No entanto, é muito importante atentar para a participação do pecuarista, nesse processo de produção, para que ele, não se torne apenas um mero espectador, contando apenas com aquilo que a natureza pode oferecer. E, é justamente quando tocamos neste ponto, que os problema começam a aparecer. Ao longo das últimas décadas, quase a totalidade dos bovinocultores brasileiros fizeram um uso indiscriminado de suas terras, sem nenhuma preocupação em devolver ao solo macros e micros nutrientes vitais para sua preservação. O solo tornou-se cada vez mais pobre e em algumas regiões de solo mais carente, como o Centro Oeste do país por exemplo, as estimativas mostram que, hoje, até 70% das áreas de pasto, apresentam algum tipo de degradação.
O motivo é público e notório, os baixos níveis de nutrientes, principalmente, fósforo e calcário e a alta acidez o que o torna infértil. Um outro agravante é que os danos são acumulativos, o que torna o problema difícil de se reverter no curto prazo. De acordo com pesquisadores da Embrapa gado de corte, de Campo Grande, (MS). É preciso atentar para o problema o mais rápido possível pois, a forma como os pecuaristas brasileiros manejam sua áreas de pastagens, é motivo de ficarmos em alerta. As más práticas são responsáveis pela diminuição gradativa da capacidade de suporte forrageiro das pastagens, e isso vem sendo verificado ano após ano na maior parte das propriedades brasileiras, explica.
Se o Brasil deseja manter-se na primeira colocação entre os países, grandes produtores de proteína vermelha do mundo, a frente, inclusive, de potências como Austrália e EUA, é preciso atentar para esse fato rapidamente, alertam os técnicos.
O caminho para a solução deste problema passa por medidas, relativamente, simples, mas, que por requererem um investimento por parte do proprietários das fazendas, na maioria das vezes, acabam sendo adiadas, a pretexto de serem realizadas posteriormente. Segundo Eduardo Pimenta Peres, zootecnista e consultor técnico da Matsuda Sementes e Nutrição Animal, a solução para o problema depende de ações planejadas, de modo a normatizar todo o sistema de produção forrageiro das propriedades. Peres explica que o acompanhamento das áreas de pastagem no Brasil, ainda é realizado de forma muito empírica, ou seja, sem um sistema de gerenciamento de dados que facilite as tomadas de decisões.
O planejamento forrageiro correto, explica o Peres, possui alguns pontos importantes que precisam ser observados. O ponto de partida na opinião do consultor técnico da Matsuda, é estimar qual a produção de matéria seca (MS), anual por hectare, dentro da fazenda (oferta), e relacionar esse dado com o consumo de MS/ha/ano (demanda). No entanto, para que o criador consiga chegar aos seus primeiros resultados é necessário que ele siga um planejamento estratégico que propicie uma visualização maior da sua produção.
O primeiro passo consiste no mapeamento total da área da fazenda que, por sua vez, deve ser subdividida em módulos e, posteriormente, em piquetes para um controle mais efetivo da área. As medições são realizadas com o acompanhamento do zootecnista em conjunto com o funcionários da fazenda. O período de mensuração do volume de MS, produzido abrange os 12 meses, iniciando nas águas em meados de setembro/outubro e seguindo com avaliações mensais que atravessem todo o período de estiagem, culminando em maio/ junho do ano subseqüente.
A segunda analise está relacionada ao consumo de capim para conversão em arrobas por hectare ano. Esse segundo está ligado, a lotação de animais por pasto na fazenda. No início do período de planejamento, o pecuarista precisa fazer um levantamento do rebanho e fazer uma projeção de evolução destes animais em quantidade, mas também em ganhos de arroba. Assim explica o consultor técnico da Matsuda é possível o criador chegar a um percentual da evolução mensal do seu rebanho. Essas duas analises devem ser feitas concomitante para que, posteriormente, os dados sejam confrontados com a primeira analise.
O consultor técnico explica que, no caso de superávit de estande forrageiro na propriedade, após apurado os dois levantamentos, o direcionamento deve ser de acordo com o objetivo do produtor para aquele período. No caso de déficit na avaliação se o percentual for superior a 80% de cobertura com pasto e os outros 20% for de plantas invasoras ou falhas no terreno, está área está apta a ser reformada. Agora, se este percentual for inferior a 60% de ocupação, o mais indicado é gradear para reformulação total do pasto, explica Peres.
