A conquista dos títulos de melhor genética zebuína do mundo e de principal fornecedor de carne do mercado global já são argumentos suficientemente fortes para demonstrar que a pecuária brasileira está cada vez mais antenada com o que há de mais moderno na biotecnologia. Procedimentos que há anos pareciam restritos às instituições de pesquisa chegam com tudo nas mãos dos pecuaristas. É certo que, por enquanto, as ferramentas desenvolvidas pela biotecnologia, estão acessíveis apenas para as criações de gado de elite. Mas, a tendência é que estas técnicas – ou pelo menos os benefícios por elas proporcionados – aproximem-se cada vez mais da pecuarista “comum”. Foi assim, por exemplo, com a inseminação artificial e quem sabe poderá ser chegar às mais modernas técnicas e que já são disponíveis comercialmente, como a “fertilização in vitro”.
“Há cinco anos, ninguém fazia FIV no Brasil. Atualmente, metade dos embriões obtidos no mundo através desta técnica é produzida aqui. Para o pecuarista que tem animais excepcionais esta é a melhor opção. A fertilização é uma ferramenta multiplicadora de animais superiores e pode ser aplicada aos produtores que tenham matrizes com um valor comercial ou genético superior ao custo da técnica”, afirma André Dayan, veterinário e presidente da Vitrogen, empresa pioneira e líder neste campo no País.
De acordo com ele, entre todas as técnicas de reprodução bovina assistida, a fecundação “in vitro” é, sem dúvida, a que apresenta os melhores resultados. A multiplicação do rebanho é muito mais rápida, sendo possível acelerar o aprimoramento genético do plantel, além de não prejudicar as doadoras. Através do processo da Aspiração Folicular, ou OPU, o potencial reprodutivo das fêmeas com certos tipos de patologias adquiridas também pode ser recuperado.
É não é difícil vislumbrar o resultado. Com a FIV, por exemplo, uma fêmea que geralmente apresentaria apenas uma prenhez por ano pode produzir, com a ajuda de “barrigas de aluguel”, de 100 a 150 bezerros no mesmo período, dependendo de seu potencial reprodutivo. De 12 óvulos das vacas doadoras, por exemplo, podem resultar em cinco embriões e destes irão vingar duas gestações seguras, dependendo da doadora. “A principal vantagem em comparação a TE Convencional é que a matriz não recebe hormônios. Por fim, o pecuarista acaba preservando o patrimônio (a vaca doadora), entre “aspas” a ‘galinha dos ovos de ouro’. Ele também tem como benefício a otimização da utilização do sêmen que muitas vezes é caro, quando se fala, principalmente de animais de elite. Uma dose de sêmen pode ser utilizada para fecundar os óvulos de várias doadoras”, diz André Dayan.
Mesmo com as vantagens, aponta o veterinário, o criador deve estar atento a cada etapa da técnica para tirar o máximo proveito, a custos reduzidos. Um cuidado que não está apenas relacionado à escolha da empresa que produz os embriões, mas também a outros detalhes, como manejos específicos com doadoras e receptoras.
O Trabalho no Campo
O primeiro passo é determinar a forma de trabalho. De acordo com Dayan, caso o criador opte por realizar a coleta dos oócitos, ou conhecidos como óvulos (ainda imaturos), em sua propriedade, é necessário escolher a melhor data na agenda das equipes de aspiração. A fazenda precisa dispor de infra-estrutura adequada e de uma equipe especializada que busque os embriões e os transfira no prazo máximo de oito horas. A receptora deve estar com o cio perfeitamente sincronizado com o tempo de vida do embrião, aumentando assim as taxas de prenhez.
Outra alternativa é contar com o serviço das empresas que se dedicam especificamente a realizar duas importantes etapas da produção dos embriões e gestações.
Nas centrais de doadoras, os animais ficam alojados e recebem todo cuidado para atingir os melhores resultados na coleta dos oócitos. O trabalho dos veterinários começa com os exames necessários para garantir a saúde do animal e evitar a proliferação de possíveis doenças. O animal logo que chega na fazenda é colocado em quarentena. Depois, as doadoras vão para os piquetes (onde são separadas por idade, condição corporal, entre outros aspectos). Para realizar a coleta dos oócitos, o veterinário precisa conter o animal no tronco e fazer a limpeza do reto, lavando bem também o órgão genital, para facilitar a visualização do ovário no momento do exame. A doadora recebe uma anestesia para relaxamento dos músculos traseiros. “O veterinário introduz um dos braços no reto da doadora para posicionar os ovários. Pela vagina é colocado um equipamento chamado probe que possui uma agulha de punção. Com ajuda da ultra-sonografia e de uma bomba a vácuo, o veterinário aspira os oócitos que caem diretamente no tubo coletor”, conta Dario Saraiva Borges, médico veterinário da Vitrogen. O procedimento é rápido. Logo em seguida o material, ainda no laboratório da fazenda, é levado para fazer o processo de seleção.
Da fazenda para o laboratório
O processo de cultivo do óvulo está dividido em FIV (Fecundação in vitro), MIV (Maturação in vitro) e CIV (Cultivo in vitro). Após receber os oócitos pré-selecionados, os técnicos do laboratório da FIV realizam a recontagem e uma nova seleção (neste processo são descartados os que apresentam algum tipo de alteração ou deformidade). “O material vai para as estufas por 24 hs para ser maturado. No dia seguinte, os oócitos são retirados da estufa e é quando ocorre o processo de FIV, que nada mais é do que a união dos óvulos com os espermatozóides”, afirma a veterinária da Vitrogen, Tatiana Tonello.
Depois da fecundação, o embrião fica sete dias na estufa desenvolvendo-se em temperatura e umidade controladas iguais às do útero do animal. Após os sete dias é feita a transferência do embrião para uma barriga de aluguel que vai fazer a gestação completa do bezerro. De acordo com o presidente da Vitrogen, é comum estas receptoras, (geralmente vacas cruzadas), serem vendidas prenhes em leilões, com um embrião de alta qualidade genética.
CLONAGEM À VISTA
Nos primeiros meses deste ano nasceram os primeiros produtos de outro avanço notável, a clonagem. Hoje, o trabalho de clonagem é feito em parceria com o médico veterinário Dr. Flávio Vieira Meirelles, Professor da USP/Pirassununga. Segundo a empresa especializada em biotecnologia, a Vitrogen, para produzir o clone o criador precisa primeiro solicitar a coleta de células do animal a ser clonado. Essas células passam por uma avaliação de qualidade em termos de alteração de números e outras patologias cromossômicas para que os procedimentos tenham uma maior chance de produzir mais embriões e de melhor qualidade. Para um futuro mais próximo, os animais, com certeza, poderão tornar-se campeões de exposições, ampliando o seu excelente padrão racial. A técnica servirá ainda como um seguro contra a morte de animais muito valiosos.