Produtores que se destacam no desenvolvimento da agricultura de base mais tecnológica têm acesso à internet nas sedes das propriedades e boa conectividade em pleno campo. Contudo, essa realidade não é presente para a maior parte dos agricultores do país, principalmente os de médio e pequeno porte.
A promoção da conectividade no interior do país integra um dos pilares da nova Secretaria de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Entre os principais objetivos da nova secretaria do ministério está o de desenvolver a agricultura de precisão para reduzir o impacto socioambiental e econômico para o produtor e para toda a sociedade.
Segundo Fabrício Juntolli, coordenador da Comissão Brasileira de Agricultura de Precisão do Mapa, o foco é promover a conectividade nas pequenas e médias propriedades.
“Nós temos que ter conectividade a preços compatíveis com os pequenos e médios produtores, para que utilizem todas tecnologias e inovações. E para fazer agricultura de precisão, a internet é primordial”.
Juntolli ressalta ser possível colocar internet em qualquer lugar do Brasil por meio do satélite geoestacionário. Porém, a tecnologia é muito cara e inacessível ao pequeno produtor.
“Só nos grandes centros há conectividade razoável. Mas no interior do Brasil, não tem sinal. Se você tem um equipamento que precisa obter e mandar dados rápidos, telemetria, por exemplo, tem dificuldade”, relata Álvaro Salles, diretor executivo do Instituo Mato-Grossense do Algodão (IMA).
O pesquisador José Paulo Molim ressalta que o acesso à internet, especialmente a conexão entre os técnicos que atuam na área de produção e a sede da propriedade, é fundamental para facilitar o processo de tomada de decisões do produtor.
“Há a conectividade do proprietário à internet, por meio do celular ou do computador, e tem a conectividade da área de produção com a sede. A primeira é mais óbvia e muita gente consegue resolver. A segunda é mais operacional, mais desafiadora e muito mais limitada. Pouquíssimos, para não dizer praticamente ninguém, tem essa abertura da área de produção com internet”, comenta Molim.
Atualmente, o mapa de cobertura feito pelos provedores de internet segue o contorno dos municípios como referência, o que dificulta saber como está o acesso nas áreas rurais. “Não é uma informação completa. Para nós da agricultura essa informação precisa ser melhor elaborada”, sugere Molim.
Produtores também relatam que o acesso à internet poderia aumentar a segurança no campo. “Se houvesse conectividade, seria possível montar sistemas inteligentes de segurança e monitoramento mais abrangente, adotar rastreabilidade de produtos químicos, por exemplo. Hoje há muito roubo, principalmente, no nosso estado que faz divisa com outros países”, comenta Salles.
Financiamento
A Secretaria de Inovação deve firmar parceria com a Embrapa e a iniciativa privada para identificar as áreas com potencial a serem alcançadas. Segundo Fabrício Juntolli, a comissão tem feito reuniões com várias empresas, como a Microsoft, Google, Anatel, Telebrás para conhecer as tecnologias disponíveis a fim de atender aos produtores rurais.
A expectativa no ministério é de que as empresas e indústrias do agro se desenvolvam e que a dificuldade de acesso às tecnologias deixe de ser um obstáculo a um maior avanço. “O Brasil, em termos tecnológicos, não deve nada a outros países, Estados Unidos, União Europeia. Tudo o que eles têm lá, nós temos aqui. O que muda é o nível de adoção de tecnologia”, comenta Juntolli.
Outro benefício esperado pelo governo com a popularização da internet no interior é evitar o êxodo rural e garantir a permanência do jovem no campo para trabalhar com as novas tecnologias e garantir a sucessão do comando nas propriedades.
A pasta também busca ampliar a oferta de linhas de financiamento para que os produtores adquiram antenas e outros equipamentos de telecomunicação e incorporem inovações tecnológicas.
Um dos programas disponíveis é o Inovagro, oferecido pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que dispõe crédito de até R$ 3,9 milhões a cooperativas ou empreendedores individuais para adquirir computadores para gestão, monitoramento ou automação, equipamentos, adequação e construção de instalações para diferentes segmentos de produção, consultorias para capacitação técnica, material genético e assistência técnica.