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Fórum Nacional do Trigo discute viabilidade econômica da lavoura

O salto na produtividade do trigo em diferentes regiões do país está atrelado à pesquisa de tecnologias adequadas às necessidades específicas de cada região produtora, sempre buscando que a qualidade do produto atenda de toda a cadeia do trigo, desde o produtor, cerealistas, moinhos e o consumidor final. E para viabilizar o cultivo que sofre redução de áreas em detrimento ao mercado e do clima em certos estados do país, a cadeia tem se organizado para estabelecer, ainda antes do plantio, parcerias mais firmes entre a indústria e o produtor. Esses e outros assuntos foram debatidos durante o Fórum Nacional do Trigo, em Passo Fundo (RS). A programação é paralela à 13ª Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale (RCBPTT), que será realizada nos dias 3 e 4 de julho. Ambos eventos são promovidos pela Biotrigo Genética, com apoio da Embrapa Trigo.

Um estudo realizado pela Fundação ABC em lavouras de trigo do Paraná e São Paulo apontou que a cultura trouxe lucratividade aos produtores que cultivaram consecutivamente o cereal no inverno. Segundo o pesquisador do setor de Economia Rural da Fundação ABC, Cláudio Kapp Júnior, responsável pela pesquisa que analisou o banco de dados coletados pelas cooperativas Capal, Frísia e Castrolanda, há 24 safras deu-se início ao controle dos níveis de produtividade dos produtores e dos níveis de custo de produção, juntamente com a Fundação ABC. “Com base nestes dados, realizamos uma análise para entender qual o resultado do trigo e percebemos que ocorreram safras em que o produtor perdeu dinheiro e outras em que ele ganhou, mas as safras em que ganhou dinheiro superaram as safras negativas. O estudo comprova uma rentabilidade acima de R$ 200 por hectare, mostrando o trigo como boa opção de inverno”.

Cláudio diz ainda que são casos reais registrados no PR e SP de produtores que, independente do mercado ou do clima, sempre cultivaram o trigo. Também frisa a importância de ser implantada uma metodologia que diferencie o fluxo de caixa e a gestão, para compreender que a cultura pode ser boa opção financeira para a safra de inverno.

O engenheiro agrônomo, PhD em melhoramento genético e diretor da Biotrigo Genética, Ottoni Rosa Filho, abordou as novas tecnologias para o trigo na abertura do painel “Perspectivas do Trigo: passado, presente e futuro”. Segundo ele, novas tecnologias são comuns em milho e soja. Para trigo, o tema é visto de forma bastante diferente. Ele detalhou algumas tecnologias que estão mais próximas do triticultor, sob uma perspectiva global. “Estas tecnologias – HB4, Clearfield e Heathsense – têm em comum terem dois componentes: propriedade intelectual e agregação de valor. No caso do trigo, o valor agregado pode ser para o agricultor ou o consumidor final do trigo”, disse.

O engenheiro agrônomo e consultor Sérgio Schneider, apresentou o cenário do trigo no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Segundo ele, o trigo sempre foi uma cultura importante na região, fazendo parte do binômio trigo/soja. Hoje na grande maioria das regiões tritícolas do RS são cultivados menos de 20% da área útil para a cultura, em função da instabilidade climática e da falta de políticas de preços e garantias de comercialização. Entretanto, com relação a área cultivada ele enfatiza que ela já foi maior no passado, por outro lado, o crescimento da produtividade deu um salto. “Por vários anos tínhamos a famosa receita dos 25 sc/ha, sendo que hoje, bons produtores têm superado os 80 sc/ha com facilidade”, comentou.

Na região, conforme Schneider, pesquisas demonstraram altos potenciais de produção. “Exemplos de campo com bons produtores têm superado as 5 ton/ha, mostrando que a cultura tem potencial. Nas últimas décadas a evolução na triticultura tem se dado na pesquisa em busca de materiais genéticos mais produtivos e adequados ao mercado, bem como na evolução dos processos produtivos para altas produções e a assistência técnica levando as tecnologias junto aos produtores”, disse. Por outro lado, Schneider comentou que o que muitas vezes acaba impedindo os produtores de obterem os altos rendimentos é a instabilidade climática. “O excesso de chuva é o fator que mais interfere negativamente na cultura, ocasionando doenças de espiga por ocasião do florescimento ou no momento da colheita e, assim depreciando a qualidade do produto final ou até inviabilizando para panificação”, analisou.

