Pecuária

Pesquisas buscam a produção de leite enriquecido e do tipo A2A2

A Zootecnia brasileira tem contribuído fortemente para que a produção leiteira do Brasil passe a ofertar o leite biofortificado e o do tipo A2A2. A chegada dos produtos ao mercado nacional representará um ganho para o mercado de produtos de origem animal, que movimentou R$ 578,2 bilhões só em 2018, e, principalmente, para a saúde alimentar da população.

Isso porque o leite A2A2 possui proteína de melhor digestão no corpo humano. Já o biofortificado, é produzido por bovinos leiteiros já enriquecido com nutrientes extras, diferente do fortificado – o qual que já existe no mercado e se trata de um produto cujos itens nutricionais são adicionados.

Para a produção de ambos, é preciso um trabalho detalhado de equipes multidisciplinares, que contam com a expertise da Zootecnia nas áreas de Melhoramento Genético, no caso do leite A2A2, e de Nutrição Animal, para o biofortificado.

No Instituto de Zootecnia da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), vinculada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA), um programa de pesquisa avalia os caminhos para a produção do leite biofortificado em projetos realizados em parceria com a Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) e a Faculdade de Medicina (FM) da USP.

A Dra. Márcia Saladini Viera Salles, zootecnista que integra a equipe de pesquisadores, comenta que já foi possível produzir três tipos de leite biofortificado: um rico em vitamina E e Selênio, outro rico em gorduras insaturadas – que possui os chamados ácidos graxos conjugados, considerados saudáveis –, e uma terceira opção com os três itens juntos.

“São resultado de um trabalho minucioso que envolve balanceamento nutricional, monitoramento de todas as fases (como o volume de determinado item ofertado ao gado e as sobras) e análise do leite produzido posteriormente”, explica Márcia, que palestrará sobre o assunto no 2º Encontro de Zootecnistas do Estado de São Paulo, que será realizado pelo CRMV-SP no dia 14 de maio, no auditório da FZEA/USP, em Pirassununga.

As pesquisas começaram em 2009, envolvendo mais de 50 cabeças de gado da raça Jersey em duas fases. Márcia relata resultados satisfatórios para a saúde de crianças e de idosos, no que tange à absorção dos nutrientes desses leites, fator que foi avaliado em parte dos estudos, sob acompanhamento da FM/USP.

“O próximo projeto, por meio do qual iremos responder alguns questionamentos da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], aguarda liberação de recursos”, conta a zootecnista. Ela explica que, nessa nova fase, a intenção é esclarecer a biodisponibilidade, ou seja, o quanto o animal absorveu do que foi ofertado em sua alimentação com foco na produção do leite biofortificado, bem como comprovar qual o perfil do nutriente que o leite possui.

Brasil tem vantagens para a produção de A2A2

Disponível em países como Nova Zelândia, Austrália e Estados Unidos, o leite A2A2 está mais próximo de integrar a lista de produtos de origem animal do mercado brasileiro. No Instituto de Zootecnia (IZ), também vinculado à Apta/SAA, pesquisas iniciadas em 2014 apontam para isso.

O trabalho de genética, a partir do cruzamento de animais e análises de DNA, resultou em um rebanho de 100 vacas portadoras do gene que leva os animais a produzirem o leite contendo a beta-caseina A2 que, de acordo com estudos, não apresenta os mesmos riscos de problemas coronarianos, alergia e diabete mellitus tipo 1 e síndrome da intolerância ao leite, como ocorre com a beta-caseína A1, encontrada no leite comum.

Mesmo levando em consideração que no exterior as pesquisas sobre o leite A2A2 tenham sido iniciadas muito antes, em 2000, o Brasil se destaca pela característica majoritária de seu gado.

“A vantagem é que no País predomina no rebanho leiteiro as raças Gir e Girolando, cuja prevalência do gene é de 80%, enquanto em outros países predomina o holandês, que tem incidência de 50% do gene”, afirma o Dr. Enilson Geraldo Ribeiro, pesquisador do IZ.

Ribeiro, que também ministrará palestra sobre o tema durante o 2º Encontro de Zootecnistas do Estado de São Paulo, explica que, com maior taxa de gado com o gene, o Brasil pode otimizar a seleção genética e, consequentemente, os processos de obtenção desse alimento específico.

“Algumas fazendas já produzem o leite A2A2, porém, o País ainda não possui as diretrizes para identificação e certificação por parte da vigilância sanitária, as quais irão nortear a reorganização do setor. Nosso trabalho irá contribuir nesse sentido”, argumenta o zootecnista.

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