O evento contou com a participação de produtores de diferentes regiões do país, além de técnicos e pesquisadores ligados aos principais órgãos e institutos de pesquisa que desenvolvem seus trabalhos na linha da agricultura de preservação. Neste ano em que a FEBRAPDP completa 12 anos, estamos promovendo este encontro cujo objetivo principal é a qualidade do sistema de plantio direto em sua inúmeras apresentações, ressalta o presidente da entidade Ivo Melo.
Ivo fala que é com grata satisfação que por mais uma vez, a federação reúne todos os interessados no avanço e consolidação de uma agricultura sustentável e trazem para discussão assuntos de extrema importância para o contexto do agronegócio brasileiro. Para ele, depois de mais de 30 anos acumulando diversificadas experiências, a filosofia do PDP, conquistou seu espaço, desenvolvendo e amadurecendo seus paradigmas, de forma dinâmica, para enfrentar os desafios de produzir sustentavelmente para alimentar a sempre crescente população mundial. “Nosso estágio atual nos habilita a concorrer com os melhores sistemas agroecológicos de produção sustentável, pois reconhecidamente o sistema de plantio direto proporcionou inúmeras vantagens para as diversas cadeias produtivas do agronegócio mundial”, conclui o presidente da entidade.
O encontro contou com uma pauta recheada de debates, palestras e mesas redondas, onde foram levantados temas relevantes em termos de agricultura sustentável e preservação do meio ambiente nas diferentes regiões brasileiras. A palestra do pesquisador Itacir Barreto de Mello que é engenheiro agrônomo da Emater, RS, teve como tema, ” O Sistema de Plantio Direto na Pequena Propriedade do Rio Grande do Sul”. Na sua apresentação o pesquisador deu especial destaque a um projeto criador na região que tem como objetivo democratizar o SPD. Segundo ele, o projeto “METAS”, nasceu em 1993 de uma parceria entre as iniciativas público e privada, com a finalidade de promover ações de pesquisa e de capacitação técnica, no sentido de viabilizar e difundir o sistema de plantio direto, principalmente em nível de bacias hidrográficas, envolvendo o médio agricultor, com prioridade para a agricultura familiar.
Mello conta que, no estado do Rio Grande do Sul, a agricultura familiar se constitui no principal segmento fundiário agrícola e é formada basicamente de pequenos agricultores, aproximadamente 360 mil famílias. As características dessas propriedades são tradicionalmente de usar tração animal e humana, agregando um enorme contigente de público e área agricultável. segundo ele, particularmente, o sistema de plantio direto que utiliza esse tipo de tração, tem como berço as regiões do alto Uruguai e planalto do RS. Colaboraram também para a expansão do sistema, diversas unidades de validação técnica, científica e com metodologias participativas estrategicamente instaladas nessas regiões, envolvendo a pesquisa da Embrapa, a Extensão Rural (Emater/ Cotrel), além de produtores rurais e fabricantes de diferentes modelos de semeadoras e matracas dos estados de SC, RS, PR. ” Buscamos a adaptabilidade de acordo com as peculiaridades de cada unidade de produção, desenvolvendo máquinas e equipamentos com desempenhos operacionais compatíveis com estes segmentos fundiários”, fala. Em resumo conclui ele, o sistema de plantio direto no Rio Grande do Sul ocorreu a partir de 1993, tendo seu pico evolutivo no ano de 1998. Em 2003, o modelo já tinha alcançado 3.885.517 ha. o que corresponde a 64% da área utilizada com culturas anuais no estado. Atualmente o modelo de plantio direto sobre a palhada abarca quase a totalidade das propriedades agrícolas do estado e isso nas diferentes culturas praticadas.
Seguindo uma linha de pesquisa análoga, a engenheira agrônoma e mestre em ciência do solo, Lutécia Beatriz Canalli, da Emater, PR, falou sobre o desenvolvimento do sistema de plantio direto nas diferentes localidades dentro do estado. A pesquisadora no entanto, deu uma ênfase especial na sua apresentação, às instituições de pesquisa que forneceram as bases para o desenvolvimento do SPD e para alguns produtores pioneiros que acreditaram na idéia e abriram as portas de suas propriedades para que o sistema fosse implantado efetivamente. Alguns nomes como, Herbert Bartz de Rolândia norte do Paraná, Manoel Henrique Pereira ( Nôno Pereira ) e Frank Dijkstra da região dos campos gerais de Ponta Grossa, PR, foram segundo ela, expoentes do SPD no Brasil e merecem ser reverenciados.
