O resultado na primeira safra foi a obtenção de uma economia média de US$ 33 por hectare, o que equivale ao valor de mais de duas sacas por hectare plantado. Por meio de um trabalho conduzido com orientação da Embrapa, os gestores da empresa, localizada no Município de Alto Garças (MT) estabeleceram áreas comparativas, sendo uma com o manejo recomendado pela pesquisa agropecuária e outra com o manejo convencional adotado nas fazendas. A experiência foi feita em quatro áreas distintas em lavouras de soja.
Além da economia, a experiência com a sementeira ainda mostrou que o MIP é aplicável mesmo quando o foco é produção de sementes. Nas amostras avaliadas não houve dano significativo na qualidade do produto. De acordo com o gerente técnico de pesquisa da Sementes Adriana, Douglas Rotta, a experiência serviu para quebrar paradigmas dentro da empresa. “Tínhamos certa ressalva sobre o funcionamento do MIP em áreas maiores. E o resultado foi muito interessante. Vimos que é possível, sim, economizar no uso de inseticidas sem ter perda de produtividade na lavoura. É possível conviver com populações maiores de pragas sem ter perda”, afirma.
O trabalho
Para chegar a esse resultado, a empresa definiu quatro áreas distintas de cerca de 200 hectares cada uma. Metade delas foi conduzida de acordo com os níveis de controle estabelecidos pela empresa e a outra metade seguindo os níveis de controle recomendados pela pesquisa. Para que o trabalho fosse possível, adotou-se o monitoramento contínuo das pragas em cada área. A decisão pela intervenção ou pelo tipo de controle (químico ou biológico) foi tomada de acordo com a população das pragas e os níveis de danos na lavoura.
O balanço ao fim da safra mostrou que em metade das áreas com o MIP foram feitas duas operações de pulverização a menos do que na área com pulverizações preventivas. O número de produtos aplicados, por sua vez, foi muito menor nas áreas de MIP. Enquanto nas áreas comerciais a média foi de 9,5 produtos utilizados, nos locais com MIP a média foi de 5,75.
“Num primeiro momento há um receio, pois você realmente vê as pragas na lavoura, vê os danos, a desfolha, o percevejo e as lagartas. Isso dá um pouco de insatisfação. Ficamos com receio de deixar chegar a níveis maiores de infestação. Mas agora, no fim do programa, estamos vendo os resultados e isso engrandece o trabalho”, avalia o gerente agrícola Fernando Rezende Silva. Maior presença de inimigos naturais fazendo o controle biológico das pragas foi outro fator observado no comparativo entre as áreas com manejo comercial e com o manejo recomenda-do pela pesquisa.
De acordo com o supervisor técnico e responsável por uma das áreas avaliadas, Paulo Emídio Soriano, nas áreas com menor quantidade de pulverizações foi evidente a maior presença de insetos predadores das lagartas e percevejos e também do maior número de pragas mortas ou debilitadas devido ao ataque de fungos e vírus. Na maioria das vezes, coube a esses inimigos naturais a tarefa de reduzir a população dos causadores de danos na lavoura.
Com os resultados positivos obtidos no primeiro ano de uso dos níveis de controle indicados para o manejo integrado de pragas, os gestores da Sementes Adriana já planejam uma expansão da área com este manejo para a próxima safra. O objetivo é aprender aos poucos a trabalhar com os novos níveis de controle e também adequar o sistema operacional das fazendas.
“Queremos avançar, mas queremos entender e dominar melhor o processo. Queremos amadurecer essa tecnologia, indo para uma escala maior. Mas ainda como experimentação da equipe para adquirir mais confiança e no futuro chegar a uma escala de produção total”, afirma o gerente Douglas Rotta. Assim como a Sementes Adriana, a Embrapa Agrossilvipastoril tem acompanhado áreas de referência em Manejo Integrado de Pragas nos últimos quatro anos em Mato Grosso. A primeira delas foi a Fazenda Leonel, em Sorriso. Na safra passada, outra área foi monitorada na Fazenda Porta do Céu, em Campo Novo do Parecis. Neste último caso, a economia por hectare foi de R$ 88.
Essas experiências têm sido importantes para mostrar aos agricultores que é possível reduzir os custos de produção estabelecendo o monitoramento das lavouras e adotando estratégias de manejo integrado de pragas. De acordo com o pesquisador da Embrapa Rafael Pitta, há grande procura de produtores que viram os resultados nestas áreas de referência e estão buscando informações para adoção em suas fazendas.
Para isso, ressalta o pesquisador, é preciso, em primeiro lugar, contar com um profissional capacitado para iniciar e desenvolver o monitoramento e identificar as pragas na lavoura. “Realmente são poucos os profissionais qualificados disponíveis no mercado. Mas, por outro lado, não há demanda por parte dos produtores. O objetivo deste trabalho é justamente gerar a demanda. A partir do momento em que ela for maior, haverá a oferta de profissionais”, analisa Pitta. Para melhor qualificar agricultores e técnicos sobre a identificação e controle de pragas, instituições como Embrapa, Instituto Mato-grossense do Algodão, Fundação MT, Fundação Rio Verde, Senar e Aprosoja promovem com frequência treinamentos e capacitações sobre o tema em Mato Grosso. Um exemplo foi a Caravana Embrapa, que recentemente esteve em Sinop e Rondonópolis levando informações sobre a tomada de decisões em MIP.
Outra recomendação para os agricultores que querem seguir as orientações de manejo indicadas pela pesquisa é a experimentação em pequenas áreas para posterior expansão na fazenda. “A melhor forma é definir uma área piloto para entender melhor como funciona a dinâmica e ganhar confiança. Também é importante organizar o comparativo do que ele conseguiu reduzir nessa área em comparação com o restante da fazenda, onde costuma fazer o manejo preventivo”, destaca Rafael Pitta.
Manejo Integrado de Pragas
O manejo integrado de pragas consiste no monitoramento contínuo da lavoura e do sistema produtivo a fim de conhecer e quantificar a incidência de pragas e seus danos. De acor-do com a incidência, é tomada a decisão sobre a necessidade ou não de adotar o controle, bem como sobre qual estratégia deve ser usada neste controle.
Entre as estratégias usadas no MIP estão o controle varietal, com uso de materiais genéticos resistentes ou tolerantes a determinada praga, o controle biológico, com uso de inimigos naturais, como vírus, bactérias e outros insetos, controle comportamental com uso de feromônios e ainda o controle químico. Para introduzir o monitoramento, o MIP utiliza ferramentas como armadilhas luminosas, de solo ou de feromônio, panos de batida, além da observação nas plantas. O pesquisador Rafael Pitta destaca que, além de reduzir os custos com aplicações, o MIP ainda reduz a contaminação do solo e da água e contribui para garantir a longevidade e eficiência dos agrotóxicos disponíveis no mercado.
“A resistência a qualquer inseticida é consequência da intensificação do uso. Quando se faz muitas aplicações, você acelera esta seleção de insetos resistentes. Adotando o MIP, naturalmente pulverizo menos e ainda faço a rotação de moléculas. Com isso a intensificação de seleção é bem baixa”, explica Pitta.
Texto: Gabriel Faria