Se considerarmos que na atividade pecuária, genética, nutrição e manejo, formam um tripé, fundamentalmente, importante para se aferir bons resultados e que, qualquer alteração envolvendo um desses pontos, causa, frequentemente, sérios prejuízos é importante que se buscar manter uma harmonia entre eles. Existe uma máxima bastante conhecida dentro da pecuária que diz que 50% do bovino entra pela boca, ou seja, boi que come pela metade produz pela metade. De olho nessa realidade e disposta a oferecer ao segmento de sementes para pastagem, uma nova tecnologia para garantir maior eficiência em menor área, uma empresa mexicana, está lançando no mercado brasileiro uma espécie de braquiária híbrida.
O grupo Papalotla em parceria com o CIAT, Centro Internacional para Agricultura Tropical, localizado na Colômbia, desenvolveram uma variedade de forrageira denominada Capim Mulato que promete mexer com esse segmento de pastagens comerciais. Antônio Kaupert diretor do grupo no Brasil fala que ela é uma forrageira híbrida, que originou-se de cruzamentos naturais entre braquiárias, iniciados, há mais de 14 anos. “O pasto Mulato possui o vigor híbrido de seus progenitores, superando-os em qualidade e produtividade”, destaca.
Kaupert observa que a cultivar Mulato (CIAT 36061), que já está sendo comercializada, desde 2001, com sucesso em países como o México, Honduras, Panamá, Costa Rica, Colômbia, República Dominicana e outros países da América Latina, está sendo lançado, também, no Brasil. Com esse lançamento, o grupo mexicano espera reunir resultados ainda melhores, dada a dimensão e a potencialidade do território brasileiro. O desempenho da cultivar híbrida é capaz de proporcionar uma produção de até 25% mais leite por vaca, por exemplo, se comparado com outras variedades disponíveis no mercado. Seu maior atributo é a qualidade nutricional que mantém se bem manejada 16% de proteína crua e 62% de digestibilidade em média”, explica o representante.
Além disso, a espécie se adapta a solos de boa drenagem, de fertilidade média e alta, com pH acima de 5,0, exigindo uma precipitação anual de pelo menos 600 mm em situações de sequeiro.” A forrageira suporta bem os longos períodos de estiagem, entre 7 a 8 meses, característica de algumas regiões do Brasil, E isso devido a seu sistema radicular profundo, ou seja, a planta captura água com mais facilidade” enfatiza. Outra qualidade importante da variedade está em seu fenótipo que é ser uma planta estolonífera, ou seja, capacidade de enraizamento a partir dos talos, propiciando uma melhor resposta quanto a cobertura da área, além de agir contra eventuais invasoras.
A aplicação da variedade, no que se refere a preparação do solo, segue o modelo convencional com limpeza da eventual vegetação existente, passagem do arado e grade. Quando a terra não permitir uma preparação mecanizada do solo, os pequenos arbustos devem ser eliminados e incinerados logo antes do início das primeiras chuvas. Podem ser utilizados herbicidas não seletivos, de contato ou sistêmico imediatamente após o plantio e antes da germinação. As datas mais indicadas para plantio, sob condições de sequeiro, são desde o início das primeiras chuvas até o final o final da temporada. Assim, as sementes podem ser lançadas ou plantadas num espaçamento de 80 a 100 entre linhas. Já em terreno de perfil acidentado ou plano que permitem mecanização, a melhor opção é o plantio hill-plot. Em todos os casos, a profundidade não deve exceder 2 cm, lembra Kaupert.
Atualmente, o Brasil possui mais de 50 milhões de hectares de pastagens que se encontram degradadas. Como alternativa para esta situação apresenta-se, a renovação sustentável através da associação de pastagens com culturas anuais, soja, milho, sorgo, arroz, feijão ou girassol que vem, proporcionando, um maior abastecimento de carne e leite, inclusive, nos períodos de sazonalidade. De acordo com o diretor da empresa mexicana, analisando esses dados torna-se fundamental se buscar uma produção a custos reduzidos, maximizando a lucratividade da atividade pecuária. Pesquisas recentes indicam ganhos de peso adicionais superiores a 100 kg de peso vivo/ ha/ano utilizando-se sistemas de pastagens em rotação com a lavoura de grãos, promovendo aumentos de mais de 20% de receita líquida durante o período das chuvas. Outro benefício importante refere-se à redução da incidência de doenças como fungos de solos, reduzindo a necessidade de herbicidas em até 30% na cultura subsequente.
