Evento realizado em São Paulo foi uma das últimas oportunidades do ano para as empresas que atuam no agro se aproximarem de seus clientes. A avaliação foi positiva.
A cidade de São Paulo recebeu a última etapa do circuito Intercorte 2018. O evento que percorreu por diversos Estados do País veio para fechar o calendário dos grandes eventos ligados à pecuária brasileira. Neste ano, a feira recebeu cerca de dois mil visitantes, vindos de todos os cantos do Brasil, e Carla Tucillo, organizadora da Intercorte, diz que edição foi bem recheada de novidades e ações junto aos parceiros. “O tema central deste ano foi a Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF), e fizemos quatro painéis dos caminhos da integração sobre este assunto. Além disso, falamos também do Boi 777, que foi abordado durante todo circuito de 2018”. Segundo ela, seguindo a linha de integrar para crescer, foi realizado um painel de leite, com de-gustação de produtos de 25 produtores paulistas, e mais seis vinícolas também de capital. Ser “figurinha carimbada” em eventos deste porte tem sido a saída para que algumas das principais marcas do nosso agronegócio estejam mais perto de seus clientes, mostrando o que há de mais novo em seus portfólios. Fernando Dambrós Pereira, gerente de produtos para ruminantes, da Boehringer Ingelheim Saúde Animal, comenta que está é a oportunidade de chegar perto do pecuarista. “É o momento de levar tecnologia, pesquisa e desenvolvimento. Então quando o produtor vem a este evento buscar informações, conseguimos falar de produtos que o ajudam a produzir mais arroba por hectare ano”, declara.
Já Marcos Sampaio Baruselli, gerente da categoria confinamento da DSM, diz que a companhia trabalha por produtos inovadores, com prestação de serviços técnicos e por isso precisa estar em feiras como a Intercorte, afim de estreitar ainda mais o laço com o homem do campo. “Hoje temos um time de quase 90 pessoas que diariamente prestam serviços aos produtores rurais, e eles precisam nos ver e saber que temos esse monte de gente a sua disposição”, comenta. Além disso, para ele a pecuária brasileira é sempre cheia de desafios, e passa por um momento que é preciso aumentar a produtividade e de forma sustentável. “O produtor passa por uma transformação rápida, onde a pecuária está se intensificando. Acabamos de fazer um senso de confinamento que indicia que em 2018 serão confinados cerca de cinco milhões de animais no Brasil, onde nos permite perceber um crescimento forte da prática intensiva, mais produtiva”, declara. Assim sendo, Baruselli diz que estamos entrando em uma fase de produzir mais arroba em menos área e para isso a suplementação nutricional, a genética, o manejo e sanidade são itens fundamentais.
Guilherme Tonhá, diretor comercial da Estância Bahia, comenta que a marca preza por estar no meio do agronegócio brasileiro e eventos como a feira os traz para próximo das pessoas que buscam tecnologias para o campo. “Nosso trabalho é justamente comercializá-las, entregando novas soluções para quem busca excelência, mesmo que vivendo em tempos difíceis para o mercado”.
Balanço e a nova esperança
Após a recém eleição presidencial ocorrida no Brasil, o humor do mercado já se mostra diferente, com expectativas boas para a sequência dos próximos anos, e os percalços encontrados nas últimas temporadas devem ser esquecidos, afim de enxergar um horizonte melhor e mais lucrativo. Para Tonhá, o setor passou por anos complicados entre 2016 e 2017, com acontecimentos que atrapalharam seu percurso natural, como por exemplo, o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. “Tivemos essa insegurança política que gerou instabilidade no mercado financeiro como um todo e também, no mercado do boi”, declara. Ele também cita a questão da carne fraca no ano passado, que re-traiu o mercado, e que foi sentida na Estância, uma empresa que vende o bovino no Brasil inteiro. “Já 2018 começou diferente, com o pessoal buscando investir um pouco mais e com maior segurança. O viés político se tornou esperançoso, possibilitando o cliente investir”, diz. Além disso, a efetividade do produtor tem crescido continuamente, o que mantém as companhias ativas no mercado. “Acredito que com a esperança política renovada, os próximos anos serão melhores, economicamente falando, e não somente na pecuária”.
