Opinião

A economia digital está transformando o Agronegócio

Por Bianca Ticiana* –  Ao longo da pandemia, o Agronegócio precisou se curvar para a transformação digital para chegar até o consumidor final. Mais do que uma evolução natural, este movimento significou uma necessidade diante do distanciamento físico imposto pela covid-19. Foi neste período que o setor experimentou a adoção de novas tecnologias como alternativa para enfrentar as dificuldades.

E a pandemia não é único desafio que vem motivando a modernização do Agro. Cada vez mais, os produtores são exigidos para produzir volumes maiores, com mais qualidade – já que o Brasil é o quarto maior exportador mundial do setor, atrás somente da União Europeia, Estados Unidos e China. Desta forma, a introdução de tecnologias no campo é fundamental para elevar a produtividade. E, neste cenário, as chamadas agtechs têm ocupado um importante papel.

Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Startups (Abstartups), denoninada Mapeamento Agtech 2021, identificou 299 agtechs ativas no Brasil, a maioria (72,6%) desenvolvendo tecnologias voltadas a auxiliar a produção e a gestão agrícola. O levantamento mostrou que os investimentos nestas startups atingiram US$ 26,1 bilhões em todo o mundo, em 2020 – um aumento de 15,5% na comparação com o ano anterior.

O desenvolvimento de novas tecnologias e a gradual transformação digital no Agro têm melhorado muito as condições de plantio e comercialização. As perdas no setor diminuíram significativamente graças à utilização de softwares, drones, sensores e afins, além, é claro, do aumento de produtividade amplamente observado.

Muitos aplicativos foram lançados com a finalidade de auxiliar o agricultor, bem como soluções que verificam a época mais favorável para plantio e colheita, que mostram e auxiliam no reconhecimento de pragas, entre outras vantagens. Ao conectar máquinas para tratar diferentes tipos de informações, é possível obter dados mais completos que se tornam importantes tanto para o pequeno quanto para o grande produtor.

O aumento de produtividade com o apoio da tecnologia se faz necessário principalmente por conta da estimativa de crescimento da população mundial, que é de 9,6 bilhões de pessoas em 2050, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Para alimentar esse contingente, a produção atual de alimentos precisa aumentar 70%.

Tendo em mente a adoção de inovações no campo, os números do Brasil são bem animadores com relação a essa questão. As Projeções do Agronegócio – Brasil 2018/2019 a 2028/2029, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, estimam que em dez anos a produção brasileira de grãos deve atingir 300 milhões de toneladas, sinalizando um crescimento de 26,8% em relação à safra atual. E o aumento será justamente por conta dos índices de produtividade, uma vez que, no mesmo período, a área plantada crescerá apenas 15,3%, com 72 milhões de hectares.

O mesmo relatório indica que, ao final desta década, serão produzidos 33 milhões de toneladas de carne de frango, bovina e suína, variação que representa um aumento de 27,3%. Segundo as projeções, há forte tendência de redução de área de pastagem nos próximos anos e também da mão de obra ocupada no campo.

Apesar das boas perspectivas, sabemos da imensa diversidade do nosso país, com todas as suas dificuldades e desigualdades regionais que levam muitos produtores rurais a ter receio de abandonar suas práticas tradicionais. O acesso à internet é ainda precário em certas localidades, por isso há falta de suporte técnico. Mas, aos poucos a agricultura familiar vai se transformando e resistindo, envolvendo-se na transformação digital tanto quanto os grandes produtores..

Além da necessidade de manter valores competitivos, baixar custos de produção, eles já perceberam que necessitam se adaptar para conseguir vender seus produtos. O período mais difícil da pandemia permitiu que os agricultores que ainda não tinham modernizado suas produções e vendas conseguissem se atualizar e testar as novas possibilidades que o online fornece.

A expectativa é que, depois da pandemia, o uso de tecnologias inovadoras no campo aumente ainda mais. Esse será um legado que permanecerá para o futuro, apoiando a subsistência de novas gerações.

(*) Bianca Ticiana é cofundadora da Culte

Foto: Divulgação

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