Tecnologia

Onde há fumaça…

Imagine poder identificar com rapidez possíveis focos de incêndio e combatê-los antes que eles causem prejuízos a lavoura. Uma startup imaginou. Assim nasceu a Sintecsys, que monitora e permite ao produtor reduzir riscos na propriedade.

Ter a lavoura monitorada 24 horas por dia pela mais alta tecnologia que o mercado oferece, afim de evitar as queimadas e incêndios nas plantações rurais espalhadas pelo País, já é uma realidade para aqueles produtores que sofrem com este tipo de dano e perda de lucratividade. Isso se dá graças ao sistema desenvolvido pela Sintecsys, empresa nascida de uma demanda dos produtores de cana-de-açúcar que tinham uma problemática com incêndio criminoso na região de Andradina (SP). Além das perdas pelo crime, eles também eram penalizados pelas queimadas, com multas ambientais, por exemplo. “Daí então surgiu a demanda por uma tecnologia que pudesse detectar preventivamente os focos de incêndios. Assim, os estudos e testes começaram em 2015 para que em 2016 a empresa pudesse ser aberta já com o algoritmo funcionando de maneira oficial”, declara Rogério Cavalcante, CEO da startup.

A tecnologia da empresa basicamente se trata de um dispositivo de captação de imagem, onde são feitas algumas alterações nas câmeras de segurança e assim o sistema possibilita o monitoramento de modo que busca fumaça de forma automática. “Como estamos falando de câmeras de alta definição, com zoom extremamente potente, além de prevenir a queimada, o produtor também pode usar como sistema de monitoramento. Na verdade, é um ‘Big Brother’ do plantio, onde se detecta tanto falhas que ocorrem no plantio e colheita, quanto a detecção das queimadas”. O sistema fica buscando fumaça de incêndio num raio de 15 km de diâmetro, o que é considerada uma distância longa. Ao detectar o sinal de fumaça, emite um alerta para o operador, que vai ver se é um foco de incêndio, se está dentro da propriedade e assim tomar as providencias cabíveis. “O que determina se é ou não um foco de incêndio é o nosso algoritmo, o nosso software que faz milhões de contas em poucos segundos para ter a detecção”, diz Cavalcante. Segundo ele, antigamente se levava cerca de 40 minutos para esta ação acontecer, já hoje são cinco minutos no máximo, informando ainda a coordenada do foco de incêndio em segundos. Atualmente a Sintecsys tem o sistema instalado em três Estados (Amapá, MG e SP) e monitora mais de dois milhões e meio de hectares. “As perdas por queimadas reduziram em 90%, nos clientes onde a tecnologia foi instalada e a redução de custo com brigada de incêndio caiu 50%”, diz.

O executivo conta que para o produtor ter esta tecnologia em sua propriedade, basta ter apenas boa vontade e entrar em contato com Sintecsys, para que seja montado um sistema e solução que caiba no bolso do agricultor. “Cada caso é estudado individualmente, uma vez que existem diversas variedades de câmeras, modelos e possibilidades para se garantir este monitoramento”. A partir do momento que o produtor contrata o sistema, os técnicos da startup precisam do mapa da propriedade e saber o que será monitorado. “Assim, geramos um relatório de forma rápida para mostrar qual seria o melhor caso de funcionamento para aquela fazenda”. O próximo passo é fazer um
estudo geográfico de cada propriedade para ver onde é melhor instalar a tecnologia, e Cavalcante conta que tem parceria com as principais operadoras de telefonia para que se possa utilizar as torres já existentes e disponibilizar o monitoramento a valores baixos ao produtor.

Por falar em valor, a empresa trabalha com duas possibilidades de negociação. Trata-se da venda, e também a locação do equipamento. “Hoje todos nossos clientes optam por fazer o contrato de aluguel e dessa forma, por cerca de R$ 5 mil/mês, eles já conseguem ter o monitoramento da sua propriedade funcionando”. Para o produtor que pode se assustar com o preço para se ter o sistema em casa, o CEO diz que já houve caso aonde no primeiro mês de locação o agricultor com a detecção dos focos de incêndio conseguiu evitar a perda de dinheiro suficiente para três anos de locação da tecnologia. “Se você pegar o incêndio em cana de açúcar em 100 ha, por exemplo, são muitos milhares de reais, e você evitando isso com o serviço que prestamos, acaba economizando o dinheiro para ser investido”, declara. Por mais que os contratos sejam de 36 meses, nada impede que se façam testes e que o produtor visite clientes onde a método já é aplicado, para que assim ele contrate na certeza. “Então, a sugestão é que ele entre em contato conosco para que juntos criemos um modelo de negócio que seja bom tanto para o produtor, quanto para todos a sua volta”.

Segundo o executivo, o produtor vai sentir a diferença já desde a instalação, pois nesse momento, ter uma tecnologia que detecte os focos traz diferencial a ele, uma vez que a maioria dos incêndios são criminosos e ter a tecnologia instalada inibe tal ação. “É a prevenção atuando junto com a correção, pois irão ser penalizados aqueles que de fato são os que cometem as queimadas”.

“Abraçando” a ideia!

Se a tecnologia é boa e trará frutos econômicos para o agricultor, um parceiro forte e de credibilidade se torna imprescindível para o sucesso. É dessa forma que o Bradesco abraçou a Sintecsys e a trouxe para dentro do inovaBRA Habitat, ambiente onde a instituição junto de outras grandes empresas consegue encontrar novas soluções e tecnologias oriundas de startups. Fernando Freitas, superintendente executivo do banco diz que vivemos numa era de transformações onde o ambiente competitivo se dá pelo domínio das tecnologias e inovações. “É uma onda global em termos de necessidade de atender os clientes. Entendemos esse movimento e desde 2012 estamos fazendo uma transformação bastante grande para que consiga encontrar inovações e encurtar o ciclo delas. É assim que o inovaBra Habitat se encontra posicionado neste contexto e estratégia”.