Mateus Marinho, gerente de produtos para gado de corte da Bayer Saúde Animal, comenta que este ano foi difícil, marcado por ter sido onde o País tentou sair da crise, mas ainda com taxa de desemprego alta e cenário econômico complicado, o que acabou impactando no consumo dos produtos de origem animal. “O preço da carne não decolou tão bem, o da arroba também se manteve e sentíamos que os produtores estavam com um pouco de medo de fazer investimentos, apenas realizando o básico e fazendo a gestão”, declara. Segundo ele, agora o que já se tem percebido depois da eleição é que as pessoas têm se animado um pouco mais com as nomeações dos novos ministros, por exemplo, entre outros pontos. “Estamos animados para 2019, com expectativas das pessoas investirem mais, expandindo os negócios e com as lições aprendidas na crise, fazer uma gestão melhor dos negócios”.
A pecuária brasileira vem evoluindo ano a ano, e Marco Túlio Silva, diretor de marketing da Scot Consultoria, também avalia 2018 como um ano difícil, com uma série de eventos que inter-feriram no segmento agro, como a greve dos caminhoneiros, a Copa do Mundo e a eleição, por exemplo. “Registramos a eco-nomia fraca, sem a demanda de carne como tínhamos a anos atrás, o que reflete em nosso mercado. Daqui para frente vemos que estamos nos aproximando de uma virada de ciclo, saindo de um uma baixa do mercado do boi, para o início do mercado de alta que começa em 2019, mas deve se consolidar em 2020”, declara. Para o executivo, o cenário deve ser melhor do que os últimos três anos, mas as empresas devem ficar atentas ao custo de produção, e às tecnologias disponíveis ao produtor, apurando a gestão e melhorando o custo. “Assim, o pecuarista deve ter um melhor momento daqui para a frente”. Quanto a atual situação que se depara o mercado, Silva comenta que o humor e otimismo das pessoas do agro já é outro, e de maneira geral a esperança é maior. “Assim como o alivio em relação ao que devemos ter nos próximos anos, até porque as mudanças não vão ocorrer já em janeiro próximo, mas sim ao longo da temporada”, diz o diretor.
Já o CEO da Coimma, Paulo Dancieri Filho, diz que costuma brincar que o pecuarista não é termômetro para balanço de ano, pois sempre vai reclamar que não está bom. “E em 2018 não foi diferente, pois de fato ele teve razão em reclamar da arroba, com os preços não estando firmes”. Na experiência registrada “dentro de casa”, o executivo comenta que apesar do ano ter sido de lamento, econômica, a empresa registrou crescimento de 30%. “Acreditamos que isso se deve não só ao nosso investimento em tecnologia, mas também pela preocupação do pecuarista em melhorar suas condições de trabalho no dia a dia, independentemente das dificuldades encontradas no mercado”, comenta.
Para Dancieri, o pecuarista agora está se colocando feliz com o resultado da eleição presidencial e acredita que o novo governo estará ao lado da pecuária. “Porém, digo que temos que ter ressalvas para não nos frustrarmos no futuro. Não é porque o governo apresenta uma agenda favorável ao agro, que ele irá fazer tudo o que os produtores pedem. Então tem que haver cautela, mesmo em um momento de esperança e boas expectativas”. Na avaliação do ano, Dambrós, da Boehringer, diz que este ficou marcado pela expectativa, principalmente em relação à corrida eleitoral. “Foi um ano de bastante inquietude, então para o produtor de leite e de carne acabaram sendo favoráveis os resultados e esperamos um ano de 2019 melhor, vendo inclusive reflexo no mercado futuro da arroba, com expectativas melhores de preço”. O gerente diz que é bom frisar que 2018 ainda não acabou, e estamos em plena estação de monta, momento importante da reprodução que vai definir número de bezerros do ano que vem. “O produtor tem que seguir atento em seu dia a dia, até porque independentemente da perspectiva, ainda não se sabe o que vai acontecer no ano que está para chegar. Porém, ele está motivado, e é isso que notamos nas conversas com nossos amigos e clientes”. Dambrós crê que de fato que 2019 será melhor que 2018, na pecuária e que será ano de quebrar barreiras e aumentar a produtividade. “Temos potencial gigante para importação e exportação, podendo assim fazer com que a nossa pecuária quebre recorde atrás de recorde”.
