Engana-se quem acha que apenas os azeites importados têm alta qualidade. O azeite paulista e nacional, muitas vezes, têm qualidade superior aos azeites produzidos em Portugal, Espanha e Itália, países tradicionais na produção. A prova da alta qualidade vem de competições internacionais, como o New York International Olive Oil Competition, que analisou em 2019 mais de mil amostras de azeites produzidas no mundo todo. O azeite Fazenda Irarema, produzido no município de São Sebastião da Grama, interior paulista, recebeu medalha de ouro na edição de 2019 e em 2018 foi escolhido o melhor azeite da competição, recebendo o prêmio Best in Class.
“A medalha de ouro do evento é entregue a todos os azeites que atingiram 90 pontos, ou seja, com alta qualidade. O Brasil teve este ano oito azeites classificados na categoria, nesta que é a principal competição do mundo”, afirma Moacir Carvalho Dias, da fazenda Irarema, que processa os frutos da fazenda e de produtores próximos.
Dias implementou seu olival em 2015 e, atualmente, possui árvores consideradas jovens, ou seja, abaixo de seis anos que ainda não atingiram seu potencial produtivo. “Espero em alguns anos atingir produção de 60 mil litros. Hoje, não temos produção suficiente para atender à demanda. Temos que escolher a dedo os estabelecimentos para os quais queremos vender nosso produto”, afirma.
O azeite Fazenda Irarema pode ser encontrado em alguns empórios e supermercados gourmets da região Sudeste. Mas, estabelecimentos do Nordeste, Rússia, Japão e Canadá querem também comercializar o produto. “Nosso grande diferencial é o azeite ser fresco. Já dominamos totalmente o processo de extração. Nosso grande gargalo está na produção dos frutos e, para isso, contamos com a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo”, afirma Dias.
A APTA acompanha a produção de azeitonas na Fazenda Irarema desde o seu início. “Usamos tecnologias da APTA na Fazenda, além de técnicas que observamos no exterior. Dependemos da ciência paulista para avançar na produção”, afirma.
A APTA coordena o Grupo Oliva SP, que desenvolve pesquisas relacionadas à produção das oliveiras, implantação de olivais, manejo da cultura, controle de pragas e doenças, zoneamento agroambiental, colheita e extração do azeite. Além disso, realiza cursos com o objetivo de formar profissionais capacitados a reconhecer a qualidade do produto.
O Estado de São Paulo conta, atualmente, com 53 produtores de oliveira, muitos deles orientados diretamente pelo Oliva SP. A área cultivada está em torno 600 hectares, em 28 municípios. O Estado conta também com oito plantas extratoras de azeite, com capacidade para extração de 3.670 quilos por hora. “Com a expansão crescente dos olivais, assim como os avanços na capacidade extratora de azeite e pesquisas e tecnologias geradas em São Paulo, crescem as demandas do setor por políticas públicas adequadas à produção. Nesse sentido, desde agosto de 2018, os produtores paulistas estão empenhados na formação da Câmara Setorial Paulista da Olivicultura”, conta Edna Bertoncini, pesquisadora da Secretaria de Agricultura e Abastecimento.
Análise sensorial para combater fraudes de produtos importados
De acordo com Edna Bertoncini, grande parte dos azeites importados encontrados em supermercados brasileiros não são extravirgens, como afirmam as embalagens. A fraude ocorre, pois a legislação brasileira pede apenas três análises para considerar um azeite extravirgem. “São análises muito básicas e limitadas, relacionadas à acidez, número de peróxidos e extinção especifica. Também, não há uma fiscalização rígida nos estabelecimentos comerciais quanto aos azeites comercializados no País e, por isso, os consumidores acabam sendo lesados”, afirma.
Uma forma barata e eficaz de resolver o problema é a formação de grupos de especialistas em degustação para realização de análises sensoriais. “É uma prática adotada no mundo todo. Esse grupo de especialistas consegue classificar um azeite como extravirgem, virgem e lampante apenas com a degustação. Isso reduz os custos com análise e é uma forma muito mais eficaz. O ideal é que esses grupos façam uma triagem nos azeites e naqueles em que se têm dúvida sobre a qualidade, sejam realizadas as análises químicas. Assim, teríamos uma classificação mais rigorosa dos azeites comercializados no Brasil, preservando a saúde do consumidor e permitindo competição mais justa para os azeites nacionais”, explica a pesquisadora que atua na APTA.