Eficiência Comprovada
Em novembro de 2003, durante um congresso do CEA, Consórcio para Experimentación Ganadeira, em Assunção, Paraguaí, Antônio Kaupert, por intermédio de Marcos Alberto Mantelato, diretor da Bellmam Nutrição Animal, conheceu Carlos Arthur Ortenblad, proprietário da fazenda Água Milagrosa de Tabapuã, SP, e um dos maiores selecionadores da raça Tabapuã do Brasil. Durante o encontro, o pecuarista que têm no sangue o tino empreendedor, após ser informado que Kaupert era diretor geral no Brasil do grupo Papalotla, empresa com vários anos de atuação no mercado de sementes para pastagem e que estava com um novo lançamento em forrageira híbrida, ofereceu-lhe a possibilidade de realizar um teste com o Capim Mulato em sua fazenda.
De acordo com o titular da Água Milagrosa, no mesmo mês, o representante da empresa recebeu um esboço do teste com o capim Mulato, onde constavam informações sobre formas de aferir performance e custo de produção, tanto em valores absolutos, quanto em relação a uma variedade que serviria de testemunha, na ocasião a Braquiária Brizanta (Marundú), em absoluta igualdade de condições e tendo como parâmetros UA, Unidade Animal ou (450 quilos) e Ha, hectare (10.000 m²). A localização da fazenda fica numa região do médio planalto paulista e ocupa uma área de 3.070 ha, distribuídas em linhas de altitude de 450 e 510 metros, com relevo suave de pouca ondulação.
As áreas escolhidas para realizar o plantio do Capim Mulato (pasto Catiguá 14, com área útil de 21,6 hectares divididos em três piquetes e do capim Braquiária Brizanta ( testemunha) na mesma proporção, com área útil de 19,08 hectares, ambos com cerca elétrica. Paulo Henrique Julião de Camargo, gerente pecuário da fazenda, lembra que as características físicas e químicas, também eram bastante similares, de acordo com uma analise do solo realizada pouco antes do plantio. A escolha deveu-se a dois fatores, as duas áreas eram próximas, portanto, apresentando a mesma mesmas características topográficas.
Para ajuste isonômico dos lotes “Mulato” e “Testemunha”, em 27 de janeiro deste ano receberam 147 novilhas pesadas com volume total de 35.644 Kg ou 79,21 UA. No primeiro lote (Mulato), foram colocadas 77 novilhas que na mesma data representavam 42,06 UA. Já o lote do capim testemunha foi composto de 70 novilhas que representavam 37,15 UA. De janeiro a outubro de 2004, ambos os lotes de animais tiveram o mesmo manejo ( pasto com piquetes e cerca elétrica), mesmo trato sanitário e suplementação mineral. Foram então estabelecidas as seguintes datas de pesagem para aferir ganho de peso, a cada 28 dias. Ao todo foram 10 pesagens, sendo que apenas a última foi com intervalo de 30 dias, explica o gerente da fazenda. ” Se alguém achar estranho que, já na primeira pesagem, o lote de capim Mulato obteve lotação de 5,67 UA/ha e o testemunha 3,08 UA/ha, quando dias antes ambos os lotes estavam parelhos, a explicação é fácil”.
A resposta do Capim Mulato nas planilhas de pastagem mostram que mesmo plantado em menor área conseguiu suprir as mesmas necessidades de nutrição dos respectivos lotes, sem prejuízos aos piquetes e nem ao gado. Segundo Ortenblad, faz-se necessário que se ressalte a seriedade com que os representantes do Grupo Papalotla e dos técnicos que davam assessoria aos trabalhos realizados na fazenda. “Não apenas nos dias de pesagem, mas durante quase todo o ano de relacionamento, foi intenso o fluxo de trocas de idéias e informações e isso fez com que o trabalho por natureza, árido e burocrático, se tornasse vivo e estimulante do ponto de vista intelectual”.