Segundo a ABCCAN, atualmente, o banco de dados da associação conta com mais de 280 mil animais puros e formados na raça Canchim em todas as regiões do país. Os maior pólo de criação está concentrado na região Centro Sul, nos Estados do Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo. O número de novos criatórios da raça afiliados à associação apresentou um crescimento significativo nos últimos anos. Só para se ter uma idéia o crescimento médio de sócios de 2002 para 2003 foi de 15% em todas as regiões.
Segundo Deniz Ferreira Ribeiro presidente da entidade e criador há cerca de 13 anos, a pecuária vem passando por um momento difícil devido à uma série de fatores que implicam em uma crise nos preços e na diminuição da rentabilidade dos produtores. “E dentro desse contexto, na ABCCAN notou-se uma redução do número de animais registrados, particularmente nos machos, pela retração da oferta do mercado de reprodutores, preferindo o criador não incorrer no custo do registro de um animal que ele irá destinar ao abate”, disse Ribeiro. “Alguns criadores tiveram que encontrar alternativas em seus criatórios para driblar a situação, mesmo assim teve quem, por conta da baixa rentabilidade, deixou de se dedicar a essa atividade como forma de sobrevivência”.
Ribeiro mostra que isso resultou numa diminuição no número de associados, porém, segundo ele, “associações de outras raças ocorreram fatos da mesma natureza, com intensidades diferentes, o que levou à uma racionalização das atividades das associações, de um modo geral, que permita atravessar esse período desfavorável de modo eficaz”.
A ABCCAN desenvolve em parceria com os principais órgãos de pesquisas e criatórios da raça avaliações de desempenho ponderal e funcionalidade do rebanho. Cristiano Campbell, superintendente técnico da ABCCAN, destaca os programas feitos em parceria com a Embrapa Gado de Corte, Esalq- Piracicaba (SP) e a Unesp de Botucatu (SP).
Criado em 1999, o Geneplus é um programa desenvolvido junto a Embrapa que avalia animais de vários criatórios pelo país. “Todos os criadores fazem parte do programa de melhoramento genético da raça Canchim. Segundo o técnico os animais passam por três avaliações ao longo do seu desenvolvimento para medir características de precocidade reprodutiva e de acabamento e funcional ligadas rusticidade. “Uma primeira avaliação é feita na ocasião do nascimento, outra na desmama e a última no sobreano, por volta dos 18 meses”, explica Campbell.
O superintendente diz ainda que existe um trabalho realizado junto aos criatórios no sentido de realizar treinamento nos profissionais da fazendas. “Isso se deve ao fato de as equipes dos criatórios participarem de dias de campos promovidos pela ABCCAN”, completa. Todos os dados referentes aos animais são coletados na própria fazenda e enviados à associação, essas informações, entre outras, são as que abastecem o banco de dados da instituição. Duas vezes por ano, esses dados são enviados à Embrapa que realiza as análises necessárias para a criação do sumário dos animais da raça Canchim.
Os sumários de touros e matrizes ficam prontos e são disponibilizados no outono e na primavera. “O próximo sumário está previsto para a Feicorte”. Ainda junto com a Embrapa Gado de Corte, a ABCCAN realiza uma cartilha prática à respeito do programa, com o intuito de que facilitar a compreensão das informações por parte dos criadores.
Na Esalq de Piracicaba, os touros são submetidos a uma avaliação de desempenho aberta também a todos os criadores. Nesse programa, acompanhado pelo professor e pesquisador Flávio Portela, os animais têm medidos o ganho de peso, circunferência escrotal, espessura da cobertura de gordura e área de lombo, entre outras características. No final da avaliação, que dura, aproximadamente, seis meses, são escolhidos em julgamento animais de elite nas categorias ouro, prata e bronze.
Com o objetivo de produzir novilhos super-precoces, em 2004 foi realizada uma parceria com a Unesco de Botucatu. O projeto piloto contou com a participação de 30 animais e os resultados foram além do esperado, como conta o superintendente da associação. “Os animais passaram por avaliações periódicas e demonstraram que a raça tem total condição de produzir uma carne de qualidade em um tempo recorde. Nesse primeiro experimento, os resultados foram excelentes, tanto que para 2005 a participação dos animais deve ser ampliada de 30 para 105 bezerros Canchim 1/2 sangue e 3/4, a fim de evidenciar as qualidades da raça e de seus produtos”, disse Campbell.
A média de peso para o abate foi de dezenove arrobas por animal e todos os participantes foram classificados com a Cota Hilton. “Essa cota significa que a carne obtida tem características desejáveis para a venda no mercado externo com maciez e marmorização desejáveis. Essa carne é exportada para a Europa com um preço médio de US$ 5 mil a tonelada”, explicou.
Com uma equipe técnica formada atualmente por sete profissionais atuantes e um em treinamento distribuídos nos principais pólos de Canchim, a associação presta assistência e assessoria a plantéis de todo o país. Esses acompanhamentos e monitorias prestados garantem o aprimoramento dos níveis técnicos das fazendas que, de acordo com Cristiano, são excelentes. “Para uma pecuária de qualidade, é necessário que haja um bom nível técnico aliado, é claro, a resultados. Temos uma raça que é imbatível no cruzamento industrial, com uma conversão alimentar muito boa, ganho de peso e acabamento de carcaça superiores e com um rendimento acima de 57%. São animais jovens que apresentam um produto final diferenciado. É uma raça feito no Brasil e para o Brasil”, concluiu Campbell.