Nos bastidores da pecuária e de seu importante papel para o PIB nacional, encontram-se equinos e muares que desempenham tarefas fundamentais para a manutenção da rotina da fazenda, especialmente nas regiões que adotam o sistema de criação extensiva de gado.
O equino de lida apresenta características específicas para exercer tal função, como agilidade, resistência, robustez e precisam ser confortáveis para o peão, que irá passar boa parte do dia sobre o dorso do animal. ˜Eles também precisam estar adaptados ao clima em que permanecerão, como é o caso do cavalo Pantaneiro que tem genética apropriada para tolerar os longos períodos de cheias, e o cavalo Crioulo, cujos pelos mais espessos proporcionam maior resistência às baixas temperaturas do sul do país˜, explica Baity Leal, médica veterinária gerente da linha de equinos da Ceva.
Para que estes animais continuem desempenhando com saúde as importantes tarefas que exercem, o pecuarista precisa investir em nutrição, manejo e protocolos sanitários adequados para a espécie, entendendo e atendendo suas necessidades e limitações.
Nutrição
Equinos são animais herbívoros e suas exigências nutricionais são diferentes das exigências dos bovinos, o que pode ser um ponto de atenção quando as pastagens da propriedade são de forrageiras destinadas ao gado. “A maioria das Brachiarias utilizadas nas pastagens de bovinos é deficiente nos nutrientes exigidos pelos equinos, principalmente as necessidades minerais”, comenta Baity. “O fornecimento de um volumoso de alta qualidade aos animais de lida pode ser o suficiente para suprir as suas necessidades nutricionais, mas em época de seca, onde o volumoso é mais escasso, a suplementação com concentrado pode ser considerada”.
Baity ainda alerta para alguns pontos de atenção na suplementação alimentar dos equinos: “O fornecimento de concentrado deve ser feito com cuidado e não deve ser a única fonte de alimentação do equino, o volumoso é fundamental, especialmente aqueles com fibras mais longas. Excesso de concentrado ou concentrado que tenha muito amido em sua composição pode promover quadros de cólica”.
Quanto à suplementação mineral, a médica veterinária explica que o sal destinado ao gado é diferente do sal para os equinos e que a elevada quantidade de Cloreto de Sódio e a presença de Ureia são perigosos para a saúde do cavalo, sendo indicado uma mistura mineral formulada especialmente para os equinos, visando repor principalmente os minerais perdidos através do suor. “A suplementação mineral é importante para o funcionamento adequado dos órgãos e dos músculos, na recuperação adequada da musculatura após o trabalho, além de ter importante papel nos índices de fertilidade do animal”, esclarece. A água fornecida aos animais deve ser de fácil acesso, de boa qualidade, fresca e limpa.
Manejo
Equinos vivem em grupos, e se comunicam muito bem por meio da linguagem corporal e do toque. Durante os momentos de interação social eles realizam o “grooming” entre si, cuja função higiênica é de eliminar parasitas externos, sujeiras e pelos mortos. A função higiênica do grooming pode ser substituída pela escovação periódica dos animais antes e depois do trabalho, mas não substitui a interação social, importante para a espécie.
Como frequentam terrenos mais acidentados e desafiadores, os cuidados com os cascos também são relevantes no manejo dos equinos de lida. “O casqueamento e ferrageamento devem ser realizados a cada 30-45 dias, mantendo os cascos balanceados e em equilíbrio. É importante para dar um maior conforto para a execução das tarefas diárias e proteção contra os desafios do terreno, como pedras e galhos”, reforça.
O manejo adequado também proporciona aos equinos momentos para expressar sua natureza e que possibilite tempo de ócio, descanso, atividades físicas além das atividades laborais (atividades espontâneas como espojar, rolar, correr livre) e interações sociais.
Sanidade
Os cuidados sanitários com a tropa de lida demandam tanto quanto os dos equinos atletas, uma vez que ambos podem ser acometidos pelas mesmas doenças. A negligência com a atenção na saúde dos equinos de trabalho pode acarretar uma série de prejuízos ao produtor por meio de surtos epidemiológicos que demandem cuidados específicos com o animal ou os animais acometidos, despesas com intervenções veterinárias e até mesmo a morte dos animais.
O combate aos ectoparasitas tem papel importante uma vez que os equinos também são vulneráveis a infestações por carrapatos preferencialmente bovinos, como o Boophilusmicroplus. Naturalmente, os carrapatos encontrados nos esquinos são das espécies Amblyomma cajenenses e Anocentor nitens, e estão diretamente relacionados á piroplasmose (babesiose) equina, responsável pela queda de desempenho e perda de peso dos animais. O controle destas três espécies de carrapatos é baseado na pulverização regular de carrapaticidas específicos para os equinos, além do controle da infestação ambiental.
A vermifugação periódica adequada também tem um importante papel na sanidade destes animais, combatendo aos parasitas internos mais comuns. “A utilização de vermífugos orais de amplo espectro, como a ivermectina e o praziquantel, incluindo a associação entre os dois fármacos, tem ação muito eficaz contra os endoparasitas mais relevantes dos equinos. É indicado que sejam feitas entre 3 e 4 vermifugações anuais, dependendo da contaminação ambiental. Nos equinos, não é indicada a utilização de vermífugos injetáveis, que podem promover reações indesejáveis e prejudiciais ao animal”, Baity explica.
Existe uma série de doenças das quais os equinos de lida precisam ser imunizados, como a raiva, a adenite equina (Garrotilho), influenza equina I e II, encefalomielite viral equina e o tétano – este último sendo de grande relevância para o cenário rural, uma vez que o Clostridium tetani é uma bactéria facilmente encontrada na terra e tem alto índice de mortalidade equina (80%). A primovacinação dos animais ocorre com duas ou três doses subsequentes, seguindo sempre as instruções do fabricante, e necessitam de reforço anual.
Os órgãos de controle sanitário também exigem exames periódicos da tropa a fim de verificar a incidência de doenças graves como Anemia Infecciosa Equina e Mormo (zoonose), especialmente quando existe deslocamento destes animais, que colocam em risco a sanidade de outros animais e que podem desencadear graves problemas sanitários para a equinocultura nacional.
“Prevenir é sempre o melhor remédio, especialmente quando pensamos em animais tão sensíveis quanto os equinos. A prevenção dos problemas de saúde vem por meio de bons cuidados nutricionais, um manejo adequado e, claro, o combate às doenças através da imunização dos animais. Estes três pilares são importantíssimos para que os equinos de lida, a nossa tropa, exerçam suas tarefas dando o seu melhor e desempenhando cada vez mais o seu tão importante papel no agro brasileiro”, finaliza Baity.
Foto: Divulgação / Assis Comunicações / Wirestock – freepik