Listado como um dos principais importadores na década de 90, o Brasil deu um salto na qualidade das fibras produzidas e está hoje entre os principais exportadores mundiais ao lado de tradicionais produtores como Austrália e EUA.
Dados oficiais do governo brasileiro mostram que o país não só aumentou seus volumes exportados como também diversificou seus mercados, com novos clientes principalmente na Ásia e na Europa. Em 2003, o Brasil embarcou 175,4 mil toneladas de algodão para 47 países, o que gerou receita para o país da ordem de US$ 188,5 milhões, isso representa crescimento de 60% no volume exportado e 560 em valores, na comparação com 2002.
Atualmente, o principal pólo de produção da cultura no país está localizado na região Centro-Oeste e responde por 74,47% do algodão produzido de diferentes espécies. Isso somando à produção de algumas localidades no estados da Bahia e Maranhão elevam esse índice para mais de 80,0% do efetivo nacional. Segundo dados do Centro Nacional de Pesquisa do Algodão, CNPA, de Campina Grande, PB, órgão vinculado a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Embrapa, o Mato Grosso é o estado que mais se destaca nesse contexto, contribuindo com 54,36% desse montante e é considerado uma das mais importantes áreas em expansão da cultura do algodão herbáceo no Brasil. Nos últimos 20 anos, o estado deixou uma situação, onde a cultura ocupava apenas 4,5 mil hectares de toda a área plantada, o que garantia a ele uma produção de pouco mais de 4,9 mil toneladas, para atingir na safra 2002/03, um volume equivalente em área próximo de 330 mil hectares e uma produção recorde de mais de 500 mil toneladas colhidas.
Outro fato determinante para evolução da cultura do algodão no Centro-Oeste foram os sucessivos aumentos na produtividade por área. Enquanto no Sul, representado pelo estado do Paraná, a produtividade média é de 2.388 kg/ha e no Sudeste, de 2.448 kg/ha de algodão em caroço, a região Centro-Oeste alcança números próximos a 3.550 kg/ha, índice que em média é 47% maior. Goiás ocupa hoje a segunda posição em volume de área cultivada com algodão e sua produção atingiu mais de 300 mil toneladas de algodão em caroço na última colheita. Quanto a produção de pluma, os números indicam um crescimento de 48,1% em relação ao montante colhido na safra passada, devendo sair dos 847,5 mil toneladas produzidas em 2003, para os atuais 1,2 milhão de toneladas na safra 2003/04. Em valores absolutos significa que serão disponibilizados para o mercado um adicional de 407,6 mil t. No Mato Grosso a contabilidade da produção fechou em 547,4 mil t, sendo que este montante corresponde a 45,7% do total Brasil. Em seguida aparece a Bahia com 252,3 mil t e participação de 20,1% seguido por Goiás com 165,5 mil t ou 13,2% da produção nacional, segundo dados da Conab, Companhia Nacional de Abastecimento.
Segundo Hélio Tollini diretor executivo da Abrapa, Associação Brasileira dos Produtores de Algodão, esse deslocamento da produção de algodão para a região dos cerrados brasileiros foi resultado de inúmeros fatores somados. Para ele, as condições de clima e topografia favoráveis ao desenvolvimento da cultura, aliado ao desenvolvimento tecnológico de variedades adaptadas às condições locais, tolerantes a doenças e com maior potencial produtivo, foram determinantes para os bons resultados apresentados na região. No entanto, enfatiza, esse movimento é resultado de quase duas décadas de pesquisas que envolveram diferentes elos da cadeia produtiva. “Inúmeras experiências foram realizadas em propriedades rurais de médio e grande porte, muitas vezes financiadas por bancos privados ou pela própria iniciativa privada, através das empresa fornecedoras de insumos. Além disso, a expressiva elevação dos preços no mercado interno, movimento iniciado a partir de 1997 e causado pelo estreito suprimento do produto também serviu de estímulo para que governos estadual e federal, através de programas especiais de incentivo, devolvessem ao algodão seu lugar de destaque entre as principais culturas do país”, conclui o pesquisador.
