Pecuária

Mastite – prevenção é a palavra obrigatória

Diminuição da produção de leite, perda de um ou mais quartos do úbere, acidez do leite e rejeição por laticínios, desvalorização comercial da vaca leiteira e, até mesmo, a morte do animal por infecção irreversível. Este quadro nada animador, traçado em estudo feito por Fernando P. Scarlatelli e publicado pela Embrapa Gado de Leite, compõe as conseqüências da mastite ou mamite, a doença mais comum na pecuária leiteira no Brasil e no mundo.

Trata-se de uma doença infectocontagiosa, que propaga pelo rebanho, em razão de fatores ambientais, mas que podem ser controladas por medidas de higiene e profilaxia. José Renaldi F. Brito, veterinário e pesquisador da Embrapa Gado de leite, sintetiza a doença como uma inflamação das glândulas mamárias, que pode ocorrer em vários níveis, desde brando a gravíssimo. Quase sempre ataca um teto, mas pode se espalhar pelos outros.

Hélio Langoni, veterinário e responsável pelo Núcleo de Pesquisas em mastites (NUPEMAS), da Faculdade de Medicina veterinária e Zootecnia da Unesp/Botucatu, no interior de São Paulo, enfatiza as repercussões negativas da enfermidade sobre a pecuária, já que há redução na produção de leite e no rendimento dos produtos lácteos, além de conseqüências na área de saúde pública, porque o leite contaminado pode veicular agentes infecciosos importantes que causam as doenças conhecidas como zoonoses.

Na opinião dele, os prejuízos ao produtor formam uma lista ampla e que merece atenção, pois, além da queda na produção de leite e na eliminação do produto, causam descarte de animais com a conseqüente reposição de matrizes e redução no valor de venda de animais enfermos. A isso podem ser somados os gastos com honorários profissionais e gastos com medicamentos, para a cura dos animais. A incidência de mastite clínica nos rebanhos brasileiros é da ordem de 20%, enquanto o da subclínica sobre para 70%, segundo Langoni.

A mastite é provocada por inúmeras causas, como alterações fisiológicas e metabólicas; traumáticas , como ordenhadeiras mal reguladas; alergia, determinada por picadas de insetos; e infecciosa, a principal causa. Brito explica que a mastite pode ser classificada em clínica e subclínica.

No primeiro caso, os sintomas torna-se visíveis a olho nu, pois o úbere inflama, torna-se avermelhado, quente e dolorido ao toque. Nos estados mais graves, apresenta-se fibrosado. O leite, por sua vez, revela-se mais aquoso, com grumos, pus, e mais vermelho, já que há presença de sangue. No segundo caso, a subclínica, a doença só detectada por exames laboratoriais ou testes ao pé da vaca.

Muitos pesquisadores classificam as mastites clínicas em aguda, subaguda, superaguda e crônica. Outras classificações incluem mastite como tipo catarral, flegmonosa, apostematosa, micótica e gangrenosa. Em relação aos agentes que causam a enfermidade, Brito e Langoni citam bactérias, leveduras, fungos micelianos e algas do gênero Prototheca, além de vírus. Entre esses microorganismos existem os de caráter contagioso, que são transmitidos durante a ordenha, de um teto para outro, como Staphylococcus aureus, por exemplo, e os microorganismos ambientais, que se encontram no ar, na água, na cama do animal e nas fezes, como Streptococcus uberis, por exemplo, Brito explica que, em 90% dos casos da doença, as causas bactérias, presente no ambiente, nas fezes do animal, na mão nariz e ouvido do ordenhador, além de, em muitas situações, estar no úbere do próprio animal. Essas bactérias penetram pelo canal do teto do animal. Portanto, a corrente de transmissão é composta por: meio ambiente para o animal, da mão do ordenhador e dos equipamentos sem perfeita higiene para os animais, e de um animal para outro. Em alguns casos, a doença extrapola para o corpo do animal, quando invade a corrente sangüínea e a vaca deixa de comer, beber e apresenta febre. O índice de morte é baixo, assegura, mas existe. No entanto, a cura, para mastites clínicas e subclínicas alcançaram entre 70% e 85% dos casos.

