O secretário de Defesa Agropecuária, Luiz Carlos de Oliveira, palestrante do evento, foi enfático: para ele, a rastreabilidade é um fato consumado e o Brasil precisa acelerar o processo.
“Rastreabilidade é, acima de tudo, uma iniciativa ligada à segurança alimentar. E a União Européia está muito sensível a esse tema, especialmente após o drama recente do mal da vaca louca. Assim, o Brasil precisa ter o seu rebanho devidamente identificado e certificado para continuar exportando carne bovina para aquele continente, que em 2001 comprou perto de 50% de nossas vendas de US$ 1 bilhão”, ressalta Oliveira.
“A rastreabilidade é o tema do momento na pecuária. O produtor precisa saber em detalhes o que há por trás do Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem do Bovina e Bubalina (Sisbov), criado pelo governo para dar forma ao processo. Quem vai pagar a conta da rastreabilidade, qual a participação efetiva dos frigoríficos nesse processo e se será agregado valor à carne bovina rastreada são perguntas ainda sem resposta, que precisam ser esclarecidas”, pontua Paulo Roberto Andrade Cunha, presidente do Sindicato Rural de Uberlândia, entidade promotora do IV Encontro Nacional do Boi Verde, ao lado de ABCZ, Faemg e Embrapa.
Além da rastreabilidade, o encontro trouxe para discussão dos cerca de 700 pecuaristas de 17 estados brasileiros – do Rio Grande do Sul ao Pará, passando pelo Centro-Oeste e Nordeste – uma série de temas atuais fundamentais para a busca da rentabilidade ao produtor e outros desafios que a atividade deverá enfrentar em breve. O geneticista Luiz Alberto Fries, consultor da central de inseminação Lagoa da Serra, defendeu o cruzamento industrial – técnica que associa duas raças bovinas de origem distintas: o zebu (bos indicus) e o europeu (bos taurus) – como uma alternativa importante para o aumento da produtividade da pecuária nacional. “Com a união de raças que se complementam, a atividade ganha em qualidade de carne e em tempo de preparação dos animais para o abate”, afirma Fries. “Porém – ele ressalta -, o cruzamento industrial não significa simplesmente a mistura de raças. É preciso que elas realmente incorporem benefícios. O cruzamento correto pode adiantar em até um ano a idade sexual de machos e fêmeas e a idade de abate dos animais”.
Nesse cenário, ganha destaque a utilização de novas soluções em alimentação animal para impulsionar os ganhos produtivos dos bovinos. Oswaldo Garcia, diretor de pesquisas e desenvolvimento da Tortuga, empresa líder do mercado nacional em suplementos minerais para ruminantes, mostrou aos pecuaristas presentes ao IV Encontro Nacional do Boi Verde os benefícios da suplementação dos bovinos com minerais orgânicos. “Por melhor que seja, o capim por si só não atende todas as necessidades nutricionais do gado. É preciso oferecer uma suplementação mineral adequada, que aumenta a biodisponibilidade das forragens e ajuda os animais a ganhar peso e melhorar sua performance reprodutiva”, explica Garcia.
Genética e alimentação são conceitos fundamentais para o pecuarista alcançar o melhor desempenho da porteira para dentro. Mas há questões alheias ao dia-a-dia da propriedade que poderão interferir, a curto prazo, no seu trabalho. Está em discussão, por exemplo, uma legislação ambiental que exige o comprometimento de uma parcela da área da fazenda, chamada reserva legal, para preservação da fauna e da flora. Segundo o engenheiro agrônomo Adauto Franco, palestrante do evento em Uberlândia, o Brasil é o único país que exige a reserva legal, que nas propriedades rurais é cerca de 20%. “Além disso – informa Franco -, o produtor ainda perde um raio de 500 metros de solo de morro para a Área de Preservação Permanente (APP) e os valores a ser pagos para outorga das águas, tendo de preservar um raio de 50 metros das nascentes de rios e 50 metros para veredas medidos a partir do brejo. É muito para o produtor”, declara o agrônomo.
A legislação ambiental liga-se, em determinado aspecto, à questão do bem-estar animal, tema amplamente discutido nos países desenvolvidos, especialmente da União Européia, e que ganha espaço também no Brasil. “O bem-estar animal representa a harmonia de bovinos, aves, suínos e outros organismos ao meio ambiente, proporcionando boa qualidade de vida. Transformando em objetivos práticos, um animal criado com essa preocupação terá uma carne de melhor qualidade, que será disputada por mais mercados. Ou seja, cuidar bem dos animais é estar voltado à mais moderna tendência da produção, agregando valor à atividade e lucrando mais com isso”, informa o zootecnista Matheus Paranhos da Costa, da UNESP, campus de Jaboticabal (SP).
O também zootecnista Albino Luchiari Filho, professor de Ciência da Carne da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP, campus de Pirassununga (SP), vai além. Para Luchiari, o bem-estar está associado diretamente ao nível de estresse enfrentado pelo animal, seja na fazenda, no transporte até o frigorífico e no manejo pré-abate. “Tudo isso acaba repercutindo na qualidade da carne bovina e, por conseqüência, no resultado próprio econômico do pecuarista. Por isso, esses conceitos têm de ser avaliados com muito cuidado”, diz Luchiari.