O resultado é que, além do grão, o agropecuarista vai dispor de capim de alta qualidade e em grande quantidade, seja para oferecer ao gado na seca, seja para obter palhada para o plantio direto. Pesquisado por cientistas da Embrapa, o sistema é voltado para a região do cerrado brasileiro e recomendado para solos com acidez corrigida e de média a alta fertilidade.
De acordo com o pesquisador João Kluthcouski, da Embrapa Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goiás/GO), o Santa Fé, em comparação ao plantio solteiro, possui custo extra de implantação de R$ 10 por hectare para o agricultor. Montante referente a aquisição se semente da forrageira (cerca de R$ 2 o quilo), levando-se em conta que são necessários cinco quilos de semente por hectare com VC (valor cultural ou de germinação) de 30%. As demais operações (aplicação de defensivos, adubação, semeadura e colheita) não exigem acréscimos de acréscimos de investimentos. Isso porque a braquiária é plantada com a cultura ao mesmo tempo, beneficiando-se das atividades corriqueiras de cultivo. É recomendável que o pecuarista adquiriram maquinário (plantadeira, colheitadeira etc) ou arrendamentos agrícolas. Convém também dominar a técnica de plantio. João Kluthcouski afirma que o estabelecimento do Santa Fé deve ocorrer na safra de verão em PD, preferencialmente, ou no sistema convencional (arar, gradear etc). Ele explica que a semeadura é feita de maneira que as sementes da forrageira, misturadas ao adubo, fiquem pouco (três a quatro centímetros) abaixo das sementes da cultura.
Existem recomendações específicas de regulagem da plantadora para profundidade de plantio e espaçamento entre linhas que variam segundo o consórcio e os tipos de solo.
Uma vez concluída a semeadura, é preciso acompanhar a lavoura. Como as plantas vão crescer juntas, o pesquisador Tarcísio Cabucci diz que, no caso da soja, é aconselhável aplicar subdoses de herbicidas (apenas 25% da dosagem normal) para “segurar” o capim após sua emergência. Isso irá impedi-lo de competir com a cultura na fase inicial de desenvolvimento. Outro detalhe destacado pelos pesquisadores é que a adubação nitrogenada de cobertura (exceto na soja) deve ser antecipada para cerca de 10 dias após a emergência da cultura. Isso dará um “empurrão” para que ela se estabeleça mais depressa e impeça o avanço da braquiária.
João Kluthcouski adverte que, na hora da colheita, um cuidado tem de ser tomado. A operação não pode ser feita tardiamente. Isso porque o capim tende a crescer mais rapidamente com o amadurecimento da cultura. Considera-se ainda a possibilidade de uso de dessecante para “queimar” a parte da área da forrageira e melhorar o rendimento da colheita, quando o consórcio for com a soja. Estudos sobre o Santa Fé indicam que o capim não alterou significativamente a produtividade. Em média, as quedas de rendimento para milho e sorgo foram inferiores a 2% e a 3%, respectivamente. Já o mesmo não pode ser dito sobre a soja. Houve uma redução média de 21%.
Essa constatação reafirma a recomendação de se aplicar subdoses de herbicidas para inibir o crescimento da braquiária. Com esse tratamento, pode-se minimizar a perda para menos de 10%. Passada a colheita, aconselha-se a vedar a área entre 30 a 60 dias, tempo suficiente para a rebrota. Depois é só colocar o gado em pastejo direto ou fazer silagem para o período da entressafra. Quem quiser acelerar o processo de crescimento do capim pode ainda aplicar 30 quilos de nitrogênio por hectare, afirma. No caso dos adeptos ao PD, a braquiária, após dessecada, fornecerá cobertura morta de alta qualidade para o plantio na safra de inverno, explorando-se culturas sob irrigação, ou no verão seguinte. Para isso, Cabucci orienta que a utilização de herbicida deverá ser feita em torno de 10 dias (forrageira com até 40 cm de altura) a 25 dias (altura superior a 60 cm) antes da semeadura.