O diretor da Lagoa Bonita Sementes, Auleeber Santos, apresentou o cenário da cultura em São Paulo. O cultivo do trigo no Estado é recente, se dando a partir dos anos 2000. Desde então, ele ressalta a evolução significativa na área cultivada em função da pesquisa, buscando cultivares adaptadas e também propiciando uma produtividade mais elevada. “Grande parte do nosso produto final tem como destino mercados em São Paulo, o que viabiliza nossa logística e negociação. Por conta disso, o cenário é favorável”, diz acrescentando que o trigo é uma opção de cultivo que auxilia na diluição de custos e fluxo de caixa em um período em que os produtores tem limitadas ações de cultivo. Ele defendeu que o trigo é fundamental na região e que sem ele, o negócio ficaria inviável. “Ajuda a distribuir os custos e ainda traz uma renda em um período (inverno) não teríamos receita. Temos que começar a tratar o trigo como ele merece e não como uma ovelha negra. Porque hoje o produtor coloca 50% do custo no trigo, mas os benefícios proporcionados pelo cereal não são levados em conta. A produtividade de 17% a mais que a soja produz na área que anteriormente foi ocupada pelo cereal, não é colocada na conta pelo agricultor”, finalizou.

Os experimentos com a cultura do trigo na região do Cerrado tiveram início na década de 70, mas começaram a ganhar força a partir dos anos 2010/2011 e, assim como ocorreu em outras regiões do país, foi em 2016 que os produtores do Cerrado obtiveram a maior produção. Atualmente, a cultura ocupa cerca de 150 mil hectares nos estados de Minas Gerais, Goiás, Bahia e Distrito Federal.

O surgimento de variedades adaptadas às condições do Cerrado e com tolerância à Brusone foram os principais avanços nas últimas décadas, destacou o presidente da Associação dos Triticultores do Estado de Minas Gerais (Atriemg), Eduardo Elias Abrahim. Na região, o aumento da produção na região proporcionou um impacto muito grande na competitividade dos moinhos instalados, com crescimento da moagem e, a consequente oferta de empregos em toda cadeia tritícola. Para Abrahim, a expectativa é de aumento expressivo de área nos próximos anos, bem como a expansão da cultura no país, em função da qualidade do produto e pela quase ausência de micotoxinas. Ele destaca que entre as vantagens da produção está a rotação de culturas, redução de doenças, melhoria do perfil do solo, entre outros.

O engenheiro agrônomo Lucas Simas, chefe de Departamento da Fazenda Experimental da Coamo (Coamo Agroindustrial Cooperativa), destacou o cenário do cereal no Paraná e Mato Grosso do Sul e ressaltou que o potencial produtivo do trigo não depende apenas das condições climáticas, mas também da tecnologia empregada na cultura. Segundo ele, safras avaliadas comprovam a possibilidade do produtor atingir esses índices elevados. “A melhor safra foi em 2016, quando as condições climáticas foram favoráveis, já no ano seguinte o clima não foi tão benéfico, logo, a tendência é da produtividade diminuir. Porém, se olharmos o potencial produtivo do trigo no passar dos anos, é surpreendente a sua evolução”.

Simas exemplifica o potencial da cultura. “Em 2016, safra em que a cooperativa tem como referência de potencial, 18% dos cooperados obtiveram produtividade superior a 65 sc/ha e 6% atingiram produtividade superior a 74 sc/ha. “Isso mostra que o potencial evoluiu bastante e compete a nós e aos produtores buscar potenciais produtivos dessa magnitude”, destaca.

Com relação a rentabilidade comparando com outros cereais de inverno, o trigo torna-se viável com o passar dos anos, pois o cultivo do cereal está atrelado a fertilização. Ele explica que a distribuição de fertilizantes é muito maior e mais efetiva em lavouras de trigo, pelo fato de ser cultivado com espaçamento reduzido de 17 cm entre uma linha e outra, sendo muito positivo quando comparado com o espaçamento a soja que é entre 45 a 50 cm e do milho, entre 50 a 60 cm. Além disso, o volume de cobertura de solo que o plantio do trigo proporciona é muito superior do que o milho segunda safra plantado neste período na região. Sem contar que o trigo é uma cultura que pode ser trabalhada sem aplicação do glifosato. “Com uma cobertura do solo mais eficiente, temos menor incidência de plantas daninhas e um custo menor de dessecação para a cultura principal que é a soja. Comparando com o milho segunda safra, a dessecação com o trigo custa cerca de 10 vezes menos”, comentou.

Para viabilizar e estimular a produção do cereal, a cooperativa criou em 2018 um contrato de planejamento da cultura. Pois no momento de formação da lavoura o preço é um e na colheita é outro, geralmente inferior. Desta forma, com a política de compra com os cooperados eles tem um incentivo e garantia a mais para produzir o cereal.

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