Canalli enfatiza que o estado do Paraná por meio da secretária da Agricultura, sempre funcionou como aliado dos produtores e dos órgãos de extensão rural. Segundo ela, levando em consideração as boas perspectivas para a adoção do sistema de plantio direto nas pequenas propriedades, o governo criou em 1996 o programa Paraná 12 meses que foi sucedido em 1998 pelo Sistema Paraná Rural, ambos apoiados por recursos do banco mundial que subsidiava às pequenas comunidades o que ficou conhecido como ” Kit Plantio Direto”, ou seja, uma semeadora, um rolo faca e uma plantadora. Além disso, se investiu pesado na capacitação de técnicos e produtores. O resultado desta decisão foi um incremento expressivo na área sob sistema de plantio direto utilizando tração animal que passou de 2,5 mil ha. em 1994/95 para 137,5 mil no último levantamento realizado agora em 2003/04.
O projeto “Grãos”, feijão e milho é outra idéia que vem dando resultados e já conta com a participação de 37 municípios situados em 8 regiões do estado. O programa tem como base 110 unidades demonstrativas (61 de feijão e 49 de milho) em torno das quais cerca de 20 produtores formam o que se pode chamar de grupos de discussão/ resultados, totalizando aproximadamente 2 mil produtores assistidos de forma direta e intensiva. As unidades e os grupos de discussão são supervisionados por 41 técnicos da Emater, PR, capacitados para esse fim. Os produtores de cada grupo participam de todo o processo avaliando a tecnologia aplicada na unidade implantada na sua comunidade. Fazem uma comparação com a sua maneira de produzir e discutem resultados com outros produtores. As unidades de 1 hectare são conduzidas com base em uma tecnologia mínima, adequada ao sistema predominante, desmistificando que lavoura tecnificada seja coisa somente para grandes propriedades, enfatiza a pesquisadora. ” Quando iniciamos o projeto em 1999, somente 22% dos produtores utilizavam o sistema plantio direto no estado, em 2002, esse número já era superior a 51% e hoje ultrapassa os 60% segundo dados da FEBRAPDP.
A produtividade média conseguida nas unidades demonstrativas com feijão chega a 2,219 Kg/ ha, com alguns produtores alcançando 3mil Kg/ha. No caso do milho essa média subiu para 6.971 Kg./ha com pico de até 9.826 Kg/ha em algumas propriedades. Segundo a pesquisadora no Paraná a média na produtividade de feijão é de 1.165 Kg. e a média brasileira é de apenas 704 Kg/ha. Para o milho os números também mostram uma discrepância enorme com a média comum do estado que é de 3.700 Kg/ ha. e a nacional 2,8 mil, segundo dados retirados do relatório anual do projeto Grãos feijão e milho, 2003.
Entre os agricultores que estiveram presentes ao evento, os relatos mostram experiências bastante interessantes de agricultores que deixaram a agricultura convencional para se dedicar ao plantio direto com rotação de culturas e hoje, já começam a colher alguns resultados. Cesar Henrique Rinhel, engenheiro agrônomo e produtor na região de Assis e Armando Maschieto proprietário do sítio São José, de Pedrinha Paulista, região do Vale do Paranapanema, contam que após a utilização do sistema de plantio direto a produtividade por área aumentou sensivelmente. Rinhel que também é extensionista da CATI, Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, conta que para se fazer a difusão do trabalho de pesquisa de forma que essa tecnologia possa ser aplicada na vida do produtor, é preciso se levar em consideração o contexto social desse agricultor visando a qualidade de vida na região onde ele está inserido. Ruy Hamilton de Mattos Vaz que também é agrônomo e assistente técnico da FEBRAPDP fala que o trabalho de extensão é muito importante, pois leva os resultados de pesquisas até o campo, criando assim uma nova consciência no produtor rural trazendo ele para a verdadeira realidade da atividade agrícola.
Antônio Franco Neto é diretor tesoureiro da APDVP, Associação de Plantio Direto do Vale do Paranapanema e tem uma propriedade com cerca de 300 ha. onde planta milho, feijão, soja e trigo. Segundo ele. o SPD está bastante inserido no contexto das cooperativas paranaenses abrangendo quase 560 das propriedades com esse perfil no estado. ” As mudanças não requerem tanto investimento por parte do produtor que mesmo na fase inicial de implantação fica equivalente ao convencional. O que precisa mesmo é uma mudança profunda na atitude desse produtor com relação ao nicho no qual ele está inserido”, enfatiza o agricultor. Bruno Alísio Schlegel que também é diretor da APDVP, fala também que a questão custo perto dos benefício em termos de conservação das áreas é irrisório. Neto planta na sua propriedade no município de Pedrinha Paulista, SP, uma área de 350 ha. com soja e milho no verão e no inverno milho safrinha, devido a sua região possuir um clima privilegiado e milheto como cultura de investimento. Schlegel possui uma área de 750 ha plantados no verão com 1/3 de milho e 2/3 de soja e no inverno 1/3 milho safrinha 1/3 trigo e 1/3 aveia, tudo no sistema plantio direto na palhada.