A exigência por tecnificação no sistema de produção pecuária, aliado aos numerosos avanços tecnológicos sofridos pelo setor nos últimos anos, vem auxiliam o produtor, no sentido de garantir mecanismos que o auxiliem na sua tomada de decisões. Isso tem fez aumentar muito o número de propriedades que buscam no planejamento, a saída para vencer os desafios do mercado globalizado. Preocupada com esse avanço e buscando se adequar a essa realidade, a fazenda Sondotécnica localizada no município de Engenheiro Navarro, região norte de Minas Gerais vem desenvolvendo um trabalho bastante interessante com suas pastagens.
Para o administrador da fazenda Pedro Simão Gonçalves, o sistema de rotação de cultura, utilizado na propriedade, foi uma alternativa que ele buscou para resolver o seu problema de estande forrageiro. Orientando os trabalhos na fazenda desde 1974, Simão conta que a partir de 1994, eles resolveram era preciso planejar melhor a produção de pasto na fazenda. ” Foi a partir daí que nós começamos a fazer rotação de culturas em pontos estratégicos da propriedade”, conta. Desde então todos os anos Simão escolhe uma área equivalente a 110 hec., para plantar sorgo que, além se servir de silagem para os animais no período de estiagem, que na região costuma ser demasiadamente longo, proporciona mais uma correção de nutrientes para o solo. ” Desta forma, é possível garantir alimentação em quantidade abundante para o rebanho o ano todo”, conclui.
Com 1146,5 hectares de área, a fazenda utiliza 70% deste volume com pastagens de Mombaça e Tanzânia. Um segundo espaço, de cerca de 60 hectares, é ocupado com cultivares de Tifton e Flora Kirqui para produzir fenação. Além destas culturas, o administrador mantém 27 hec. plantados com cana de açúcar, utilizada como reserva estratégica para o período de seca. A propriedade abriga um rebanho de 2176 cabeças de gado, divididos em rebanho Nelore PO e Nelore comercial. O administrador mostra que, no caso da fazenda Sondotécnica, o custo de implantação deste sistema, gerou um custo médio da ordem de R$ 800,00, por ha, incluindo preparo do solo, plantio e correção de ácidos.
Segundo o consultor técnico da Matsuda Sementes e Nutrição Animal que acompanha a propriedade, a implantação de um sistema de pastagem eficiente está intrinsecamente ligada às condições de fertilidade do solo, a espécie forrageira utilizada e o volume pluviométrico da região. ” O volume de matéria seca produzida pode sofrer variações de acordo com condições externas. No caso dos panicuns (Mombaça e Tanzânia), esta produção pode variar entre 85% nas águas para até 15% na seca. Já com as Braquiárias que são naturalmente mais resistentes essa relação sobe de 70% par 30%, isso nas condições da região do norte de Minas Gerais.
Outro exemplo de trabalho planejado é a fazenda Santa Terezinha, de propriedade do pecuarista Rodrigo Canabrava. Localizada no município de Bocaiuva -MG-, a propriedade possui, aproximadamente, 11 mil ha, subdivididos em 8 retiros. Célio Viana Barbosa que há 9 anos administra a fazenda diz que, o sistema de pastejo é simples com carga variável, ou seja de acordo com as condições do estande forrageiro por área é que o volume de ocupação é determinado. O planejamento da área é feito em cima de um mapeamento da área de pastagem, com piquetes que variam de 6 a 40 ha. O volume de ocupação varia de 1,5 a 2 cabeças por ha/ano. O rebanho está estimado em 10.500 cabeças de gado Guzerá e Guzonel oriundos de cruzamento industrial. Os animais que são produzidos na fazenda são abatidos com um tempo médio de 30 meses.
