Pecuária

Pasto irrigado e genética

Em meio a maior estiagem dos últimos 60 anos, produtores cearenses, que investem em inseminação e irrigação, viram exemplo de produção leiteira para o país.

O sucesso conquistado por fazendas produtoras de leite no sertão nordestino foi o foco do Tour do Leite promovido pelo Departamento Leite Tropical da ABS Pecplan em novembro. Cerca de 30 produtores rurais e técnicos de 11 estados brasileiros, além de dois pecuaristas do Paraguai, participaram da comitiva que visitou quatro fazendas no Ceará.

Fernando Rosa, gerente de produto Leite Tropical da ABS Pecplan, conta que foram escolhidas propriedades rurais consideradas referência, já que conseguem resultados impressionantes, mesmo enfrentando pouca incidência de chuva, em média de 700 mm/ano. “São locais com condições para receber 0,5 unidades de animais por hectare, mas que depois da implantação do sistema de pastejo irrigado conseguiram até 17 unidades na mesma área”, explica o gerente.

Os resultados podem ser notados até mesmo durante um dos períodos mais secos enfrentados pelo estado dos últimos 60 anos. Dos 184 municípios que compõem o Ceará, em 2014, 96% decretaram situação de emergência pela falta d’água. Crise que não atingiu as fazendas visitadas. “As águas de chuva são armazenadas em represas que chamamos de açudes ao longo do ano, perenizando esse recurso, assim durante a seca usamos no sistema de irrigação”, afirma o representante da ABS Pecplan em Fortaleza, Péricles Montezuma.

Para enfrentar as altas temperaturas e baixa umidade do sertão cearense, as fazendas também investem em genética especializada para as condições tropicais. “É preciso que os animais possuam características para suportar essas condições climáticas, como maior quantidade de glândulas sudoríparas, para dissipar calor, transpirar e facilitar a adaptação”, descreve, acrescentando que outra característica importante para a genética tropical é a maior capacidade de locomoção. Por isso, uma tendên-cia é a utilização de produtos da raça frísio inglês, que fenotipicamente é caracterizada por animais de menor estatura e maior resistência metabólica. Durante as visitas, a comitiva conheceu de perto filhos de touros da bateria ABS das raças girolando (Porto Real, Brasão e Galáctico) e frísio (Rancher, Benloyal e Quentin), com consistência genética direcionada aos trópicos.

Ramiz Bretas, proprietário da Estância 4 R’s, em Minas Gerais, ficou impressionado. “A imagem que eu tinha do Ceará era de um deserto, de seca, de fome. E encontrei projetos de leite barato, a pasto, e em grande quantidade. É incrível, fantástico. Estou impressionado”, avalia.

Entre os participantes do Tour, dois paraguaios. Um deles, Carlos Gonzales, conta que não conhecia nem as técnicas nem a qualidade do gado especializado para trópicos. “É inacreditável o que os brasileiros estão fazendo nas pastagens tropical. Não conhecia os benefícios da irrigação, nem a eficiência da raça frisio. Foi uma ótima experiência”, comenta.

O grupo partiu da capital e passou por três cidades do interior do estado. A fazenda Cialne 18, da Companhia de Alimentos do Nordeste, no município de Umirim, abriu o roteiro. Na propriedade, é utilizado pivô central para a irrigação das pastagens. Na área de pastejo irrigado, a fazenda mantém 600 vacas paridas, com uma impressionante taxa de ocupação de solo: 17 unidades de animais por hectare. Na fazenda Grangeiro, o grupo foi recebido pelo casal de pecuaristas Rita e Fernando Grangeiro, pequenos produtores do município de Paraipaba que comprovam o fato de que a tecnologia está ao alcance de qualquer propriedade. Tudo é tão moderno por lá que com o celular é controlado todo o sistema de irrigação, feito por malhas, ou seja, tubulação enterrada.

A terceira fazenda do roteiro foi a Cialne 45, em Limoeiro do Norte, que reúne todos os animais de recria das quatro unidades de produção leiteira Companhia. Lá, são utilizados dois pivôs para irrigação da pastagem utilizada apenas por gado jovem, com resultado de um ganho de peso de 700g por dia.

Na quarta e última parada do roteiro, na Chapada do Apodi, em Limoeiro do Norte, a comitiva presenciou muita produtividade leiteira. O planejamento é para que o grupo consiga produzir 40 mil litros de leite por dia em 2015. Durante as visitas às propriedades, os participantes aproveitam para comparar informações como produtividade por hectare/ano, custo médio de produção, preço médio pago pelo leite, a importância da escolha dos touros e a evolução do rebanho.

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