Tirando proveito da tecnologia, produção brasileira de grãos cresce e aponta os caminhos para novos recordes de produção.
O Brasil revela-se moderno no campo agrícola. Essa opinião é compartilhada por pesquisadores e grandes produtores de grãos, especialmente os de soja e os de milho. Afinal, o país mantém-se entre os maiores produtores mundiais de soja e também de milho, embora o total da produção de cereal revele-se bastante inferir ao dos Estados Unidos e china, os líderes da cultura. A essa situação soma-se o fato de o consumo interno obrigar a constantes importações, o que transforma o país em um importador histórico. Na opinião dos técnicos, ainda assim, as duas culturas, apontadas como parceiros ideais, tendem a crescer.
O panorama da soja ao longo dos últimos 10 anos é animador. Conforme dados da Empresa brasileira de Pesquisa Agropecuária – Centro Nacional de Pesquisa de Soja (Embrapa Soja), divulgados no CR-ROM “A cultura da soja no Brasil”, obra do grupo de pesquisadores daquele centro, a produção de soja no Brasil cresceu 29% nos últimos 10 anos. A produção total de 24 milhões de toneladas obtidas na safra de 1988/89 saltou para 31 milhões no período de 1998/99.
O aumento de produtividade pode ser explicado como a mola propulsora desse salto. A média nacional de 1.940 kg/ha, em 1988/89, aumentou para 2.360 kg/ha, em 1998/99. Ao longo desse período, a área plantada pulou de 12,2 milhões de ha para 13 milhões de ha. O Centro Oeste transformou-se no grande destaque desses anos, com incremento de produção de 8,8 milhões de toneladas. O trabalho da Embrapa não hesita em apontar a região como a maior produtora de soja do país em curto prazo.
A importância da cultura pode ser observada desde os anos 70, quando a participação no Produto Interno Bruto (PIB) agrícola foi sempre acima de 10%, à exceção dos anos 92 e 93. Em 1974, por exemplo, atingiu o pico de 34,8%. Os números impressionam. A comparação entre a década de 70 e 80 mostra crescimento de produção de 1,5 milhão de toneladas para 15,2 milhões de toneladas, respectivamente.
Já a área cultivada aumentou de 1,3 milhão de ha para 8,8 milhões de ha, no mesmo período. A produtividade por sua vez, cresceu de 1.200 kg/ha, em 70, para 1.730 kg/ha, em 80. Como conseqüência, o Brasil, que respondia por 3,6% da produção mundial, em 70, saltou para 18,7% na década seguinte.
Na opinião dos pesquisadores da Embrapa Soja, esse movimento pode ser atribuído a cultivares adaptados às regiões produtoras, qualidade de sementes e controle de insetos, associados a fatores como agilidade e interação da pesquisa e extensão rural. Mais ainda: a soja abre novas fronteiras, como o sul do Maranhão e do Piauí, o norte da Bahia e Rondônia. Atualmente, Estados Unidos, Brasil e Argentina respondem por 80% da produção e 90% da comercialização mundial da soja.
Considerado produtor modelo, com 20 anos de experiência no cultivo da soja, Vicente Luiz Costa Beber, colheu 4.170 kg/ha na safra de 99/2000. Na safra anterior, a média alcançou 4.020 kg/ha. Portanto, marcas acima da média nacional. Proprietário da Fazenda Rancho Alegre, com 2.800 ha em Nova Mutum, Mato Grosso, ele começou o plantio de 1.700 ha de soja em início de outubro, com colheita prevista para fevereiro.
Beber utiliza variedades da Fundação Mato Grosso, com ciclos diferentes. Conquistas, variedade precoce, que costuma ocupar entre 30% e 35% da área de plantio. Xingu, semi precoce espalhada em 15% da área. E Uirapuru, ciclo longo, na área restante.
Discreto na fórmula do sucesso, ele garante que o plantio da soja não tem segredos, apenas detalhes. Mas enfatiza a importância de insumos de qualidade e de orientação técnica. Ele opta por consorciar o cultivo entre o plantio direto, que adota há sete anos, e o plantio convencional. Na safra 93/94, por exemplo, a Rancho Alegre alcançava médias de 3.318 kg/ha, total acima da média da região, 2.400 kg/ha.
Na opinião dele, a boa produção não é tudo. “O produtor precisa saber comercializar”, explica. Beber vende entre 50% e 70% da produção do mercado futuro, estratégia que adota há oito anos. Garante que a soja é o carro – chefe da agricultura brasileira e que o trabalho da pesquisa permite ao produtor produzir cada vez melhor.