Peres conta que ele, em conjunto com o administrador da fazenda Santa Terezinha estão desenvolvendo é a aplicação de gaiolas para medir medir produção de matéria seca. O projeto consiste em colocar ao longo da propriedade pequenas gaiolas de 1 metro quadrado, cercadas com arame farpado que impede dos animais pastejarem naquele local. Durante um ano, o pasto que nascer dentro desse espaço, será cortado uma vez a cada 42 dias, em média. O conteúdo extraído passa pela balança e os números são registrados. Assim, explica o técnico, após o término do período, o técnico tem como aferir a produção de matéria seca de cada espécie forrageira nas condições de solo e clima da propriedade. “O projeto ainda está em fase de experimentação, mas assim que for possível obter números reais referente a esses resultados na Santa Terezinha a idéia é utilizar o metodologia em outras propriedades da região”, conclui.
Numa terceira propriedade visitada, também foi possível observar que, o planejamento estratégico dentro das propriedades rurais, podem tomar contornos variados em busca de um objetivo comum, a maximização dos lucros. A fazenda Caraíbas, do grupo Sebastião Clecy tem uma área de cerca de 2,8 mil hectares muito bem cuidados pelo seu administrado Eleonardo Soares Santos. Com um rebanho de 2,5mil animais de média a fazenda produz cerca de 1.500 cabeças de gado para abate/ano.
Nesta propriedade, o zootecnista e consultor técnico da Matsuda, desenvolve um projeto que apesar de embrionário, promete revolucionar o sistema de armazenagem de dados das fazendas. O software desenvolvido (batizado de MONITORE) tem capacidade de realizar um gerenciamento completo da produção e demanda de MS da propriedade. Fazenda piloto para obtenção de resultados mais concretos para o projeto, a Caraíbas realiza um acompanhamento, bastante próximo de suas áreas de pastagem.
Eleonardo conta que o acompanhamento das áreas de pastagem é realizado por ele, pelo técnico da Matsuda Sementes e um de seus peões. Cada um vai para o pasto com uma prancheta na mão para realizar avaliações sobre as áreas de pasto. Os dados são anotados referente as três avaliações e tira-se uma média do piquete.
Como exemplo o técnico apresentou dados de uma medição recente feita na fazenda. O pasto n°1, apresentava 50% de Buffel e 50% de Guiné. Na medição de estande forrageiro as notas foram 95%, 90% e 90%, fechando uma média de 92% de estande naquele pasto e assim é feita em toda a propriedade. Desta forma explica Peres é possível fazer um inventário de toda a pastagem quantificando, o quanto cada espécie produz durante um ano, que é o tempo entre medição e outra. ” Fizemos um inventário das condições das pastagens e chegamos a conclusão que temos 75% das áreas cobertas com pastagens. Os outros 25% precisa de alguma reforma que será realizada gradativamente”, conta o administrador da fazenda. Sebastião Clecy fala que no começo sentiu-se meio preocupado com a proposta de ser cobaia do projeto, mas agora está bastante satisfeito com os resultados. ” Na verdade com esse sistema, nós temos a visão do todo da propriedade, tornando mais fácil administra-la no nosso dia-a-dia,” ressalta.
O exemplo da fazenda Aurora de propriedade do pecuarista Fioravante Secalom, localizada no município de Alvares Machado (SP), bem próximo à fronteira com o estado do Mato Grosso é bastante interessante. E isso porque, uma situação climática atípica na região, obrigou o administrador da propriedade, Adalberto Rosa Rocha, a buscar outras formas de garantir a alimentação do seu rebanho, frente a uma estiagem que já perdura por mais de 7 meses.
De agosto de 2003 para cá, a precipitação de chuvas na região foi de pouco mais de 200mm. A paisagem que compõem as pastagens de Braquiarão encontram-se praticamente consumidas pelas mais de 1500 cabeças de gado, mantidas na área. São 314 hectares, com uma ocupação média de 4,7 animais ano. Nestas condições explica Rocha, a saída é produzir silagem de cana, através de adubação do solo, assim é possível melhorar o nível de nutrientes do solo e o que faltar é reposto com suplementação mineral protéica no rebanho. “O proteinado para as condições de longa estiagem torna-se um componente indispensável”, explica.
