Grande desafio sanitário da indústria avícola, os problemas respiratórios sempre representaram uma causa comum de prejuízos econômicos da atividade. Apesar da sazonalidade, os principais causadores das síndromes persistem no frio ou no calor, no período de seca ou de chuvas, com matérias-primas de má qualidade ou até mesmo quando tudo parece normal no sistema de produção. É o que alerta a médica veterinária e gerente de serviços biológicos da Phibro, Eva Hunka, para quem é essencial fazer diagnóstico preciso dos agentes causadores das síndromes respiratórias na avicultura.
“Costumamos resumir tudo à expressão ‘problemas respiratórios’. Porém, esse desafio tem causas variadas, infecciosas ou não, que muitas vezes ocorrem simultaneamente. O que tratamos como doença, na verdade se trata de uma síndrome. Por isso, há complexidade em determinar o comportamento, as causas e até mesmo o tratamento”, aponta.
Entre os agentes infecciosos envolvidos no conjunto de sintomas respiratórios, existem alguns críticos, de notificação obrigatória, e que devem ser monitorados bem perto, explica Eva. É o caso dos vírus da Doença de Newcastle, da Influenza Aviária e da laringotraqueíte, além de vários outros que fazem parte do cotidiano da produção, mas que ainda assim ocorrem com bastante frequência – como é o caso do vírus da bronquite infecciosa.
Segundo a especialista, o vírus da bronquite infecciosa ocorre de forma endêmica no Brasil e tem grande potencial mutagênico, além de diferentes cepas ao redor do mundo. “Essas cepas podem ser cosmopolitas, como é o caso da Massachussetts, ou ocorrem em locais isolados, como acontece com a cepa brasileira BR. Estas características dificultam o diagnóstico da bronquite como causa primária, quando sintomas são agravados por outros componentes da síndrome”.
Em razão desse cenário, afirma a médica veterinária, o surgimento de uma nova variante ou mesmo a ocorrência de uma variante exótica exige trabalho intenso de acompanhamento clínico e sanitário das aves, aplicando técnicas de diagnóstico para encontrar causas muitas vezes inesperadas.
Como foco de ação, devem ser eliminadas prováveis causas ou agravantes. Esse processo inclui revisitar técnicas de manejo, processos e programas de vacinação, além de doenças intercorrentes – principalmente as imunossupressoras como reovirose, anemia infeciosa ou mesmo a Doença de Gumboro, que costuma atuar como “gatilho” em muitos casos de síndromes. “Estudos atuais indicam que a forma subclínica dessa doença, causada pela cepa G15, está disseminada em todo o Brasil, sendo frequentemente isolada, inclusive em aves jovens a partir dos 18 dias de idade”, adverte.
Na ocorrência de infecções bacterianas secundárias, o tratamento deve ser feito criteriosamente, com base no perfil de resistência da bactéria isolada na granja, sempre como moderação e atendendo à recomendação de dose, ao tempo de tratamento e à via de administração de cada medicamento.
Nos casos de síndromes, tão importante quanto achar a causa principal é se certificar que outros agravantes sejam eliminados. “É preciso fazer o melhor possível nas condições disponíveis, pois muitas intercorrências comuns, que isoladamente não causariam problemas, se tornam gatilhos quando ocorrem simultaneamente”. Eva Hunka destaca que há práticas de manejo excelentes para eliminar determinados agentes, porém são pouco eficientes, ou até mesmo favorecem, a manutenção de outros mais resistentes, como o vírus da Doença de Gumboro.
Foto: Wenderson Araújo – CNA / Divulgação Texto Assessoria