“O controle biológico evoluiu em conceitos e abordagens e está cada vez mais integrado às estratégias de gestão produtiva”. Com essa mensagem, o professor da Escola Superior Luiz de Queiroz (Esalq/USP) José Roberto Postali Parra abriu o 16º Simpósio de Controle Biológico (Siconbiol) e deu o tom das discussões que permearam os cinco dias de encontro. O evento, promovido pela Sociedade Entomológica do Brasil, Embrapa Soja e Universidade Estadual de Londrina (UEL), termina nesta quinta-feira (15) e está sendo realizado em Londrina, no Paraná.
Durante a conferência de abertura, Parra ressaltou que o controle biológico não deve mais ser visto simplesmente como o combate aos insetos por meio da introdução de inimigos naturais na lavoura. Hoje, o escopo desse tipo de manejo está intimamente associado à inovação, uma vez que abrange tecnologias modernas como os biofertilizantes, bioestimulantes e bioagentes.
A diretora-executiva da Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio), Amália Borsari, corrobora as palavras do acadêmico da USP. “As tecnologias que combinam produtos de base biológica, conhecimento aprofundado das relações entre os diversos elementos do campo, uso inteligente de dados e automação nos processos são as que vão revolucionar a agricultura. O controle biológico preenche todos esses requisitos.”, avalia.
Um exemplo disso são os insetos encapsulados produzidos nas biofábricas. Eles podem ser introduzidos na lavoura por meio de modernas tecnologias de liberação, inclusive com uso de drones e técnicas de georreferenciamento. Tudo isso permite ação muito mais rápida, precisa e eficiente.
Os consumidores, cada vez mais, esperam o compromisso do produtor com o meio ambiente e com a sociedade. Para Amália, esse é outro ponto de contato entre o controle biológico e as demandas contemporâneas: a sustentabilidade. “O controle biológico integra uma estratégia que reduz a pressão no meio ambiente, por exemplo, empregando microrganismos com propriedades inseticidas no manejo das lavouras”, observa a diretora da ABCBio.
O professor lembra, entretanto, que o Controle Biológico deve ser um componente dentro das diversas estratégias que compõem o Manejo Integrado de Pragas (MIP). Diversos debates do Simpósio reiteraram essa ideia. A mensagem que permeou todo o evento foi a de que não se pode abrir mão de nenhuma tecnologia para enfrentar os desafios da agricultura tropical, como a realizada no Brasil. O controle biológico entra nessa equação como uma variável que intervém, a serviço da produtividade e com muita ciência e segurança, nas relações entre os diversos organismos que existem na natureza.
Segundo dados apresentados no Sincobiol, o mercado de controle biológico cresce na ordem de 10% a 15% ao ano no mundo e em ritmo ainda mais acelerado no Brasil. Globalmente, saltará de US$3 bilhões em 2019 para a US$5 bilhões nos próximos anos. Diante de todo esse potencial, um dos questionamentos mais frequentes no encontro diz respeito ao futuro. O que os próximos anos reservam ao controle biológico?
De acordo com o professor Parra, o horizonte é promissor. “No País, há investimentos crescentes por parte da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e de empresas privadas, incluindo startups.” Em escala global, o apetite chinês por produtos inovadores também se mostra presente nessa área, com registros de aportes de US$ 340 milhões em produtos biológicos.
“Há uma abertura maior por parte do setor produtivo para incorporar novas tecnologias e um ambiente bastante propício para novos saltos de inovação, com a aproximação entre universidades, grandes empresas e startups” revela o pesquisador sem esconder o otimismo, que pode ser considerada a palavra que resume o Simpósio.