Agricultura

Lavoura futurista!

O futuro começa hoje. Este é o consenso mundial que rege o setor de pesquisa na agricultura. Organismos Geneticamente Modificados (OGM) ou transgênicos, irradiação de alimentos e frutos e legumes de longa vida deixaram de ser personagens de filmes de ficção e invadiram supermercados e residências ao longo do mundo.

O melhor exemplo disso vem dos chineses, norte-americanos e argentinos, que consomem soja transgênica, independente das ações de movimentos como o Greenpeace e outros órgãos, lutam pelos direitos do cidadão e do consumidor. Mais ainda: os estudiosos apostam que a qualidade dos produtos, acima de ideologias, será tônica do mercado globalizante.

Wilhelmus Uitdewilligen, responsável pelo setor de Novas Tecnologias e Public Affairs da Novartis, empresa que investe em sementes OGM de milho, garante que o futuro próximo implicará na troca de insumos químicos por genética e na melhoria da qualidade do produto final. Como exemplo, cita soja que permita produção de óleos e ácidos graxos que prejudiquem menos a saúde humana. Ou feijão com mais proteínas. Ou ainda, oferta de quantidade cada vez maior de frutos e vegetais longa vida. No Brasil, o tomate longa vida, que não é OGM, representa 70% do mercado e nos Estados Unidos comercializa-se mamão OGM contra vírus, afirma. Ele recomenda aos produtores que se informem sobre o que há de novidade. E garante que, entre os próximos cinco e 10 anos, grande parte dos produtos deixará a classificação de commodities, para ingressar em especialidades, como o milho para a indústria de frango. Na opinião dele, o futuro implica na integração da agricultura, indústria de sementes e indústrias de produtos agrícolas com o objetivo de alcançar o consumidor com produtos diferenciados.

Uitdewilligen defende os OGMs como ferramenta de trabalho capaz de gerar lavouras com maior produtividade, menor custo por tonelada produzida e redução de microtoxinas, como a aflotoxina, no milho, por exemplo. Garante que testes realizados com sementes de milho OGM com gene que garante resistência á bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), denominado milho Bt, produzido pela Novartis, comprova maior produtividade. Os testes realizado com sementes tradicionais mostram produtividade de 7,5 mil kg/há, enquanto os milhos Bt conseguiu 8 mil kg/há.

Ele explica que a Novartins realiza experiências no Brasil, em Uberlândia Minas Gerais. Embora haja possibilidades de oferecer sementes ao mercado nacional, entre outubro e novembro do próximo ano, a decisão depende da liberação para uso de sementes OGM de soja em território nacional. Os testes com OGM são realizados pela Monsanto, AgrEvo e a própria Novartins, além da Embrapa Recursos Genéticos e de Biotecnologia (Cenargem), da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Em setembro de 98, houve aprovação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CNTBio), comissão criada em 95 e vinculada ao Ministério da Ciência e tecnologia, para acompanhar biossegurança, na utilização de sementes OGM de soja. Mas a decisão foi suspensa pelo Judiciário, atendendo a pedidos do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) e do Greenpeace.

Uitdewilligen afirma que as sementes OGM de milho são comercializadas no mercado norte-americano, desde 96. O país possui hoje entre 10 11 milhões de há plantados com sementes desse tipo, o que significa 30% da área plantada com a cultura. Mundialmente, o cenário de sementes OGM, entre soja, algodão, milho e canola, revela produção e comercialização nos Estados Unidos, Canadá, México, Chile, Argentina, Uruguai, áfrica do Sul, Austrália, Espanha, Portugal, Inglaterra e Alemanha.

Japão atua apenas como consumidor. Na Europa, legislação de 98 exige rotulagem para os produtos transgênicos, embora sem definição de nível de OGM. Na Suíça, país que não integra a União Européia, produtos que detenham mais de 1% de OGM são definidos como derivados de transgênicos.

Ainda na defesa dos OGMs, ele lembra que, entre os quatro maiores produtores mundiais de soja – Estados Unidos, Brasil, China e Estados Unidos, apenas o Brasil não usa semente OGM. Cerca de 50% da área de plantio dos Estados Unidos e da Argentina são realizados com esse tipo de material. Mais: afirma que esses países não diferenciam a produção da soja tradicional e da soja transgênica.

José Manuel Cabral de Souza Dias, chefe-geral interino do Cenargem, explica que a Embrapa pesquisa OGM desde 82/83, quando ainda recebiam a denominação de modificação genética. O objetivo da pesquisa concentrava-se no cultivo do feijão, planta de interesse social. O modelo incluía tecnologia e treinamento de pessoal. Ele reforça, porém, o fato de que a biotecnologia. Ele reforça, porém, o fato de que a biotecnologia não se concentra apenas em OGM, mas também em melhoramento genético.

Hoje, a maioria dos países investe em pesquisas de OGM. Grande parte das pesquisas concentra-se em soja, milho e algodão, culturas importantes pelo volume de produção por movimentar somas altíssimas. Dias afirma que a primeira geração de trabalhos em OGM buscava a resistência a herbicidas, insetos e doenças. Já a segunda geração, procura modificar a qualidade dos alimentos. Assim pode-se esperar a produção de soa que permita óleo insaturado, por exemplo.

A política de trabalho do Cenargem considera que O Brasil não pode esperar por discussões sobre OGM, mas avançar, para poder igualar-se aos demais países do mundo. E só apóia o uso de OGM com a segurança de que não afetem a saúde humana, animal e o meio ambiente. Atualmente, 80% do trabalho de pesquisa concentra-se espécie vegetais OGM e 20% em não-OGM.

