Por Vitor Maciel* – Durante a primeira quinzena de março, as usinas da região Centro-Sul apresentaram uma queda de 53% no volume de cana-de-açúcar processada, quando comparado com a moagem do mesmo período de 2018. A safra da produção 2018/2019 finalizou com 573,07 milhões de toneladas do produto processadas entre 1º de abril de 2018 e 31 de março de 2019. Esse total representa uma redução de 3,90% sobre as 596,33 milhões de toneladas registradas no ciclo 2017/2018.
A diminuição observada pode ser explicada pelas condições climáticas. O aumento das chuvas durante o mês de março fez com que os produtores atrasassem um pouco a colheita para aproveitar os ganhos com o solo mais úmido. A safra 2019/2020 começou neste mês de abril e é esperado que ocorra um atraso de algumas semanas. Isto contribui para um cenário onde os produtores esperam um pouco mais para iniciar o processamento. Além disso, é importante salientar que as indústrias estão com um estoque elevado de etanol.
Segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (ÚNICA) na primeira quinzena de março, 27 usinas da região Centro-Sul estavam em operação. Já no mesmo período de 2018 foram registradas 50 usinas em operação. Mesmo com o atraso esperado no início da safra, é estimado um aumento de 10 milhões de toneladas de cana de açúcar na temporada 19/20, principalmente em função da técnica de rodízio de culturas.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a colheita do Brasil em 2019 deve alcançar 677 milhões de toneladas. Em São Paulo a estimativa de crescimento da produção deve permanecer em alta de 2%. E esse aumento da produtividade deve-se pelo clima favorável e pela adoção de novas práticas nas culturas, como por exemplo, o revezamento de culturas que auxiliam na renovação do solo, como a cultura do milho.
O estado de Mato Grosso também espera uma produção maior este ano com um aumento de 3,6%. O estado de Goiás deve atingir uma alta na produção de 5,0%. O início da colheita de cana de açúcar sofreu uma mudança significativa nos últimos anos. Entre o mês de março e abril de 2016, as usinas processaram 80 milhões de toneladas contra 50 milhões de toneladas ao comparar o mesmo período de 2017.
Entretanto nem todas as usinas atrasaram o processamento devido à sua estrutura de custo e necessidade de gerar caixa. Em 2019 é esperado um comportamento semelhante ao de 2018, com os produtores favorecendo a produção de etanol em detrimento da produção de açúcar. Somente no primeiro trimestre de 2019, o preço da gasolina nas refinarias subiu aproximadamente 20%, aumentando a competitividade do etanol.
A dinâmica do mercado brasileiro de açúcar e o fato das usinas possuírem flexibilidade para um processamento mais rápido ou mais devagar, além de optarem por produzir etanol em detrimento da cana, dependendo do preço do açúcar, gera impactos e oscilações nas bolsas do exterior. Nos EUA, foi aprovada a E15, que é a gasolina com 15% de etanol. Esta medida pode resultar em um aumento do consumo de etanol, no mercado norte americano. O Brasil exportou 21,3 milhões de toneladas de janeiro/18 a dezembro/18, gerando receita de US$ 6,525 bilhões.
(*) Vitor Maciel é economista da COST DRIVERS.