Em alguns casos essa participação pode ultrapassar os 90% do peso da cultura, se responsabilizando, inclusive, por importantes processos fisiológicos e bioquímicos. Sua ação se desenvolve de forma a permitir a penetração de gases, minerais e outros solutos no interior das células, bem como a circulação de nutrientes indispensáveis ao bom desenvolvimento das espécies vegetais.
Sendo assim, as perdas decorrentes da sua falta na atividade agrícola, o chamado Déficit hídrico, constitui atualmente na principal causa de prejuízos por perdas de produção e baixo rendimento das culturas. Segundo José Renato Bouças Farias, pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa de Soja, CNPSO, Embrapa Soja, de Londrina, PR, na cultura da soja, a água é o maior fator causador de perdas nas lavouras, seja pelo excesso de chuvas no momento da colheita, mas, principalmente, pelo estresses hídrico decorrente dos longos períodos estiagem.
O problema maior apontado pelo pesquisador como limitante da cultura é a variabilidade hídrica que ela apresenta nas diferentes fases do seu desenvolvimento. Isso independentemente se a cultivar é de ciclo curto ou mais tardio da época de semeadura e da região onde ela foi plantada. Para exemplificar ele mostra os números da safra 2003/04, onde as perdas na colheita foram da ordem de 7 milhões de toneladas, tirando do bolso do agricultor e do país um valor aproximado de 1,3 milhões de dólares. Ou seja, a seca somente nos estados do RS e PR, causaram cerca de 70% do total de perdas daquele ano nas lavouras de soja brasileiras. No ano passado esses números por decorrência da estiagem prolongada que assolou a região, ocasionaram perdas de mais de 80%, na média do RS.
De acordo com Farias, os veranicos não são uma exclusividade da sojicultura gaúcha. Na safra 2004/05, foram registradas perdas nas lavouras das regiões Centro Oeste, Sudeste, Norte e Nordeste. Números de um estudo abrangente, envolvendo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, MAPA, EMBRAPA, Agência Nacional de Energia Elétrica, ANEEL, Instituto Nacional de Meterologia, INMET e Instituto Agronômico do Paraná, IAPAR, compreendendo os estados do PR, GO,TO, MS, MT, MG, MA e BA, procurou mapear as áreas com menor risco de insucessos para a cultura da soja. Com o auxílio de modelos de simulação do balanço hídricos das principais cultivares plantadas nessas localidades, foram definidas as áreas com diferentes probabilidades de ocorrência de déficit hídrico. Os especialistas consideraram as fases mais críticas da cultura classificando-as como favoráveis, intermediárias e desfavoráveis. Além disso, foram observadas a época de semeadura, o tipo de solo e o ciclo de cada cultivar.
Segundo o pesquisador a ausência de chuvas não é o único fato causador do déficit hídrico no campo. A planta busca um ajuste entre a absorção de água e a transpiração. Quando as condições ambientais levam a uma condição limite nesse ajustamento, isso significa o início do processo de estresses hídrico na cultura. Toda a dinâmica da água no sistema solo-planta- atmosfera ocorre em função da demanda evaporativa do local.
Para um melhor entendimento é possível fazer uma analogia com o que acontece com os seres humanos. Quando temos uma condição de temperatura alta e umidade relativa do ar baixa, a perda de líquidos através da transpiração (suor) é maior e como conseqüência à necessidade de repor água pelo organismo aumenta. Já na situação inversa quando a temperatura está baixa e a umidade relativa alta, o corpo retém mais líquidos e a sede diminui. Agora, isso pode variar de um organismo para o outro. Com as plantas acontece o mesmo.
A transpiração da planta ocorre, de acordo com o que os especialistas chamam de Demanda Evaporativa da Atmosfera (DEA), que em última analise, determina o tamanho da perda de água da planta por transpiração e, conseqüentemente, a necessidade absorção pelas raízes, explica o pesquisador.
Necessidade da planta é variável
A soja é considerada uma cultura que apresenta baixa necessidade hídrica, porém, a falta ou o excesso de água em algumas fases do seu desenvolvimento, pode significar a morte da planta e a perda total da produção. Segundo Farias na literatura existem estudos que mostram valores de consumo de água pela soja variando de 300 mm a 850 mm, ao longo de todo o ciclo dependendo da cultivar, da época e da condição local.
Experimentos conduzidos pela Embrapa da safra 1991/92 a 1999/00, envolvendo diversas cultivares de soja de ciclos semelhantes, submetidas a diferentes níveis de disponibilidade hídrica, sem irrigação; irrigado durante todo o ciclo; irrigado com déficit hídrico durante a fase vegetativa e reprodutiva. Tudo monitorado por tensiômetros de mercúrio, sonda de nêutrons e termogravimetria.
O especialista explica que foram consideradas entradas de água no sistema irrigação e precipitação pluviométrica (chuva). Os valores de evapotranspiração real ( ETR) da cultura e máxima (ETM) e a relação entre eles, índice de satisfação das necessidades de água ( ISNA), foram gerados pelo modelo de simulação do balanço hídrico da cultura. A duração dos ciclos e das fases fenológicas, os coeficientes de cultura e a evapotranspiração potencial foram padrões iguais para todas as cultivares e safras empregando os mesmos valores utilizados nos trabalhos de zoneamento agroclimático da cultura da soja. Os resultados mostraram que a fase crítica à falta de água considerou-se o período compreendido entre os estágios R1 (início da floração) e R6 (grão verde ou vargem cheia). Os rendimentos de grãos de soja obtidos nos diferentes níveis de disponibilidade hídrica, em função dos volumes pluviométricos observados em todo o ciclo e durante a fase mais crítica à falta de água para a cultura (R1 e R6). Os maiores foram obtidos com precipitação pluviométrica de 600 mm a 700 mm, bem distribuídos em todo o ciclo.
Os déficits apareceram nas fases reprodutiva e vegetativa, apesar da precipitação no período ter atingido níveis próximos de 700 mm, os rendimentos alcançados não foram tão elevados. Segundo o técnico, o resultado deve ser atribuído à deficiente distribuição de chuva, principalmente, sobre a fase mais crítica da floração época de reprodução da planta, limitando os rendimentos de grãos a 900 Kg/há. “Excesso de chuvas e dias nublados podem prejudicar a fotossíntese, o arejamento do solo, com conseqüências na formação das raízes e fixação de nitrogênio” observa. “Já os valores de água para atender a demanda da soja na fase R1 a R6 situou-se de 120 mm a 300 mm, distribuídos ao longo deste período”conclui.
Os rendimentos de grãos de soja observados em função dos valores de índice de necessidade calculados para todo o ciclo da cultura.Observa-se que existe uma faixa de ISNA de (0,62 a 0,65) com rendimento de grãos variando de 651 Kg/ha. A 3.317 Kg/ha. Provavelmente, isto ocorra em função da grande variabilidade entre os regimes hídricos observados, ao longo do ciclo, nas diferentes safras, independentemente da disponibilidade de água aplicada no programa, observa. Agora a resposta nos diferentes casos não é linear, havendo um momento a partir do qual os índices da necessidade de água reduzem o rendimento. Na fase R1 a R menores rendimentos de grãos foram obtidos ao redor de 0,2 mm o que também ocorreu com valore acima de 0,8 mm, o que pode indicar excesso hídrico à cultura da soja.