As perdas de produtividade do animal na produção de leite situam-se entre 5% e 20%, na média. Mas existem extremos em torno de 80%, dependendo do agente que cause a doença. Langoni garante que a comparação de teto homólogos com mastite e suas contralaterais sadias mostra redução na produção entre 20% e 35% nos tetos infectados. E complementa, esse resultado varia em função do agente infeccioso causador da doença. Ele assegura que estudos mostram perda de aproximadamente US$ 330 por animal/ano que apresentem mastites subclínicas, enquanto os custos com prevenção giram em torno de US$ 25 animal/ano.

Na opinião de Brito, mais importante do que raças sensíveis á doença, os fatores preponderantes são as variações entre um animal e outro e as variações de manejo: algumas características podem ser apontados como indicadores de predisposição para a doença, como animais mais velho, ou seja, após quatro/cinco parições, já que os tetos torna-se mais flácidos, o que facilita a entrada das bactérias. Ao longo da vida, esse mal teve mais chance de sofrer infecções. Outro fator consiste no estresse do animal, o que pode ser causado por maus tratos e ordenha em ambiente barulhento.

Os animais malnutridos revelam-se mais sensíveis á doença. O mesmo acontece quando o rebanho é mantido em ambiente muito aquecido, com pouca ventilação ou muita unidade. Portanto, em situações de desconforto ao animal. Ambiente e mastite são assuntos estreitamente ligados. Sabe-se que existem mastites ambientais, sempre clínicas. O animal contamina-se por fezes e água suja e por cama de matéria orgânica. Os animais com problemas de reprodução e doença de casco também são vítimas em potencial. Brito afirma que a prevenção é fundamental no combate á doença. Exatamente por isso, a sugestão é recorrer ao diagnóstico precoce. Ele aconselha o teste da caneca, a ser feito diariamente nos animais do rebanho, antes da ordenha, durante todo o período da lactação. O teste consiste em utilizar uma caneca de fundo preto ou telada, que recebe os três primeiros jatos do leite de cada teto do animal a ser ordenhado. O fundo escuro permitirá ver sangue e pus no leite depositado.

Outro teste, especialmente indicado para detectar mastite subclínica, consiste na contagem de células somáticas feito em laboratório. Trata-se de um teste mais usado para analisar a situação de rebanhos. Para isso, é preciso coletar uma amostra da produção total do leite do plantel em um dia, ou seja, coletar a amostra do tanque de expansão. Langoni saliente que a contagem de células somáticos por aparelhos eletrônico vem sendo usado por programas de monitoramento de sanidade da glândula mamária e da qualidade do leite.

No Brasil, os planos do setor de leite pretendem, até 2008, o limite de 500 mil células somáticas por ml de leite, a exemplo do que ocorre nos estados Unidos, Europa e Canadá. Langoni salienta a tendência no Brasil, com preocupação do Ministério da Agricultura de um programa nesse sentido, para o estabelecimento de metas que procurem atingir os índices determinados pelo Internacional Dairy Federation (IDF), o órgão que controla a produção de leite nos Estados Unidos.

Outra forma de detectar a doença consiste em teste microbiológico, quando se isola o agente acusador e se pode estudar o melhor antimicrobiano recomendado para o tratamento. O produtor pode recorrer também ao California Mastitis Test (CMT), que consiste em um recipiente com quatro cavidades. Cada uma delas recebe os primeiros jatos de cada teto. Em seguida, é adicionado reagente, que consiste em um detergente e um indicador de Ph. O resultado é baseado no aspecto do leite, após a adição do reagente.

