Agricultura

Rigor na irrigação

O mundo moderno irriga mais de 220 milhões de hectares. Uma área que representa menos de 5% das terras agrícolas do planeta, mas que responde pela alimentação de mais de 50% da população internacional. A China ocupa a liderança, com cerca de 46 milhões de ha, seguida pela Índia, com 40 milhões/ha, e pelos Estados Unidos, com 40 milhões/ha. O Brasil encontra-se na lanterna, com uma área irrigada de três milhões/ha. Esses dados são encontrados nos trabalhos de Proteção de Mananciais e Uso correto da Irrigação do engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa/Cerrados, Juscelino Antonio de Azevedo. Fora isso, conforme a Agenda 21, a irrigação é a principal demanda por água, na qual os sistemas de rega significam entre 70% e 80% da exigência atual por esse recurso natural, contra menos de 20% representados pela indústria e 6% pelo consumo doméstico.

Entre outros motivos, a agricultura se apropria da irrigação para deixar de ser vulnerável ao caráter aleatório das chuvas, colher em períodos de entressafra, diminuir perdas decorrentes de deficiência hídrica, além, é claro, de aumentar a produtividade em comparação a uma lavoura sequeira. Essa diferença, de área não irrigada para irrigada, pode resultar num incremento de 218% para o algodão, 115% para o arroz, 492% para o feijão, 177% para o milho, 62% para a soja e 104% para o trigo. No entanto, segundo Eusébio Medrado da Silva, também da Embrapa/Cerrados, esses benefícios só podem ser alcançados em sistemas que adotam critérios de aplicações de água compatíveis com as necessidades de consumo de cada cultura. A implementação de qualquer estratégia só terá sucesso se o sistema estiver bem dimensionado, ou seja, com capacidade para atender a demanda de água das plantas em seu estágio de desenvolvimento de máximo consumo.

Solo-planta-atmosfera

Assim, o sucesso de um sistema de irrigação depende de um balanceamento das necessidades entre solo, planta e atmosfera. Na verdade, não há nada tão preciso e fácil acesso ao produtor, que ofereça a receita para uma aplicação ideal da água. O que existem são instrumentos que aproximam os valores inter relacionados por esses três elementos. Medir a Tensão de água no solo é um procedimento suficientemente seco para iniciar as irrigações. Para isso, vários instrumentos são capazes de realizar tal medição. Blocos de gesso, sensores térmicos e psicrômetros têm sido usados o monitoramento da irrigação. Porém, o tensiômetro aparece como um dos mais comercializados para executar esse tipo de tarefa. Trata-se de uma cápsula porosa, na maioria das vezes em cerâmica, conectada a um medidor de vácuo geralmente por meio de um tubo plástico. A cápsula porosa é permeável á água e solutos na solução do solo, sendo impermeável a gases á matriz do solo, até determinando nível de tensão.

Na região dos Cerrados, que utiliza tensiômetros e sistemas de pivô central, o feijão aparece como a cultura de maior rentabilidade. Para se ter uma idéia, dos aproximadamente 300 mil hectares irrigados com pivô-central no Centro-Oeste, 90% irrigou plantações de feijão pelo menos uma vez. O baixo valor de mercado é o principal empecilho para as demais lavouras. O custo de produção do trigo e do feijão irrigados, por exemplo, giram praticamente no mesmo patamar, algo em torno de r$ 500,00/ ha. No entanto, na hora da venda, essa mesma área rende, para o trigo, cerca de R$ 900,00 e, para o feijão, aproximadamente R$ 1.300,00.

A busca por maior lucratividade fez o médico veterinário e proprietário da Agropecuária Sacchetti, desistir da irrigação de pastagem, onde chegou a manter 1.400 cabeças de gado em cada um de seus dois pivôs centrais, e migrar para a cultura do algodão. A pecuária está sacrificada, pois o produto carne se manteve em Real, a ponto que os insumos permaneceram dolarizados.

Pecuária ou agricultura

Apesar dos adubos, herbicidas e inseticidas também apresentarem a mesma situação cambial, o produtor prevê que conseguirá melhores ganhos com a lavoura. Um grande incentivo foi a redução em 70% no ICM decretada pelo governo do Estado no ano passado, que em ganhos reais, representa 7,5%. Por outro lado, o Mato Grosso realiza a colheita na época da seca, o que, ao contrário do Paraná, que colhe nas chuvas, otimiza ainda mais a cultura. Já tínhamos a tecnologia e o resto só veio a somar, diz o produtor, assessorado por cinco engenheiros agrônomos e 20 técnicos agrícolas.

Com 9.000 ha de algodão, a fazenda mantém 180 ha sob irrigação, que devem garantir uma produtividade de 270 arrobas/ha. Segundo Sacchetti, tal estratégia deve proporcionar uma lucratividade de aproximadamente R$ 1.000,00/ha, ao contrário do bovinocultura, que rendia cerca de R$ 300,00/há – o algodão não-irrigado dá um faturamento de R$ 80,00/há. Numa visão moderna, temos de ir aonde está o giro da moeda e, no momento encontra-se na cultura do algodão.

No município de Jussara (GO), porém, mais precisamente na Fazenda Dois Mil, a realidade é outra. O trabalho com irrigação começou na cultura do feijão e se expandiu para pastagens. Em 1997, a propriedade adquiriu seu primeiro pivô-central para o trabalho com lavoura e, no ano passado, comprou outros três equipamentos, destinando mais dois para a agricultura e um para dar início á produção de boi irrigado para 1999, já está prevista a aquisição de mais um pivô-central para o feijão, que totalizará uma área 470 ha. De acordo com o gerente geral, Nilton Aparecido Blaz, o resultado não poderia ser melhor: de 45 a 48 sacas/feijão/ha e ganho de 500 g/ dias por bezerro no pivô. Agora temos duas épocas de águas. A desmama passou a incorporar peso num período que perdia.

Em 68 ha a Fazenda Dois Mil colocou embaixo do pivô 1.600 cabeças, numa lotação de mais de 20 animais/ha, durante o pico de ocupação na média, manteve-se cerca de 1.300 desmamas/ha. Com uma equipe fixa de um engenheiro agrônomo e três técnicos agrícolas, além de consultoria externa, a propriedade encontra-se bem assessorada no seu trabalho de regar sua produção agrícola e pecuária. Irrigar é uma alta tecnologia, que exige mão-de-obra especializada, com apoio técnico, pois são utilizados produtos caros que precisam ser muito bem dosados, finaliza Blaz.

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