O superintendente comenta que na visão do Bradesco o digital vai mudar a forma como todas as grandes empresas hoje conseguem ofertar seus produtos e serviços, e assim a fluidez que os clientes vão ter suas demandas atendidas passam por esse processo. “As startups estarão jun-tas conosco dentro de uma grande jornada, ofertando serviço e produto não somente financeiro, mas principalmente que se adeque as necessidades do homem do campo”. Para ele, no agronegócio isso vai acontecer logo, já que hoje o setor é o principal da economia brasileira. “A cadeia produtiva estará conectada com os bancos fazendo parte desta jornada”. Com um fundo de R$ 200 mi para investir em aquisições estratégicas de startups que possam agregar valor para os clientes, a tecnologia irá ajudar a instituição a dar um passo a mais como financiadores e consultores dos clientes, principalmente no setor agrícola. “As startups vão nos ajudar a entregar mais valor para quem é do campo, entregando não só mais financiamento, mas também aumentando a produtividade e trazendo mais informações para a tomada de decisão dos agricultores”, declara Freitas. É também dessa forma que o Bradesco está mapeando qual será a capacidade de seus parceiros no campo no sentido de agregar valor dentro do dia a dia no campo. “Nesse momento buscamos entender qual a necessidade efetiva que conseguimos atender, e aí o passo seguinte é entregar isso de uma maneira digital, para que o cliente consiga interpretar os dados e tomar as diretrizes mais assertivas para a fazenda”.

Cavalcante diz que a relação da Sintecsys com o banco começou quando foram convidados para conhecer o inovaBRA e assim, quando fizeram a visita para ver qual era o projeto deste espaço, ficaram positivamente surpresos. “Não somente pelo lugar em si, mas também com o trabalho desenvolvido aqui, em prol da tecnologia”, diz o CEO. Segundo ele, no Habitat está centralizado o que há de mais moderno em projetos tecnológicos. “Dessa forma, a alegria nossa de ser uma delas é enorme, devido também a importância que o Bradesco tem para o agro-negócio”. Ao que tudo indica, essa parceria vem para validar o sistema da startup e os ganhos trazidos por ela, além de mostrar ao produtor que o trabalho é sério e busca somente beneficiá-lo. Freitas comenta que no inovaBRA existem mais três startups além da Sintecys ligadas ao agronegócio, fora algumas mais que não se encontram no espaço, mas que são monitoradas pela instituição financeira. “Com todo este investimento e monitoramento, queremos dar maior fluidez ao agricultor. Nosso desejo é que ele consiga em uma única plataforma todas as informações necessárias para fazer a gestão do seu negócio, ao mesmo tempo que tem o Bradesco disponível para oferecer os créditos e serviços que necessitam”, declara.

A tecnologia da Sintecsys foi desenvolvida no Brasil, e segundo o CEO a dificuldade foi grande, uma vez que a fumaça a campo aberto é diferente de ser detectada em relação a ambiente controlado. “Temos um monitoramento lá no Amapá, por exemplo, onde são 180 mil hectares de eucalipto e lá as condições luminosidade e relevo são tão diferentes que nosso algoritmo foi adaptado para que funcionasse naquela região. Isso nos fez aprender e evoluir com nossa tecnologia”.

Para se manter atualizado num mercado competitivo, onde novidades surgem a todo momento, Cavalcante aposta na qualidade que utiliza no sistema, além de estar sempre no trabalho de desenvolver novas ferramentas. “Temos a tecnologia de ponta, e gastamos hoje cerca de 60% de nosso faturamento com desenvolvimento. Ou seja, somos uma empresa tecnológica de olho aberto em todas as novidades do mercado, pois nosso objetivo é cruzar dados de informações de satélites, com dados de previsibilidade do tempo e prever o índice de probabilidade de ocorrência de incêndio antes que ele ocorra”, declara.

E por falar em previsão do tempo, o executivo explica que para desenvolver um sistema de fato eficaz, além de utilizar o que há de mais avançado no mundo tecnológico, houve uma aproximação com a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) para buscar o conhecimento necessário sobre o plantio. Já na área de hardware, a parceria é com a Bosch, que é quem fornece as câmeras do projeto. “Por fim, quanto a transmissão de dados temos a companhia da Cambium Networks. Toda essa junção permite e dá a garantia de termos o serviço estável diante das intemperes que a vida na lavoura traz, seja chuva, vento, sol ou raio”.

Cavalcante revela que o sistema foi concebido para áreas remotas e que também possui um autodiagnostico que informa algum problema ou componente danificado, permitindo que em até 24 horas o sistema seja colocado para funcionar novamente. Outro ponto que o produtor pode ficar sossegado é quanto a falta de luz, uma vez que a tecnologia foi desenvolvida para funcionar sem energia elétrica e sem internet. “O tráfego de dados é feito pelo nosso sistema próprio”. E pensando no futuro, o CEO comenta que é aprimorando cada vez mais o trabalho e ajudando de fato a vida do homem do campo que a Sintecsys vai ter o sistema espalha-do pelos quatro cantos do Brasil. “A cada upgrade, a cada atualização que temos da nossa tecnologia, a luta contra os incêndios se torna mais eficaz, e assim, o nosso cliente tem melhores resultados em seu bolso”.

Texto: Bruno Zanholo • Fotos: Leandro Maciel de Souza

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