Para Napoleão Esberard de Macedo Beltrão, pesquisador do CNPA, Embrapa, o Brasil é, de longe, o maior produtor de fibra de algodão em sistema de sequeiro do mundo, com uma produção que ultrapassa a de grandes produtores mundiais. Com a vitória brasileira na Organização Mundial do Comércio, OMC, na queda de braço com os, EUA, pela redução nos subsídios agrícolas para o algodão, o Brasil aumenta e muito suas possibilidades de comércio nos mercados internacionais. “Os resultados conquistados no campo, proporcionaram ao Brasil, não só abastecer a demanda da indústria têxtil nacional que absorve hoje mais de 800 mil toneladas de fibra de algodão in-natura por ano, mais formar um excedente exportável, superior a 400 mil toneladas. “Apesar disso, o país ainda importa cerca de 90 mil toneladas de fibras de algodão todos os anos para abastecer sua indústria. Esse volume é atraído, principalmente por demandas específica de algumas empresas por certas variedades de fibras, mas não chega constituir-se um problema para a cadeia produtiva”, explica o pesquisador.
Biotecnologia a serviço da produção
O melhoramento genético da espécies foi colocado como objetivo prioritário de cotonicultores e pesquisadores para se conseguir um produto de melhor qualidade que atende-se satisfatoriamente os diferentes mercados. Para elevar a resistência das fibras, finura, comprimento e uniformidade bem como estabilizar a coloração das fibras nas tonalidades creme e marrom e elevar a produtividade a nível de campo, utilizou-se inicialmente o método de seleção individual com testes de progênies, e posteriormente o método de cruzamento seguido de seleção genética, para obtenção de variações nas tonalidades de cores. A partir de 1996 foram incluídas nas pesquisas algodões de coloração verde e procuradas novas combinações de cores, através de cruzamentos dos algodões marrom, creme e verde. Nos últimos três anos foram estudadas 217 progênies, 35 novas linhagens e 22 linhagens avançadas de algodão colorido, nos municípios de Patos e Monteiro, PB e Touros, RN, explica Napoleão Macedo.
Segundo ele, o algodão BRS 200 foi descoberto no Brasil a partir do melhoramento genético de uma espécie de algodão nativa do semi-árido nordestino conhecida como Mocó. Os pesquisadores observaram que algumas dessas plantas apresentavam aleatoriamente a coloração marrom. A eles coube a tarefa de combinar, numa mesma espécie, genes responsáveis pela cor e genes produtores de plantas com fibras mais resistentes. Para o técnico, graças a essa intervenção tecnológica foi possível produzir um algodão comercialmente viável.
Inicialmente foram efetuadas avaliações de produtividade e das características de fibras dos 11 acessos de algodão arbóreo colorido existentes no Banco de Germoplasma. Constatou-se que o comprimento das fibras dos acessos coloridos variou de 25,9 a 31,6mm, a resistência era muito fraca, com 60% dos materiais variando de 19,5 a 21,7 gf/tex, o que impossibilitaria sua industrialização em fixações modernas, que exigem algodões de alta resistência. ” Existem atualmente na indústria têxtil máquinas de tecer com motores que giram 150 mil vezes por minuto. Isso exige um algodão mais uniforme e com fibras mais resistentes”, explica o técnico. Além disso, a produtividade, à nível de campo variou de 294 a 1.246 kg/há”, conclui.