Entre os OGM, os pesquisadores buscam acrescentar ao mamão colhido resistência a fungos e vírus; ao feijão, resistência a vírus do mosaico dourado; á soja, resistência a herbicidas; ao algodão, resistência ao bicudo; á batata, resistência a vírus do enrolamento e outros; ao cacau, resistência ao fungo vassoura de bruxa; ao café, encontrar melhor porte e qualidade.

Após o trabalho pioneiro, em feijão nos anos 80, o Cenargem investiu na soja, no final da década de 80, e nos demais cultivos, nos anos 90. Dias explica que cada cultura tem cronograma próprio e, muitas delas, estão em fase de testes de biossegurança. Ele aponta o Brasil como um dos poucos países do mundo, em condições de atender vários mercados e diversas especificações, já que há condições para produzir material OGM e não-OGM e, acima de tudo, com qualidade.

Na opinião de Júlio Marcos Melges Walder, coordenador do Programa de Irradiação de Alimentos, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), da Universidade de São Paulo (USP), o futuro, que começa agora,configura-se por tendência globalizante e qualidade dos produtos. Todas as técnicas que servirem aos dois princípios ganharão espaço.

Na verdade, esse processo já começou. Walder explica que alguns dos produtos brasileiros de origem animal e vegetal exportados para os Estados Unidos e Japão encontram problemas por apresentar pragas e doenças. A solução foi recorrer ao processo de fumigação, á base de brometo de metila. Trata-se da quarentena exigida por países importadores. Acontece que esse tratamento deve ser suspenso em alguns anos, pois o brometo de metila destrói a camada de ozônio. Os países do Primeiro Mundo não podem comercializar produtos que tenham sofrido esse tratamento, a partir de 2006. E os países emergentes, por sua vez, poderão usa-los somente até 2014.

A solução consiste em adotar a irradiação de alimentos. O processo, conhecido universalmente desde os anos 50 e com aparelhagem própria, desde a década de 60, é recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Organização de Alimentação e Agricultura (FAO), da Organização Mundial das Nações (ONU). O processo consiste na irradiação através de raios gama provenientes de fontes de cobalto 60.

Os raios gama, semelhantes aos raios X, eliminam os microorganismos responsáveis pela deteriorização dos alimentos e permitem aumento na durabilidade dos alimentos. A comparação entre alimentos irradiados e não irradiadas mostra as diferenças. Trigo, soja e feijão irradiados têm durabilidade de três anos. Quando não irradiados, quatro semanas. Não irradiados, uma semana. Batata e cebola irradiadas, seis meses a um ano, conforme a variedade. Sem irradiação, três meses.

Walder assegura que a radiação não altera qualquer característica dos alimentos. E exemplifica ao afirmar que o processo pode ser comparado a um banho de sol, quando a pessoa não fica luminosa, em seguida. Uma grande variedade de alimentos pode ser exposta á irradiação, como farinhas, grãos, tubérculos, frutas, crustáceos, carne bovina, de aves e de suínos. Isso não é possível, no entanto, com verduras, que murcham, e com espécies gordurosas de peixes, que correm o risco de apresentar ranço. Isso acontece hoje. Mas o processo evolui com muitas rapidez, conta ele. E continua, há 10 anos, era impossível irradiar leite e queijo. Hoje, não há o menor problema. O processo e usado mundialmente, nos Estados Unidos, Europa, América Latina, África do Sul e Ásia, em mais de 40 países. Na verdade, a grande maioria irradia especiarias. A Holanda irradia 20 mil toneladas de alimentos por dia e distribui para o restante da Europa. Walder lembra, porém, que, nos Estados Unidos, comercializam-se morangos, carne frango, bovina e de suíno, com boa aceitação. Na França frutos do mar.

O processo teve início no Japão na década de 70. E, somente 20 anos depois, sofreu incremento. Os Estados Unidos, em razão dos movimentos ativistas e da necessidade de pesquisa científica para aprovação, registrava interesse de apenas 40% do mercado, em 89%. Hoje, esse total saltou para entre 79% e 80% do mercado. Além da aprovação da OMS, a associação média norte-americana também recomendou a utilização do processo, assim como órgãos ligados á tecnologia de alimentos.

Dirceu Martins Vizeo, diretor-científico da Embrarad@, empresa especializada na irradiação de material médico descartável, matéria-prima para áreas cosmética e farmacêutica, acredita que os alimentos irradiados constituam um nicho de mercado sem grande representatividade em nível mundial. Desde 89, a empresa atende a um grupo que exportam entre cinco e seis toneladas de especiarias irradiadas, para os Estados Unidos, Suécia, Suíça, Holanda e Japão. A condição de irradiação foi exigida pelos importadores, que buscavam produto mais limpo de impurezas. Ele não palpável comercialmente.

O Brasil ainda não comercializa produtos irradiados. Walder afirma que as empresas interessadas em usar tecnologia deverão obter autorização da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cenen), órgão que regulamenta o controle o uso de equipamento que utilizem energia nuclear. A empresa deve elaborar um relatório detalhado sobre o local onde será instalado o equipamento e sobre a equipe que ali trabalhará. Um aparelho com capacidade para irradiar entre 10 mil e 15 mil toneladas/hora tem preço de R$ 6 milhões.

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