O uso do fogo na agropecuária tem atingido níveis alarmantes. A prática, rudimentar e extremamente perigoso para o meio ambiente, porém, pode ser substituída por outras técnicas mais seguras e mais eficientes.
O monitoramento do uso de fogo no território brasileiro revela que, anualmente, o País realiza cerca de 300.000 queimadas, de origem essencialmente agrícola e, em geral, registradas em áreas já desmatadas. Os mapas elaborados pela Embrapa indicam que a Amazônia Legal, composta pelo Acre, Rondônia, Amazonas, Amapá, Pará, parte do Maranhão, Mato Grosso e Tocantins, concentra mais de 85% das queimas que ocorrem de forma constante que ocorrem de forma constante no Brasil. Nesse sentido, os Estados que mais contribuam para esse fenômeno nos últimos três anos são Mato Grosso (38%), Pará (27%), Maranhão (10%) e Tocantins (7%). “É a chamada região arco de fogo, juntamente com Rondônia. Áreas muito críticas e que precisam de ações prioritárias”, comenta o pesquisador e coordenador de Projetos Especiais da Embrapa/Pesquisa e Desenvolvimento, Fernando Campos.
Para se ter uma idéia, na Bacia Amazônica, O índice de incidência de queimadas, considerando quadrículos de 100 km² no mapa, passou de 4,5 queimadas em 1997 para 7,5 em 1999. No Complexo do Pantanal, principalmente em sua região norte, esse mesmo índice subiu de duas para oito queimadas. Diante desse cenário, o Ministério da Agricultura e do Abastecimento e a Embrapa lançaram, em junho, a campanha “Alternativas para a Prática de Queimadas na Agricultura”. Uma promoção que vem sendo executada em parceria com os ministérios do Meio Ambiente, do Desenvolvimento Agrário, governos estaduais, prefeituras, setor privado, organizações não-governamentais (ONGs), cooperativas e órgãos de assistência técnica e extensão rural. “Uma iniciativa importante, uma vez que não se trata de um combate coercitivo, por meio de multas, por exemplo, mas de um trabalho de conscientização. Aproveitou-se o Know-how da Embrapa, no sentido de difundir técnicas de substituição a queimadas”, comenta Campos, lembrando que, de junho a julho, a entidade promoveu nove seminários, atingindo cerca de 400 técnicos, que estão repassando os conhecimentos a mais de 150 mil produtos da região do arco do fogo. “É um estímulo ao uso de alternativas tecnológicas na agropecuária que substituam as queimadas. Este é um processo educativo lento, que está apenas começando. O fogo está arraigado na cultura desses agropecuaristas e temos de saber lidar com isso. A campanha tem caráter contínuo e os maiores efeitos deverão ser notados a médio e longo prazos como resultado para este estudo ano, espera-se um decréscimo no uso do fogo, mas ainda não é possível quantificar.”
O fogo é uma tecnologia de período Noelítico, amplamente utilizada nos campos brasileiros, apesar dos inconvenientes agronômicos, ecológicos e de saúde pública. As queimadas ocorrem em todo território nacional, desde formas de agricultura primitivas, como as praticadas por indígenas e caboclos, até os sistemas de produção altamente intensificados, como a cana-de-açúcar e o algodão.
Há muitos tipos de queimadas, movidas por diferentes interesses, o que, de acordo com o pesquisador da Embrapa, faz com que toda queimada seja, antes de qualquer coisa, uma questão econômica. “Nada menos que 95% das queimadas no Brasil ocorrem em áreas de agricultura ou pecuária, principalmente com a função de eliminar plantas invasoras e pragas.”
As queimadas afetam diretamente as condições físico-química e a biologia dos solos, deteriora a qualidade do ar, reduz a biodiversidade e prejudica a saúde humana. As queimadas alteram as características climáticas e provocam negativas mudanças na atmosfera, como o efeito estufa e o buraco na camada de ozônio. Conjugando sensoriamento remoto, cartografia digital e comunicação eletrônica, a equipe da Embrapa Monitoramento por Satélite realiza, desde 91, um mapeamento das queimadas no Brasil.
O trabalho também conta com o apoio da Fapesp e com parceria do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Substitua o fogo das pastagens!
Uma das ações da campanha contra queimadas é disseminar práticas que possam substituir p fogo na gestão de pastagens. Só para renovação de pastagens, o Ministério da Agricultura e Abastecimento disponibilizou, dentro do Plano Safra, R$ 4000 milhões para a região do Cerrado, com o intuito do produto renovar com tecnologia. Dessa forma, a Embrapa aponta algumas alternativas que podem contribuir para o combate ás queimadas: Manejar a pastagem com rotações do gado divisão dos pastos; / Cuidar do pH e da fertilidade do solo; / Enriquecer o pasto com outras espécies, principalmente leguminosas perenes; / Manter áreas com pastagem cultivada / Reservar, com cercas, alguns pastos / mesmo nativo – para uso no período seco; / Aumentar a digestibilidade das palhas com algum complemento proteico ou nitrogenado (uréia) ou com o banco de forrageiras (leguminosas); /Confinar parcial ou totalmente o gado.