O panorama da cultura do milho não tão animador. Mas Jason de Oliveira Duarte, pesquisador de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo, acredita que os últimos 10 anos mostrem mudanças no panorama da cultura no Brasil, em razão das tecnologias ofertadas. “A produção de milho tem avançado de forma significativa e estrelada à produção de soja” explica. “Milho é por excelência o cultivo de rotação da soja”.
Ele lembra que, no período de 89/91, a média nacional de produtividade de milho era de 1.911 kg/ha. No período 99/01, aumentou para 2.928 kg/ha, ganho significativo na opinião dele e que pode ser atribuído à tecnologia.
As oscilações de preço do produto, no entanto, promovem redução de áreas cultivadas. Entre 89 e 01, a área plantada no sudeste sofreu redução de 17%. O mesmo ocorreu no sul, região mais importante para a cultura, que perdeu 2%. Em contrapartida, o Centro Oeste cresceu 21,6% e a produtividade saltou de 2.776 kg/ha para 3.717 kg/ha. Mas o milho caminha para novas áreas, como o oeste baiano, o sul do Piauí, o sul do Maranhão, o Tocantins e o sul do Pará. “Embora ainda não sejam representativas, mostram produtividade semelhante à do Centro Oeste”, garante.
Atualmente, a média nacional é de 2.928 kg/ha, bem aquém das médias norte-americana, de 8.000 kg/ha, e da Argentina, com 5.000 kg/ha. Duarte atribui essa variação às próprias características do Brasil, como as diferenças de clima, solo e ao ataque de pragas às lavouras de milho. Mais: no Brasil ainda é grande o número de pequenos produtores de milho que se dedicam apenas ao auto-consumo. E essas medidas integram a média nacional. “Nos Estados Unidos os produtores são comerciais”, explica ele.
As grandes diferenças regionais do Brasil também pode ser apontadas como causas dessa média nacional baixa. Ainda assim, Duarte garante que o milho tem capacidade de aumento produtividade e de expansão de área. O crescimento do mercado de rações é estimulante para o produtor do cereal. “O Brasil tem área disponível, tecnologia para aumentar a produtividade e mercado”, assegura.
Nesta safra de 2001, o país exportou 3,5 milhões de toneladas para a União Européia. A produção total atingiu 41 milhões de toneladas. Tratou-se de exceção, no entanto. Em razão do consumo interno, dos preços para o produto e das conseqüentes oscilações nas áreas de plantio, o Brasil tornou se importador histórico, especialmente dos Estados Unidos, Argentina e Paraguai. E, curiosamente, é o terceiro produtor mundial, com 41 milhões de toneladas, e dos Estados Unidos, com 240 milhões de toneladas.
Entusiasta do milho, cultura que planta desde 89, Antônio José Gazarini, um dos quatro sócios do Grupo Irmãos Gazarini, com atuação em Jataí Goiás, explica que aposta na cereal por ser excelente parceiro na rotação de cultura e pela garantia econômica. O grupo trabalha em 4.850 ha, dos quais 1.350 ha arredados, e total composto pelas Fazendas Alvorada,União, Bom Jardim, Nova Canaã e Bálsamo.
A cada safra, o milho é cultivado em uma das propriedades. Neste ano, o cultivo começou no final de setembro, em 750 ha da fazenda União. Gazarini usa milho Tork, ciclo precoce, em 500 ha; milho NB 5218, ciclo super precoce, em 72 ha, e milho Fort, também precoce, no restante da área.
As medidas de produtividade são animadoras. Na safra 99/00 alcançou 6.960 kg/ha. E, na safra seguinte, 7.020 kg/ha. Desde 90, o produto adota o sistema de plantio direto em todas as propriedades, em razão do controle da erosão, melhor aproveitamento das máquinas, menos mão de obra e melhor conservação do solo.
Ele explica a receita do sucesso com a utilização de novas sementes e plantio mais tecnificado, o que significa análise e correção do solo, adubo diferenciado em cada área e híbrido de ponta, em busca de qualidade de grão e resistência a doenças. A cada ano, o produtor usa novos híbridos e faz tratamento de sementes com fungicidas, inseticidas e herbicidas. Gazarini vende a produção para empresas de ração animal.
O produtor também planta a safrinha de milho, sempre em 20 mil ha, de final de janeiro a final de fevereiro, e colhe entre junho e julho. A média de produtividade esperada para essa safrinha gira em torno de 5.340 kg/ha. Animado ele afirma que “Jataí é o maior produtor de milho e de milho de qualidade do país”.
Lembra, porém, que o problema do milho consiste no custo cotado em dólar e a produção comercializada em real. Crítico, afirma que “o milho é uma cultura importante para o país e, mesmo assim, fica em nível de oferta e de procura”. Defende, no entanto, a agricultura brasileira, que “deu um salto em tecnologia, maquinário, sementes, adubos e defensivos”.