Superando as expectativas
Diante do cenário apresentado, era de se esperar que neste ano as edições da Intercorte não tivessem grande margem de público, ou interesse por parte dos visitantes em estar na feira e conferir as novidades e serviços disponíveis por lá. Porém, Carla comenta que o que aconteceu foi exatamente o oposto, com recordes de público sendo batidos, além da satisfação por parte do parceiros e realizadores da Intercorte.
“As duas primeiras etapas, em Cuiabá (MT) e Marabá (PA) foram grandes, com grande participação de público, onde percebíamos aquela tensão no ar por parte dos visitantes”, diz. Segundo ela, esse clima também se deu na Conferência Internacional de Pecuaristas (Inter-conf), em Goiás, realizada no mês de setembro, onde os ânimos alterados pela ansiedade de saber o que ia acontecer com as eleições era grande. “De qualquer forma, as coisas caminharam bem, e eu percebi uma retração por parte das empresas, o que é natural devido a toda esta cena. Agora já vemos que as coisas começam a fluir melhor, com as pessoas mais aliviadas e com um novo ano bastante promissor”, declara a organizadora da feira. E é na base desta promessa por tempos melhores que os pecuaristas estão ali na lida, todos os dias em busca do aumento de produtividade e assim, ter mais dinheiro no bolso, além de produzir um animal de qualidade para os consumidores finais. José Carlos Bron-ca é criador de gado no Acre, e lá está a 40 anos. Segundo ele, que trabalha com o sistema de recria e engorda, mesmo em meio a um ano politicamente conturbado, os preços melhoraram e acredita que a partir de janeiro, com novas ideias e um País melhor, os resultados serão mais positivos para os produtores. “Acredito nessa renovação, com a esperança de um ano melhor, com valores melhores e a lucratividade em nosso bolso, ao final do ciclo”, declara.
O desejo de Bronca é que o produtor rural e o trabalhador brasileiro, de qualquer mercado ou setor, tenha mais condições e valores no dia a dia. “Em nossa vida de pecuarista, buscamos contribuir para o aumento da produção de carne nacional. E para isso, pretendo ampliar meu negócio, uma vez que quanto mais trabalho temos, mais podemos empregar as pessoas, produzir e assim por diante entrar nessa linha em que todos saem ganhando, inclusive o consumidor, lá na ponta final da cadeia”, diz.
Lúcia de Castro Bastos, também é produtora, e suas propriedades ficam na cidade de Pompéia, São Paulo. Realizando o trabalho de ciclo completo, atualmente ela tem terminado os animais em boitel. “A fazenda já tem mais de 90 anos na família, e hoje trabalhamos apenas com pecuária. São duas propriedades trabalhadas em conjunto, uma tem mil hectares e a outra 1.600 ha, com cerca de 1.200 cabeças ao todo”, comenta.
Sempre na busca por conhecimento e novas trocas de experiências, a pecuarista diz que esse ano teve algumas dificuldades, como o clima, por exemplo, devido à seca mais prolongada. “Temos o defeito de saber que ela virá e não nos prepararmos devidamente, por isso estou sempre em busca por melhorar minhas atitudes dentro do campo, para não sentir tanto os problemas que possam surgir”. Além desta questão, Lúcia comenta que a greve dos caminhoneiros foi um ponto importante no ano, onde mudou bastante o mercado e o modo de agir dos produtores, “Esse fato serviu para mostrar uma união maior entre nós pecuaristas, algo que já vem acontecendo desde 2017 e que só pode agregar ao nosso trabalho”, declara.
Adepta a tecnologia, a produtora conta que trabalha praticamente só com Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF), e na parte nutricional investe em suplementos mais tecnológicos e de ponta, para colher os frutos em um curto espaço de tempo. “Em 2019 espero que as coisas fiquem mais estáveis em preços, e estou com o pensamento positivo para o ano que logo se iniciará”. Dessa forma, ela crê que todos estão mais esperançosos, mas sem euforia. “Acho que há um alivio inicial agora, e as expectativas são de sair da posição em que estávamos e ter um melhor ano, na parte mercadológica e financeira”, diz.
Texto: Bruno Zanholo • Fotos: Leandro Maciel de Souza