Quando o leite adquire viscosidade que lembra gelatina, o animal é suspeito ou positivo. Em casos graves, o leite mostra excesso de viscosidade e chegar a colar no recipiente, afirma Brito. Langoni explica que o indicador de Ph faz com que em casos positivos haja mudanças na amostra, que adquire coloração violácea.

O teste deve ser feito sempre no início da ordenha, seja pela manhã ou no período da tarde. Brito recomenda que o CMT seja aplicado uma vez por mês, no mínimo. Em rebanhos com incidência de 20% a 30% do rebanho infectado, a cada 15 dias. Langoni sugere testes mensais, ao longo da lactação, exceto na duas primeiras semanas e no final desse período. O produtor precisa anotar os resultados.

Aos iniciantes na aplicação do teste, Brito aconselha procurar um técnico ou fazendeiro mais experiente, para padronizar mais experiente, para padronizar o teste. Convém que seja aplicado sempre pela mesma pessoa. Trata-se de um teste de prevenção controle da doença, assegura. O objetivo é que o produtor aprenda a gerenciar o rebanho, ao identificar e anotar os problemas e soluções encontradas.

Ainda para diagnóstico da mastite subclínica, o produtor pode recorrer a exames bacteriológicos em um grupo de animais, para identificar os agentes que causam infecção no rebanho. As orientações são dadas pelo próprio laboratório. As faculdades de medicina veterinária, as secretarias de agricultura e a Embrapa Gado de Leite realizam esses testes.

Brito concorda com Scarlatelli com Langoni na importância da prevenção da mastite. E lembra o Plano de Cinco Pontos para Controle e Prevenção da Mastite, conjunto de recomendações criado na década de 60, na Inglaterra, e aperfeiçoado, ao longo dos anos, por pesquisadores da Austrália, Europa e Estados Unidos. Hoje, esses cinco pontos ampliados e dependem da região e detalhes do rebanho, garante. O plano sugere:

* ordenhar tetos limpos e secos;
* ordenhadeira mecânica limpa e mãos limpas na ordenha manual;
* após o término da ordenha, desinfetar os tetos, de forma completa, com desinfetantes apropriados;
* tratar os animais no final da lactação.

Quando o animal seca, deve receber antibiótico apropriados;

* todo animal com mastite clínica deve ser tratado imediatamente e separado dos outros. Deve ser também o último a ser ordenhado;
* descarte de animais com infecção crônica, retornam a cada 15 dias, um ou meses.
Brito fortalece essa recomendações, ao sugerir que, após o fim da ordenha, os animais recebem ração no cocho. Sabe-se que, nessa fase, o canal do teto por onde sai leite, fica aberto por cerca de duas horas. Assim, evita-se que o animal deite em placa que facilitem a entrada de bactérias.

A isso, pode ser somado o tratamento dispensando de oferecer carinho e conforto no momento da ordenha. A higiene do ambiente é fundamental. Ainda como tratamento animal, as parições devem ocorrer em ambientes limpos e secos. Muitos casos de mastite surgem no parto. A prevenção de mastite é sinônimo de qualidade do leite, sintetiza ele. cabe ao produtor interessado em se manter na atividade e obter lucros obedecer ás normas de prevenção, em especial desinfectar os tetos após a ordenha e tratar as vacas secas. Á primeira vista, o produtor pode considerar que o custo da prevenção é alto. Mas a redução da doença permite um grande retorno. Para os animais contaminados, Brito aconselha providências imediatas, como o uso de antibióticos e múltiplas ordenhas, sempre quatro, cinco ou seis vezes por dia ajuda a eliminar as bactérias do úbere. Mais: convém tirar o leite, massagear o úbere com água morna e aplicar antiinflamátórios. Naturalmente, o leite resultante da ordenha é descartado.

Ao longo dos anos, o quadro de prevenção completou-se como novos desinfetantes e esquemas de tratamento. Por exemplo, as seringas com campânulas de 5/10 mm, usadas para aplicação de antibióticos nos tetos, foram substituídas por seringas com campânulas de 4 mm.

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