O entrave para a formação desses grupos está na falta de uma legislação específica, outra demanda que a APTA tem atuado em conjunto com os produtores junto ao Ministério da Agricultura. “Temos muitos profissionais capacitados no mercado, que já fizeram cursos com a APTA e no exterior para realizar análise sensorial de azeites. O que falta é uma legislação”, afirma Edna.
Enquanto normas mais rígidas não são aplicadas, a dica para os consumidores é verificar o preço dos produtos no supermercado. Segundo Edna, o custo de produção de um azeite extravirgem na Europa está em torno de 8 a 12 euros o litro. “No mercado, achamos azeites mais baratos do que esse valor, então desconfie de azeites europeus com preços muito baixos. Não existe milagre”, afirma. Outra dica é consumir os azeites nacionais, que são frescos, considerados de alta qualidade, e com menos riscos de estarem fraudados, ou ainda azeites da América Latina, que demandam menos tempo de transporte e entram no país com menores taxas de importação.
A produção nacional de azeites
A produção nacional de oliveiras e azeites será tema do VII Encontro da Cadeia Produtiva da Olivicultura no Brasil, que acontecerá entre 14 e 15 de junho de 2019, no SENAC Aclimação, na Capital paulista. Apoiado pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), o evento reunirá produtores, investidores, e público ligado à gastronomia e consumidores para discutir o potencial e os gargalos da produção paulista e brasileira. Também será oferecido curso de análise sensorial de azeites, em que será possível aprender os atributos gustativos para classificar o azeite em extravirgem, virgem e lampante. O encontro faz parte da programação da feira ExpoAzeite, que este ano completa sua décima edição. A APTA coordena, desde 2011, o Grupo Oliva SP, que reúne 22 pesquisadores da Agência, além de parceiros de instituições do Brasil e exterior para o desenvolvimento de pesquisas e tecnologias na área e fomento da produção paulista.
O evento contará com 16 palestras. Em 14 de junho, técnicos da APTA Regional, Instituto Agronômico (IAC), Instituto Biológico (IB), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Ibraoliva e Pieralisi abordarão aspectos da produção das oliveiras, como os desafios da cultura, climatologia, colheita, pós-colheita e extração, formigas cortadeiras, olivicultura no estado do Rio Grande do Sul, extração dos azeites e desafios da produção nacional. No dia 15, profissionais ligados à gastronomia abordarão o azeite na cozinha e para a saúde. As palestras serão proferidas por representantes do SENAC, Head Chefe Adega Santiago, Bodega Garzòn, La Pastina e Restaurante Shahiya.
A pesquisadora da APTA, Edna Bertoncini, ministrará dois cursos no evento. No dia 14 de junho, em conjunto com Ricardo Furtado, da Superintendência Federal de Agricultura do Rio Grande do Sul (SFA/RS), será realizado um treinamento com azeites brasileiros, sul americanos e europeus para profissionais que já concluíram cursos de análise sensorial de azeite e querem se atualizar. No dia 15, Edna ministrará o V Curso de Análise Sensorial e Qualidade dos Azeites de Oliva para aqueles que nunca participaram de treinamento.
O gargalo está no campo
De acordo com Edna, o gargalo da produção paulista e nacional de azeite está no campo. Isso porque a oliveira é uma planta de clima mediterrâneo, que está se adaptando às condições de clima subtropical que ocorre nas Serras da Mantiqueira, do Mar e da Bocaina, em São Paulo. “Nosso gargalo ainda está na produção dos frutos, melhoramento de processos de florescimento e pegamento de frutos e em aumentar a produtividade por meio de técnicas culturais adequadas à cultura. É nisso que estamos auxiliando os produtores”, afirma.
Outro entrave à produção paulista e nacional está relacionado à legislação. Segundo Edna, existe apenas um pesticida registrado para ser usado na cultura, o que dificulta o controle adequado de pragas e doenças. Outro ponto é a necessidade de legislação para certificar a comercialização de mudas, como ocorre com a cultura do citros, por exemplo. Com isso, evitaria a disseminação de doenças como a Xylella fastidiosa, uma praga bastante conhecida na citricultura e que também está atacando os olivais.
“A pedido dos produtores, encaminhamos em 2018 uma carta com as principais demandas da cadeia produtiva ao Ministério da Agricultura. Como a produção nacional de oliveiras ainda é baixa estamos tentando enquadrar a cultura como minor crops, ou seja, como cultura com suporte fitossanitário insuficiente, o que daria agilidade para o registro de produtos químicos para serem usados na produção. Também buscamos uma legislação eficiente para evitar a disseminação de pragas e doenças por mudas”, explica a pesquisadora.
Achei muito interessante e gostaria de saber onde comprar esse azeite tão bom