Programa promove melhorias nas fazendas e maior bem-estar dos animais, criando uma base de confiança sem uso de objetos que possam causar qualquer desconforto, estresse ou irritação.
O programa, intitulado Creating Connections, foi desenvolvido nos Estados Unidos pelo médico veterinário Tom Neffsinger e pelo brasileiro Paulo Loureiro, e visa melhorar a comunicação ser humano-animal, seja um cavalo ou um bovino. Essas duas espécies se comportam de forma muito parecida, sendo o bovino um pouco mais sensível.
Segundo Paulo Loureiro, quando se estabelece para os animais uma linguagem não verbal que é possível entender, eles confiam e se entregam. “O ponto é que temos que parar de tocar gado, e sim guiar o gado, essa é a nossa função como pastores. O benefício maior será para as pessoas, que vão trabalhar sabendo o que estão fazendo e sem colocar estresse no animal”, diz.
Na verdade, está é uma forma de comunicação antiga e esquecida, talvez pelo fato da alta concentração de gado que há nas propriedades. “Também tem o fato da urbanização ter crescido. O dado no Brasil hoje é que mais de 90% das pessoas estejam nas cidades, e só 10% nas fazendas”. Com isso, se perdeu esse concei-to, porque os produtores mais antigos foram parando e não houve reciclagem. Guilherme Alves Rothe, consultor de pecuária da MSD, comenta que o sistema ajudará muito a pecuária, através de desenvolvimento de mão-de-obra para manejo adequado do gado que proporcionará ganhos diretos aos pecuaristas. “A técnica permite melhoria no manejo diário da fazenda, maximizando o desenvolvimento e a saúde do rebanho e reduzindo os prejuízos decorrentes de acidentes, lesões na carcaça, entre outros”, diz. O manejo humanizado dos bovinos impacta em ganhos para toda cadeia produtiva, desde manejadores, prestadores de serviços, pecuaristas, animais, frigorífico, até o consumidor final.
A ferramenta pode ser utilizada em todo Brasil e Loureiro explica que somente é necessário adaptar os conceitos à situação que se encontra. “Por exemplo, se a pessoa está numa região onde há pastagens grandes e tenta trazer o animal para o curral, haverá dificuldade. Nesse caso, ela terá que aclimata-los no pasto, para que vejam que é legal”, explica.
O mesmo serve para o caso de levar os animais do curral para o pasto. “Tem que treina-los a sair e voltar para o pasto. São exercícios de treinamento que devem ser feitos, e o gado é fácil de ser treinado porque ele se comporta em grupo”, declara. Dessa forma, se o mane-jo implementado faz sentido para o animal, o produtor conquistará o grupo.
Trazendo mudanças
Embora pareça uma novidade, este conceito já é relativamente antigo. A diferença é que, só agora, está sendo difundido no mercado comercial. Mas, é uma técnica que tanto Loureiro quanto o Tom estão trabalhando há 20 anos. “Temos que fazer as pessoas conhecerem. Seria errado dizer que nós inventamos, porque a prática já existia, nós só colocamos conceitos que estavam espalhados numa técnica só”, declara. Para ele, a mudança no setor se dá por prolongar essa difusão.
E está difusão faz com que cresça a pressão de consumidores exigentes, que desejam conhecer a origem da carne produzida, além da preocupação dos produtores e frigoríficos. Segundo Rothe, na produção de proteína animal as exigências são os tratamentos que os animais receberam, as condições que foram criados e a qualidade dos alimentos fornecidos. “Assim, atendendo a todas as elas, os produtores irão profissionalizar o sistema de produção, alavancando o desenvolvimento da pecuária brasileira, como vem acontecendo nos Estados Unidos”.
Ainda segundo ele, um programa como este será um divisor de águas para quem implementá-lo, pois os ganhos impactam positivamente em toda cadeia produtiva da carne. “Acredito que nos próximos anos este tipo de serviço será indispensável para produtores de proteína animal”, diz.
O treino humano
O treino do homem no campo é fundamental para que a ferramenta seja utilizada da melhor maneira possível. Quanto a isto, Loureiro explica que o tempo para pegar a prática da técnica vai muito de cada pessoa. “Tem gente que tem medo e o animal sente esse medo. Essas pessoas são mais difíceis de aprender”, declara. Porém, segundo ele, há pessoas que em questão de quatro meses já consegue dominar muito bem. “O Guilherme é um desses exemplos. Ele está avançado já. E isso se deu porque praticar é fundamental para se aperfeiçoar”. Sobre este processo de aprendizagem, Guilherme Rothe diz que foi importante. “Gosto de aprender coisas novas que me ajudam no dia-a-dia facilitando meu trabalho e o trabalho das pessoas que me cercam, trazendo inovações e soluções para os pecuaristas que atendo”, diz. Para ele, o Creating Connections difere a equipe da MSD no mercado, pois sai a frente com uma inovadora técnica de manejo. “A empresa investe constantemente na capacitação dos seus colaboradores, buscando oferecer soluções completas em saúde animal para seus clientes”.
O programa mostra uma nova forma de manejar o gado, apenas com a linguagem corporal, criando uma base de confiança sem uso de objetos que possam causar qualquer desconforto, estresse ou irritação.
Segundo o diretor regional de originação São Paulo e Mato Grosso do Sul, da JBS, Eduardo Pedroso, a companhia é parceira na divulgação do projeto nos EUA e aqui no Brasil, ainda irá sentar e conversar com a empresa sobre como podem trabalhar juntas. “Tudo que vai ao encontro do manejo racional, a produtividade, ao manejo gentil, está de acordo com o nosso pensamento que é focar um produto de melhor qualidade”, declara. Ele explica que a empresa possui uma equipe que faz manejo com as boas práticas, e a nova ferramenta vem para ajudar na evolução.
José Luiz Medeiros, diretor executivo de originação da JBS ressalta que tudo que vem a aperfeiçoar as boas práticas é bem-vindo. “O Brasil tem dimensões continentais, e temos que tomar cuidado para não anular o que vem sido feito nos últimos anos”. Ele diz que o que tem que se ter em mente é sair do manejo que trata o boi como um animal selvagem, para um manejo mais inteligente, e proporcionar bem estar e produtividade. “Com certeza, esse conceito de criação está aí para nos ajudar nesse ponto”, diz. Com a ampla divulgação do programa, Loureiro comenta que a princípio, as expectativas são de rapidamente diminuir o número de acidentes nas fazendas, e que rapidamente diminua o nú-mero de agressões aos animais, sendo assim, a difusão da técnica “nada nas mãos”, será mais rápida. “Queremos que as pessoas larguem pedaços de pau, cabos, e bandeiras no tratamento do gado brasileiro. Que elas entendam que o ser humano e o animal possam ser um só dentro do campo”, declara.
Já para Rothe, as expectativas são as melhores possíveis, já que o programa é prático e aplicável ao manejo do gado, sem estresse. “Vejo que em um futuro próximo será um fator de decisão para consumidores, indústria e produtores”. O fato é que comprovadamente ele melhora o manejo, o desenvolvimento e o rendimento dos animais, maximizando a produtividade na fazenda e no frigorífico, apresentando uma carne de maior qualidade para o consumidor final.
