comprovados os efeitos de diversos estresses bióticos – planta em contato com o meio externo- no aparecimento do problema, entretanto estudos adicionais são necessários, para melhor esclarecimento da sua ocorrência , principalmente no que se refere às possíveis repostas quanto a suscetibilidade de diferentes cultivares de soja ao problema”.

Testes permitem identificar o problema

Além dos cuidados na fase de cultivo da soja para se evitar o aparecimento da soja verde, o pós-colheita demanda algumas praticas também importantes para identificar a ocorrência de grãos verdes nos lotes que vão ser colocados a venda. De acordo com o pesquisador da Embrapa Soja, a colheita antecipada da soja com grau de umidade entre 17% e 20%, é uma prática comum entre os produtores de sementes, com o objetivo de produzir semente de alta qualidade. Entretanto, no processo de beneficiamento dos grãos, essa semente, por apresentar tamanho maior devido à alta concentração de água, pode ser facilmente identificada na máquina de pré-limpeza.

Uma pergunta recorrente no campo é se existe algum teste que perita, ao agricultor, selecionar, dentro do montante de grãos colhidos, aqueles que não devem seguir para o comércio. Estudos realizados pela Embrapa Soja, em parceira com a empresa Sementes Adriana, mostram que a estratificação de semente de soja por tamanho favorece a concentração de semente esverdeada nas peneiras de menor calibre. Por exemplo, semente de soja cv. MG/BR 46 ( Conquista) com índice médio de semente esverdeada de 13%, após classificação em quatro tamanhos em peneiras de furo redondo, apresentou 19% de semente verde para peneira 6,0 mm, 11% para a de 6,5 mm, 7% para 7,0 mm e 5% para a de 7,5 mm. Isso deixa evidente que um maior percentual de soja verde se concentra nas peneiras de calibre menor.

Outros estudos conduzidos pelo CNPSO, em conjunto com a empresa J.B.T. Máquinas Mecânicas, também de Londrina, PR, mostraram que a utilização de máquinas que realizam a separação de sementes por diferenças de coloração, podem ser eficientes na remoção de sementes esverdeadas do lote de semente. Segundo o pesquisador na comparação com as máquinas de separação por cor, existem no mercado diversas marcas e modelos, que fazem a separação com base em uma duas ou três a cores e têm a capacidade de produção variando de 60 Kg/h a 5,0 t/h. Além disso, existem os testes de contagem de grãos que podem ser feitos em qualquer lugar, basta apenas o produtor separar cinco lotes de 100 grãos cada e fazer a contagem. Se o número médio de grãos verdes, for superior aos 9% indicados, o material deve ser considerado impróprio para o uso na forma de sementes.

Segundo França Neto, são poucos os trabalhos na literatura que abordam os efeitos de sementes esverdeada sobre sua qualidade para fins de produção. Pesquisas mostram que os efeitos em sementes de soja cvs.MG BR 46 (Conquista), BRS138, CD201 e Emgopa 302, com índices de 0% até 560 de sementes verdes dão conta que, com percentuais acima de 10% o produtor já começa ater problema de germinação e vigor da planta. Os estudos mostraram ainda, que a incidência de semente verde tem relação direta com as perdas por deteriorização por excesso de umidade no grão. “A identificação pode ser facilmente feita através do teste com o sal de tetrasólio”.

Testes mais detalhados foram feitos pela UFLA, Semente Adriana e Embrapa Soja, com as variedades Tucunaré e CD 206, com 12 índices de semente esverdeada de 0% a 560, considerando à germinação, à viabilidade, vigor, envelhecimento acelerado tetrasólio e concentração de clorofila. Assim como o verificado na avaliações anteriores, as perdas por umidade acentuada no teste de tetrasólio, avaliação linear de viabilidade (tamanho do grão), germinação e vigor da semente está relacionada com o porcentual de semente verdes o lote.

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