A pesquisas encontram-se em fase de aumento de sementes e lançamento da cultivar de fibras coloridas, BRS 200 – Marrom. As sementes foram aumentadas em áreas irrigadas, no município de Touros e Ipanguaçú, RN, e Patos, PB, nos anos de 1998 a 2000. Dentre nove linhagens coloridas foram escolhidas duas de coloração marrom/creme, para plantio no campo experimental de Patos, PB, e Barbalha, CE. Posteriormente, no ano 2001 foram disponibilizadas aos produtores, sementes de uma cultivar de algodoeiro anual de fibra verde, derivada da cultivar CNPA 7H. A cultivar BRS 200 desenvolvida em 2000, foi a primeira cultivar colorida geneticamente plantada no Brasil, contribuindo para o surgimento de novas opções de mercado e de emprego para os agricultores familiares e artesãos do Nordeste. A BRS 200 é um composto constituído pela mistura em partes iguais de sementes das linhagens CNPA 92 1139, CNPA 94 362 e CNPA 95 653, que possuem fibras de coloração marrom claro. Por ser uma cultivar com ciclo produtivo de três anos, selecionada a partir de algodoeiros arbóreos nativos do semi-árido nordestino, possui alto nível de resistência à seca.
A planta apresenta produtividade 64% superior as cultivares de algodoeiro mocó (CNPA 5M), porém em condições de sequeiro sua produtividade é quase equivalente a da CNPA 7MH, apesar de em condições irrigadas, produzir 22 % a menos que a 7MH. A fibra da BRS 200, por ser de coloração marrom clara, obtida através de processo de melhoramento não-transgênico, possui valor de mercado, 30 a 50% superior as fibras do algodão branco normal, que associada a produtividade mais elevada e maior rendimento de fibras, resulta em receita acima de 560, em Racionalidade no manejo.
Com relação ao uso do Manejo Integrado de Pragas- MIP, considera-se que esta tecnologia é uma das mais amplamente adotadas pêlos produtores de algodão, desde a década de 1980, quando foi divulgada a primeira versão organizada desta tecnologia para o algodão no Brasil. O sucesso da adoção desse programa se deve a estratégia montada para a sua divulgação e demonstração, incluindo documentação fotográfica, publicações , unidades demonstrativas, bem como o esforço conjunto de todos os entomologistas e instituições de pesquisa do país. Pôr outro lado, ao ser divulgada esta tecnologia havia um consenso entre os produtores e especialistas de que era essencial para a sobrevivência da cotonicultura que fossem adotadas técnicas de racionalização no uso de agrotóxicos, visando a redução dos custos de produção e a defesa dos produtores e do meio ambiente.
Ao longo dos 20 anos de divulgação do MIP, essa tecnologia vem sendo aperfeiçoada, massificada, privatizada, informatizada e incorporada ao processo produtivo. Estima-se que no Brasil em 84 % da área cultivada pratica-se alguma forma de MIP, incluindo-se o MIP em seu sentido amplo, para todas as pragas da lavoura e MIP parcial, apenas para algumas pragas. O modelo mais amplo é praticado em aproximadamente 500 mil ha no Brasil, sendo condição essencial para a sua utilização, a escolha de uma cultivar resistente a viroses, para a formação da lavoura. As lavouras que utilizam esta tecnologia normalmente apresentam custo de produção 10% menor, graças a utilização de menos aplicações de defensivos, uso de produtos seletivos e de custo mais baixo, aplicações de inseticidas em doses mínimas e menor utilização de equipamentos e de mão de obra.
As áreas que utilizada MIP parcial, são correspondentes aos outros 30% e em sua maioria se explica pela formação das lavouras com cultivares susceptíveis a viroses, que possibilitam o uso do MIP para a maioria das pragas, associada ao controle rigoroso dos pulgões e moscas brancas como vetores de vírus. Essas lavouras apresentam custos aproximadamente 10% mais caro, porém continuam na preferência dos produtores, graças ao alto potencial produtivo das cultivares utilizadas, especialmente a CNPA ITA 90 e Deltapine Acala 90. Existe também no Brasil uma pequena percentagem de área (15,8 %) que não pratica o MIP, correspondente aos agricultores de menor nível tecnológico, localizados principalmente no semi-árido nordestino e parte da região norte do Brasil. A tendência que se observa é da substituição lenta (em 2 a 3 anos) das cultivares susceptíveis a viroses pôr cultivares resistentes, passando assim a maioria da produção brasileira a praticar o MIP pleno, com benefícios para a competitividade do algodão nacional e para o meio ambiente.