Agricultura

Controle sistêmico dá resultados

O controle sobre plantas daninhas, prática milenar dentro da agricultura, ainda hoje, exerce um papel de grande importância no manejo das principais lavouras comerciais do planeta. A preocupação dos agricultores brasileiros com essa questão levou os principais órgãos de pesquisa e extensão do país, a desenvolver um programa de controle que combate, sistematicamente, o problema. Aliado a isso, as novas tecnologias que foram incorporadas ao sistema de produção agrícola, proporcionaram uma nova dinâmica de trabalho ao homem do campo, com resultados notáveis, tanto na produtividade por área quanto na qualidade do grão que sai das propriedades para abastecer o mercado.

Na cultura da soja, principal commodity tipo exportação do país, as plantas daninhas( invasoras), constituem um sério problema e a necessidade de controlá-las um ponto fundamentalmente necessário. Segundo técnicos da Embrapa Soja de Londrina, PR, o controle dessas plantas invasoras é uma prática de elevada importância para obtenção de altos rendimentos em atividades de exploração agrícola. Conforme a espécie, densidade e a distribuição das invasoras, as perdas são significativas, destaca Alexandre Brighenti, pesquisador de plantas daninhas do CNPSO, Centro Nacional de Pesquisa de Soja. ” As invasoras prejudicam as culturas, porque competem com elas por luz solar, água e por nutrientes (NPK e outros), disponíveis no solo”, observa o pesquisador.

Os métodos mais comuns para controle de plantas daninhas, utilizam meios mecânicos que consistem na gradagem e aração do solo, o controle químico efetuado por meio de herbicidas dos tipos dessecantes e residuais e o cultural, que está relacionado a escolha de técnicas de manejo que favoreçam a cultura em detrimento das invasoras. Brighenti observa que quando possível é aconselhável que o agricultor ou agrônomo utilize a combinação de dois ou mais métodos para garantir uma maior eficiência no controle. O pesquisador faz ainda um alerta quanto a utilização correta dos herbicidas. Para ele, uma aplicação segura, eficiente e econômica exige técnicas apuradas de manejo, considerando que o custo médio da aplicação de herbicidas em lavouras de soja, podem representar de 15% a 40% do total gasto com outros insumos, observa.

O número de espécies de plantas invasoras relatadas em manuais de sistemas de produção da Embrapa é bastante grande, principalmente em tecnologias de produção de soja. Na publicação “Tecnologias de Produção de Soja” – Região Centro Oeste- o pesquisador vai buscar alguns exemplos de espécies de relevância econômica. Para sitar algumas, ele mostra entre as de folhas estreitas, o capim marmelada, c. carrapichos, c. colchão, c. amargoso, c. custódio, c. pé-de-galinha, c. arroz e c. tiririca. Agora os de folha larga são sitadas as espécies, caruru, picão preto, trapoeraba, desmódio, amendoim bravo, corda-de-viola, fedegoso, joá-de-capote, hortelã, cheirosa e guanxuma, entre outras. ” Todas são capazes de representar danos econômicos dependendo da intensidade presente numa lavoura”, alerta.

De acordo com os especialistas da Embrapa Soja, o controle de uma espécie de planta daninha, com o passar do tempo, tende a dar lugar a outras com seu eventuais problemas. No entanto, muitas se distinguem por apresentar grande capacidade produtiva regional bastante grande ( capacidade de multiplicação) como algumas braquiárias e outras espécies de folha larga. No caso da Trapoeraba, existe hoje uma preocupação ampla dos produtores sobre ela pela dificuldade de controle utilizando herbicidas dessecantes em sistemas de semeadura direta. “No caso da aplicação do herbicida 2,4-D a limitação ocorre em função da deriva desse produto e sensibilidade de outras culturas próximas”, ressalta Voll.

De modo geral as espécies consideradas problema apresentam grande capacidade produtiva de sementes, baixa dormência e alta capacidade de competição com outras culturas. Por sua vez, constata-se que os bancos de sementes de algumas dessas espécies, também apresentam períodos de sobrevivência no solo bastante curtos como do amendoim-bravo ou a trapoeraba. Os de período mais curto podem ser controlados de modo mais eficaz sob sistemas de rotação que incluem pastagem, num sistema agricultura pecuária, por exemplo. Nesse caso podem ser resolvidos também problemas de resistência de ervas e proporcionar, posteriormente, a produção de soja orgânica.

Métodos de Controle

A adoção de uma conjunto de práticas de manejo, o chamado manejo integrado de plantas daninhas (MIPD), é a melhor opção para reduzir a instalação e os efeitos competitivos das ervas com as culturas, enfatiza Elemar Voll. Segundo ele, sendo assim, atender as condições de melhor época de semeadura da cultura aos espaçamentos entre linhas e densidade de plantas/linhas, bem como suprir a cultura com um bom nível de fertilidade do solo, são práticas culturais muitos importantes para se obter resultados satisfatórios. A correção da fertilidade do solo e a aplicação de adubos nas linhas das lavouras de soja também tem mostrados diminuição no volume de ervas sobreviventes, com consequente aumento da produtividade, conclui o pesquisador.

