Desde maio, o Fundo Paulista de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), entidade que reúne produtores de laranja e fabricantes, e a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA) praticam a inspeção e varredura de 150 milhões de pés de laranja no Estado de São Paulo. A medida visa o combate do cancro cítrico, doença que impede à planta manter a produtividade normal. Como única forma de combate, após a constatação da doença, resta a erradicação das árvores e das mudas, já que não existem produtos químicos capazes de controlar o avanço da bactéria, que causa doença. Até meados de maio, o Fundecitrus apontava 314 focos da doença, em 70 municípios, com 400 mil plantas erradicadas e 90.882 mudas contaminadas.
As duas entidades contrataram quatro mil pessoas para o trabalho e adquiriram aproximadamente 400 veículos. O programa tem verba prometida de R$ 50 milhões do Ministério da Agricultura e abastecimento, dos quais R$c17 milhões para este ano, R$ 5 milhões em vias de liberação; mais de 17 milhões, para 2001. A iniciativa privada, ou seja, a Fudencitrus, que representa produtores e fabricantes, que recolhem R$ 0,08 por caixa de laranja, ou seja, 0,04 cada um.
Ademerval Garcia, presidente do Fudencitrus e da Associação Brasileira dos Exportadores de Cítrus (Abecitrus), explica que as perdas com cancro cítrico representam um milhão de árvores e aproximadamente US$ 500 milhões, para o país. As principais conseqüências da doença são a baixa produtividade da árvore, embora não morra, e o fato de a doença espalhar-se devagar e sempre, especialmente pelo vento, chuva, poeira e material de colheita.
Ele conta que a doença surgiu em 1957, em Presidente Prudente, de forma não alarmante. Em 1999, por exemplo, foram detectados apenas nove focos, o que não despertou alarme. A situação começou inverter-se em 1994, com aparecimento da larva mineradora de citros, na Ásia e nos Estados Unidos. No ano seguinte, chegou ao Brasil. “A larva cria galerias nas folhas das árvores, que perdem a resistência”, assegura Garcia. Como resultado, as plantas tornaram-se vítimas do cancro cítrico e a doença explodiu.
Cícero ª Massaro, gerente do Departamento Técnico do Fundecitrus, analisa os dados da entidade, entre 1994, 1995 e 1996 (ver quadro II). Em exemplo, 12 municípios apontavam 144 focos da doença. Na prática, isso significou a erradicação de 10.911 plantas e oito mil mudas, o que acontecia pela primeira vez no país. “Até então, ao viveiro estavam livre do problema”, explica. No ano seguinte, houve redução no número de municípios e de focos, 11 e 25, respectivamente, mas o total de plantas erradicadas cresceu para 46.483, assim como o de mudas, 200.512. Em 1996, dobrou o número de municípios, 22. Já os focos e as plantas estavam reduzidos a 45 e 33.906. O total de mudas contaminadas, porém, saltou para 1,310 milhão.
Os números fortalecem a opinião de Garcia. Para ele, “levou-se tempo para reagir”. O trabalho do Fundecitrus começou em 1996, mas as autoridades estaduais e federais somente mostraram-se convencidas sobre a gravidade do problema neste ano. Portanto, três anos foram perdidos”. A posição de Garcia é fácil de entender, pois o Fudencitrus pode inspecionar, mas não tem autorização para erradicar. Os recursos investidos pela entidade são provenientes de produtores e fabricantes, que recolhem R$ 0,08 por caixa de laranja, ou seja R$ 0,04 cada um.
Garcia explica que no Brasil e também nos Estados Unidos, onde a doença existe, não há pesquisa que aponte solução. Desde o ano passado, a entidade uniu-se à Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo, às universidades norte-americanas da Califórnia, Flórida e Washington Mais o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e duas instituições francesas, para pesquisas que buscam solucionar o problema do cancro cítrico. Ele luta pelo sucesso da pesquisa, ao lembrar que propriedades com 270 mil e 240 mil pés sofreram erradicação total das árvores. Mais: lembra que, durante dois anos, as propriedades com pomares contaminados estão impedidas de comercializar frutas e de plantar citros.
Haroldo Tosin, agrônomo e diretor da Defesa Sanitária Vegetal, órgão da Coordenadoria de Defesa Agropecuária, da SAA, fortalece a opinião de Garcia, quando aponta exemplo de propriedade com 480 mil pés, erradicados em seqüência, já que 80% dos pés estavam contaminados com o cancro cítrico. Alerta, pequenos e médios produtores para o fato de que a inspeção não poupará as grandes propriedades, como imaginam. “Em cada região dos municípios escolhidos não ficará uma propriedade sem inspeção”, garante. Finalizado o trabalho, o nome do município e o número de propriedades inspecionadas serão publicados na Internet, nos jornais e nas Casas de Agricultura.
Entusiasmado, Tosin afirma que a volta da metodologia que exige a erradicação da planta e das árvores num raio de 30 metros, anteriormente abandonada, mostrou-se correta. Até 1995, a SAA optava por podas e desfolha no lugar da erradicação. O índice de recontaminação oscilava entre 16%, 18% e 20%, após a primeira erradicação. Em 1996 a larva minadora aumentou o índice para entre 46% e 48%. “Comprovou-se que a poda e desfolha provocavam a brotação, que era o caminho ideal para as larvas minadoras. Como conseqüência, as plantas ficavam mais sensíveis ao cancro cítrico”, conta ele.
Em 1998, a Comissão Estadual de Erradicação. Entre 1995/1996 e 1998, os dados mostram que a incidência do cancro cítrico quadruplicou. Isoladamente, 1995 registrou 20% de recontaminação. No ano seguinte, o índice saltou para 44,5%. Em 1997, baixou para 38%. E, em 1998, cresceu novamente, 52,7%. Adotada a erradicação, os resultados mostraram-se animadores. Entre janeiro e abril deste ano, o índice baixou para 20%. Mais: a comparação entre maio de 1998 e abril deste ano aponta total de recontaminação de 32%. Tosin recomenda aos produtores, independentemente da área da propriedade e do pomar, que sigam corretamente as recomendações de prevenção sugeridas pela Fundecitrus.