Agricultura

Rotação de cultura: cultivo inteligente

Ao longo de vários séculos, a atividade agropecuária no Brasil desenvolveu-se sobre um paradigma de exploração, formado, basicamente, por ciclos de culturas. Esse modelo de extrativismo vegetal, que teve início com a extração indiscriminada das florestas de Pau-Brasil, no período do descobrimento, foi sucedido por outras culturas, igualmente, exploradas, como a cana-de-açúcar, a Seringueira par obtenção de borracha e pelo Café, cultura que até medos da década de 1930, controlava a economia tupiniquim, frente ao mercado mundial. Tanto a agricultura quanto a pecuária, se desenvolveram sobre tais práticas que moldavam-se ao gosto dos exploradores de ocasião, não devolvendo à natureza, os nutrientes extraídos do solo pelas plantas, condenando imensas as áreas agricultáveis do país. Esse fato, aliado a ignorância de seguidas gerações, sobre as técnicas corretas para manejo de lavouras e pastagens, ajudaram formar um cenário desolador, e que só não é pior, graças ao trabalho incansável das pesquisas, que, a partir da década de 1970, começaram a modificar essa realidade.

Atualmente, existe um consenso dentro da comunidade científica de que, o plantio sucessivo de uma mesma espécie de planta, numa mesma área e/ou (monocultura), ocasiona o empobrecimento do solo com diminuição gradativa da produtividade das mesmas, em poucos anos. Outra prática, também, bastante combatida pelo pesquisadores é a utilização de gradagem e aração, no pós colheita, responsáveis pela diminuição gradativa nas populações de vários micro-organismos, essenciais para a manutenção do equilíbrio na biodiversidade dos diferentes ecossistemas. Esses dois fatores na opinião de inúmeros especialista, são a causa mais freqüente de prejuízos no campo e a maior preocupação quanto a manutenção da atividade agrícola para as futuras gerações. Testes realizados pelo CNPSO, em lavouras de soja de alta produtividade, mostram que a perda contínua de matéria orgânica do solo, causadas por tais práticas, provocam uma redução de 10% em média na produtividade de uma safra para a outra.

Nas lavouras de soja, principal cultura comercial do país na atualidade, a prática da monocultura apresenta-se como um problema de difícil solução, alerta o pesquisador do CNPSO, Centro Nacional de Pesquisa de Soja, de Londrina, PR, Paulo Roberto Galerani. O pesquisador fala, que isso ocorre, fundamentalmente, pela importância comercial que a oleaginosa conquistou no mercado mundial, fato que ajudou a manter os preços elevados por um longo período. A saída para esse impasse, segundo ele, passa por um planejamento criterioso das atividades de exploração anual (produção de grãos) que tem na rotação de culturas um importante aliado para vencer os problemas oriundos do uso inadequado das áreas de plantio.

Essa prática, que consiste em alternar, anualmente, as espécies vegetais para uma mesma área agrícola, precisa de atenções especiais quanto a obtenção das culturas que serão usadas em sucessão, observa o pesquisador. Segundo ele, o agricultor deve considerar os vários aspectos comerciais que envolvem o cultivo, porém, é importante que as características da planta que atuam na recuperação do solo, não sejam desprezadas. “Devido uma conjuntura desfavorável para obtenção de preços satisfatórios para os principais grãos e fibras no comércio mundial, o diferencial está sendo determinado, em mais de 90% dos casos, pela viabilidade comercial da cultura. Um outro aspecto que costuma determinar as ações do agricultores é a demanda interna pelo produto, em determinada época e a dificuldade de escoamento dessa produção para as principais praças de comércio.

O pesquisador do CNPSO sita, como exemplo, os produtores da região norte do PR, onde existe uma demanda reduzida por milho, em média de 30%, e uma grande dificuldade de armazenamento desse produto nas cooperativas. Isso ocorre por que, o volume de produção do milho, na maior parte dessas localidades, supera os nove mil quilos/ha, em média, gerando um déficit de armazenagem bastante grande. Este fato vem impulsionando os agricultores dessa região, a intensificarem suas lavouras de soja, que produz um volume até três vezes menor. Essa situação, no entanto, não se repete no sul do estado, que possui uma demanda pelo grão superior a 50%. Por esse motivo, o pesquisador alerta sobre a necessidade de o produtor procurar ajuda especializada, sempre que for realizar o planejamento da sua produção anual.

“As vantagens da rotação de cultura em lavouras de soja são muitas, entre elas destacam-se, a produção diversificada de alimentos e outros bens agrícolas, principal carência dos países em desenvolvimento, na hora de encontrar seu espaço no mercado mundial de bens primários. Além disso, se adotado e conduzido de forma adequada e por um período suficientemente longo, melhora e muito a classificação do solo”, explica Galerani. Segundo ele, os primeiros resultados, podem ser medidos já, a partir do terceiro ano de implantação do sistema, registrando, inclusive, uma melhora significativa na matéria orgânica do solo de 2,5% a 3%. “Esses valores são ótimos perto da realidade atual que na maioria das lavouras do país não ultrapassa os 1,5%, enfatiza o pesquisador.

Outro modelo que vem apresentando resultados satisfatórios e que engloba outra atividade também de importância comercial impar para o agronegócio brasileiro é o sistema de integração lavoura, pecuária. Esse sistema tem na rotação de cultura um forte aliado para a melhoria da qualidade nutricional do solo, principalmente, em regiões de desmatamento constante como o Norte e parte do Nordeste do país, explica o pesquisador da Embrapa. “Os solos castigados pelas sucessivas queimadas, mostram melhoras sensíveis, logo nos primeiros anos, com a utilização desse tipo de consórcio, provando, que, o uso racional dos recursos da natureza traz benefícios reais ao produtor rural ” conclui.

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