Atualmente, o sistema mais utilizado para controlar a infestação por plantas daninhas é o químico, isto é, o uso de herbicidas em diferentes fases de desenvolvimento das culturas. As vantagens dessa aplicação são muitas, inclusive com sensível diminuição de mão de obra e rapidez no processo”, ressalta o pesquisador. Algumas dicas segundo o técnico são importantes para garantir melhores resultados na aplicação. Não aplicar herbicidas pós-emergentes imediatamente após a ocorrência de chuvas; Não aplicar na presença de ventos fortes maiores que 8 km/h, mesmo utilizando bicos específicos para redução de deriva; A aplicação deve ser realizado com umidade relativa superior a 60%. Além disso, deve-se utilizar água limpa, não aplicar quando a cultura estiver em situação de estresses hídrico e observar a obrigatoriedade da utilização do EPI, Equipamento de Proteção Individual, em qualquer pulverização, explica Brighenti.

A escolha dos herbicidas segundo a identificação das necessidades de controle e o conhecimento do modo de aplicação, o que se consegue seguindo orientação da vide-bula, evitam criar problemas futuros. O uso continuo de produtos com o mesmo princípio ativo, mesmo num sistema de rotação de culturas, pode levar a posterior manifestação de algumas ervas. A identificação de áreas de manchas de ervas não controladas, em reboleiras, pode ser indício da ocorrência de ervas resistentes. Os herbicidas a serem utilizados podem ser de pré emergência ( residuais) ou de pós emergência da cultura. A escolha deles vai depender de condições próprias de cada lavoura considerando-se custos, tamanho das lavouras, disponibilidade de equipamentos e de condições climáticas. Aplicações de pós-emergência permitem uma melhor avaliação das necessidades de controle.

Quanto às dosagem dos herbicidas, o pesquisador diz que depende do grau de infestação, da sensibilidade das espécies presentes e das boas condições de aplicação. A redução de dose e a consequente falta de controle das invasoras pode ser ruim. Aplicações únicas de herbicidas pós-emergente em doses normais e feitas precocemente, podem resultar em re-infestações parciais. Já o parcelamento de doses em aplicações sequenciais, pode economizar uma aplicação seguinte ou resultar num controle mais efetivo das re-infestações, principalmente sob altas densidades e de plantas já mais desenvolvidas. Outra prática que vem sendo utilizada com sucesso em lavouras do Paraná é a combinação de herbicidas dessecantes e residuais, em semeadura direta. Esse modo de aplicação pode ser mais adequado sob baixas infestações de plantas daninhas reduzindo-se dessa forma uma passagem de trator na área, enfatiza o pesquisador.

Controle antecipado dá resultados

O controle antecipado de ervas e plantas daninhas consiste, basicamente, no uso de meios de manejo de solo e adequação de culturas, associado à necessidade do uso de controle químico por herbicidas nas lavouras de soja, explica Elemar Voll pesquisador do CNPSO Embrapa. De acordo com o pesquisador, se considerarmos que vários fatores interferem no procedimento de controle das lavouras é necessário que haja habilidade de gerenciamento por parte do agricultor ou técnico, para obter o detalhamento das condições de produção e de tecnologias disponíveis.” Desta forma é possível interferir no manejo geral, aferindo registro de todos os dados coletados ao longo do desenvolvimento das plantas dentro de um período pré determinado para eventuais correções futuras”, declara.

Voll diz ainda que para fazer o levantamento florístico da área, o produtor precisa considerar, necessariamente, as possíveis alterações das sequências de culturas e manejos que ocorrem com o tempo nas áreas de plantio e provocam diferenças de infestações entre glebas de uma lavoura. Segundo ele, o levantamento das condições de produção e das tecnologias, pressupõe uma infinidade de registros, feitos de modo ordenado, buscando uma integração de sinergias em busca de uma produção mais rentável e segura. “Todo agricultor, pequeno, médio ou grande, deve instrui-se em procedimentos de gestão, de modo a criar divisões dentro da propriedade. Alguns softwares disponíveis no mercado possibilitam que o agricultor gerencie os dados de sua lavoura, proporcionando maior facilidade de controle”, observa o pesquisador. “Os agricultores sabem identificar as ervas daninhas em suas propriedades e devem estabelecer os manejos mais adequado em cada gleba, incluindo as características de herbicidas a serem aplicados, além de seguir as especificações do fabricante”, conclui.

Os pesquisadores do CNPSO, buscaram de modo prático, estabelecer uma relação entre graus de infestação média por espécies de plantas e eventuais perdas na colheita, no sentido de aferir as vantagens econômicas do manejo em lavouras de soja. Para isso, estabeleceram junto a agricultores áreas de teste de 0,5 ha com manejo anual e outra áreas próxima, sem controle. Deste modo, explica o pesquisador da Embrapa Soja, foi possível iniciar um trabalho de aferição de dados com esses produtores. A princípio foram feito levantamentos casualizados nas áreas usando quadrados de 0,5 m x 0,5 m, em números variáveis de 10 ( baixa ou alta infestação) a 20 (média infestação), repetidas vezes durante alguns anos, explica Voll. “Uma maneira mais prática de realizar esse trabalho, no futuro, provavelmente será a identificação da necessidade de controle feita através do uso da tecnologia de agricultura de precisão. Assim será possível identificar áreas com diversos graus de infestação e estabelecer níveis de controle localizados” declara.

Atualmente, as perdas de produção devidas ao manejo, só são sentidas nas áreas por ocasião da colheita, com determinação de unidade dos grãos e impurezas. No entanto, o que se sabe é que em alguns casos elas chegam 90% do volume plantado. A avaliação é feita considerando aspectos econômicos do manejo realizado. No próximo ano, os técnicos esperam já poder contar com dados suficientes sobre a safra atual que possibilite avaliar a importância do manejo anterior para o ano em curso.

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