SATISFAÇÃO COM OS RESULTADOS
A Fazenda Santo Antonio, localizada no município de Tupã, região oeste paulista, a 80 kms do Paraná e 80 kms do Mato Grosso do Sul, é o que se pode definir como modelo de planejamento, quando o assunto é reforma de pastagem. Tendo no comando o administrador de empresas Felipe Figueiredo Ferráz, a propriedade foi adquirida recentemente e vem passando, por uma completa reforma de sua infraestrutura. Com a consultoria técnica do engenheiro agrônomo Sérgio Sato, profissional de renome no meio, a fazenda com 130 alqueires foi dividida em dois módulos, no sentido longitudinal, contendo, cada um, dez piquetes de seis alqueires.
Devido ao seu avançado estágio de degradação e baixíssima fertilidade, Sergio Sato propôs um planejamento e reforma de pastagens, personalizado para a área, envolvendo, numa primeira etapa, um novo desenho topográfico, avaliação e correção do solo e divisão dos piquetes com cerca elétrica. Voltada para a produção de engorda de fêmeas para o abate, a fazenda teve praticamente 80% de sua área reformada com Brachiaria Brizantha cv MG.5 Vitória.O investimento total, incluindo a compra de sementes, foi de R$ 343,68 por hectare. “O custo com a aquisição da semente representou apenas 20% do investimento”, informa Sergio Sato.
Ele explica que o trabalho desenvolvido na Fazenda Santo Antonio levou em conta duas decisões: mexer o menos possível no solo, fazendo com que ele agregue, cada vez mais, nutrientes e água, de um lado, e de outro, trabalhar com o manejo adequado do rebanho.
Dividido em dois lotes de 400 u/a em 145 hectares, os animais são rotacionados a cada 5 dias, no período das águas, passando pelos dez pastos e, no período seco, irão girar sobre 7 pastos, durante 7 dias, pois cerca de 30% das pastagens serão vedadas a partir do final de março, durante três a quatro meses, a fim de que sejam protegidas e possam garantir alimentação para o rebanho nos meses seguintes. “A nossa proposta é fazer feno em pé”, ressalta Felipe Ferraz, confiante que terá comida suficiente para que o seu gado possa atravessar todo o período de estio sem passar fome.
“Com esse planejamento, devemos alcançar uma taxa de desfrute de 70 a 80% ao ano, sendo que nossa previsão de produção é de 2,5 a 2,8 a/u por hectare, o que está acima da média nacional”, ressalta o titular da fazenda, muito otimista com as boas perspectivas de lucro.
SUCESSO REPETIDO
Outro que está orgulhoso com os ganhos do planejamento das pastagens é o pecuarista José Roberto Pinheiro Nunes. Prefeito de João Ramalho, outro município da mesma região do oeste paulista, onde tem uma pequena fazenda de 44 alqueires, ele diz que os resultados colhidos com a reforma planejada da área são surpreendentes. Dividida em quinze piquetes com metragens variadas entre eles, foram reservados oito alqueires para a reforma da pastagem com Brachiaria Brizantha cv MG5. Vitória.
A produção de matéria seca dessa área superou não só as suas expectativas como a todos que passavam pela rodovia que beira a fazenda, chegando a incomodar a vizinhança. “Todos os pecuaristas da região queriam saber que tipo de capim era esse”, conta, “pois mesmo durante a seca, a pastagem permaneceu verde, alta e viçosa”. Embora considerado um pequeno produtor, ele destaca que o importante não é a quantidade de área, nem a quantidade de cabeças de boi em uma propriedade, para se ter sucesso no ramo da pecuária.
Pinheiro Nunes é um excelente exemplo de que mesmo pequena, uma propriedade, com pastagens e manejos adequados, pode ser muito rentável. A prova disso são os cerca de 150 bezerros que ele produz por ano, ou seja, a cada dois anos, ele praticamente consegue dobrar o número de cabeças de seu rebanho, que, hoje, é de 350 vacas reprodutoras, das raças Nelore e Tabapuã. Para Marcelo Ronaldo Villa, engenheiro agrônomo da Matsuda Sementes e Nutrição Animal, a propriedade de Pinheiro Nunes consegue bater recordes no País, com suas altas taxas de fertilidade, que é de praticamente 90% de prenhez. E isso deve ser atribuído à qualidade da alimentação que essas vacas recebem”, destaca o técnico.