A área disponível para produzir trigo no Cerrado é vasta e a demanda pela indústria também. Em Minas Gerais nesta safra foram semeados cerca de 83,5 mil ha. Segundo a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SEAPA-MG), a área cresceu 27 vezes no período entre 1997 e 2017 no Estado, havendo projeção para a semeadura de 232 mil ha de trigo em 2027. A produção nestas duas décadas passou de 14 mil toneladas para 225 mil toneladas.
Este mercado promissor foi tema do 3º Encontro de Trigo, na última sexta-feira (12), na fazenda Irmãos Bola, em São Basílio, Uberaba (MG). O evento foi realizado pela Biotrigo Genética, Coopadap – Cooperativa Agropecuária do Alto Paranaíba e pela revendedora Sólida. Participaram cerca de 100 pessoas, entre produtores de trigo da região, agrônomos, recomendantes e moinhos. A Biotrigo apresentou a cultivar TBIO Aton, com elevado potencial produtivo, excelente qualidade de panificação, maior resistência à Brusone na espiga e com significativo diferencial nas folhas quando comparado às testemunhas locais. Também foram temas do Encontro, os avanços das pesquisas, tecnologias adaptadas para o Cerrado e como a cadeia tritícola enfrentou os problemas causados pelo complexo de doenças instalado nas lavouras de trigo nesta safra.
Vantagens do trigo
O engenheiro agrônomo e supervisor comercial da Biotrigo para o Paraná, São Paulo e Cerrado, Deodato Matias Junior, destacou as vantagens do plantio do trigo no sistema agrícola da região. “O trigo produz uma ótima cobertura ao solo, o que reduz claramente os gastos em herbicidas para controle de ervas daninhas para a cultura de verão, além de conservar a umidade do solo em períodos de seca e diminuir a população de algumas espécies de nematóide. Todo esse conjunto de benefícios repercute diretamente na produtividade e rentabilidade do sistema, especialmente gerando benefícios na produção da soja. Em anos com chuvas dentro da média histórica, a adoção de cultivares moderadamente resistentes à Brusone demanda ainda baixo investimento de fungicidas”. Outra vantagem, conforme ele, é que o enchimento e a maturação de grãos ocorrem no período seco, apresentando normalmente reduzida incidência de micotoxinas e menores problemas com germinação em pré-colheita, gerando boa qualidade industrial e promovendo maior liquidez da produção quando comparados a outras regiões produtoras de trigo.
Em relação ao mercado, Junior comentou sobre a alta demanda de trigo pela indústria na região Central do país e do potencial do Cerrado em abastecer o mercado interno com a cultura. Disse que com tecnologias adaptadas e com maior potencial de produtividade, torna-se mais econômico produzir o trigo na região dado o menor custo logístico até os maiores centros de consumo, localizados no Sudeste. “Uma grande vantagem é que o trigo na região é colhido na entressafra brasileira e argentina, encontrando um mercado comprador com preços mais competitivos. Ganha o agricultor, os moinhos por ter matéria prima de qualidade e na porta de suas indústrias e o consumidor final”, destacou.
A principal limitação ao crescimento do trigo na região tem sido a Brusone, doença causada por um fungo que ataca a espiga que resulta em queda no rendimento em função dos grãos deformados e de baixo peso específico. Nesta safra, muitas lavouras foram prejudicadas pela doença. O melhorista da Biotrigo, André Schönhofen, responsável pelo programa de melhoramento no Cerrado, comentou sobre os avanços das pesquisas direcionadas à produção de tecnologias para a região e da importância da escolha de materiais com resistência às doenças, entre elas a cultivar TBIO Aton. “A Biotrigo acredita no crescimento da cultura do trigo no Cerrado e por isso tem ampliado significativamente seus esforços e investimentos para desenvolver cultivares adaptadas à região. Nessa safra, onde muitas lavouras foram perdidas após a forte incidência de Brusone, TBIO Aton se destacou no campo e mostrou um grande diferencial de sanidade e robustez”, explicou.
O Cerrado é o mais novo dos quatro programas de melhoramento da Biotrigo, que envolvem testes de milhares de materiais a campo, avaliações de resistência às doenças e análises de qualidade industrial. “O trabalho envolve a avaliação das populações segregantes de forma regionalizada, facilitando a seleção em favor de maior sanidade e robustez específicas para o Cerrado, contribuindo para a estabilidade de rendimento de grãos e qualidade industrial. Também aplicamos ferramentas de biologia molecular como o acompanhamento e introgressão de genes de grande efeito na tolerância à seca e reação à Brusone, além da geração artificial de variabilidade genética em populações. Apesar de cultivares geradas no Sul do país terem mostrado ótimo desempenho agronômico e industrial, acreditamos que a seleção de plantas em gerações iniciais sob as condições do Cerrado tenderá a render ainda mais frutos nos próximos anos”, disse o melhorista.
Na questão de fitopatologia, diz ele, há avaliações em condição controlada e em coleções a campo do extenso germoplasma da Biotrigo e de parceiros estrangeiros em busca de maior resistência à Brusone e manchas foliares. Paralelo a isso, são realizadas extensas análises de qualidade industrial, como tamanho dos grãos, peso do hectolitro (PH), cor de farinha, número de queda, força de glúten, estabilidade da massa e panificação. As linhagens aprovadas passam a ser multiplicadas em diversos locais do Cerrado para geração de amostras aos moageiros da região, que emitem seu parecer e multiplicadores de sementes e cooperativas também participam da avaliação final da cultivar antes de ser finalmente lançada para o Cerrado.