Por Camila Gusmão* – O retorno da normalidade pós-pandemia do Coronavírus (Covid_19), não está tão ‘normal’ assim. Os preços de produtos básicos como combustíveis e alimentação tiveram uma disparada, e o mesmo aconteceu com produtos agrícolas, principalmente fertilizantes e adubos – base para a manutenção da pastagem e nutrição animal. Mas, mesmo com esse aumento, tanto pecuaristas de cria quanto de recria e engorda, ainda obtém lucro.O segredo da rentabilidade, mesmo nesse cenário desfavorável, segundo João Gabriel Balizardo Carvalho, Médico Veterinário do Grupo Matsuda é se programar e comprar alimentação como grãos e volumosos no período das águas, pois os preços não estão tão inflacionados quanto ficam no período seco do ano em que todos procuram por alimentação para o gado.E, a disparada no preço da produção em 2021, têm vários motivos. Um deles é a inflação no preço do bezerro, que é reflexo do abate de novilhas que está acontecendo há alguns anos.
E o outro, e talvez o principal motivo seja o clima. Hora quente e seco demais, principalmente nos períodos de plantação de grãos que são a base da alimentação como soja e milho, hora frio com as diversas geadas que acabaram com plantações e pastagens, gerando uma quebra de produção próxima a 30% de toda plantação de milho no país.Em compensação, como o preço da arroba do boi também é cotado em dólar, assim como o de insumos para produtos agrícolas, a valorização nesse finalzinho de ano tem sidointeressante para o produtor.“Com a queda das exportações principalmente para a China, tivemos uma queda no valor da arroba em novembro, o que está se normalizando agora. Como o mercado interno, apenas, não absorve toda a oferta de carne, o produtor volta a ganhar com a normalidade das exportações”, explicou Carvalho.
Quanto mais eficiente é o produtor maior será sua margem de lucro
O Médico Veterinário do Grupo Matsuda explica que, devido ao aumento no custo de insumos agropecuários, muitos produtores acabam ‘economizando’ na alimentação, porém, sem a nutrição adequada o animal não produz.Numa comparação entre uma pecuária de cria tradicional e uma rentável Carvalho dá números impressionantes:enquanto o lucro no mês de dezembro na pecuária tradicional ficou em -0,14% a pecuária rentável ficou em 2,04%, o que em números significa um lucro líquido de R$537,15 por hectare/ano de uma pecuária mais rentável e, -32,03 de lucratividade líquida de uma pecuária tradicional.
Já se for feito uma comparação anual com quatro vendas realizadas no ano, a pecuária continua sendo lucrativa sendo uma margem maior de 0,62% para uma pecuária rentável e 0,26% para uma tradicional. Ou seja, um pecuarista que investiu em nutrição de qualidade e manejo adequado para o seu animal no ano de 2021, mesmo com toda essa inflação de preços de insumos e quedas nas exportações, teve um lucro líquido de R$758,12 por hectare/ano enquanto um pecuarista tradicional teve R$219,85.
Na recria e engorda o pecuarista também conseguiu fechar o ano com lucro. Numa pecuária tradicional o lucro líquido ficou em R$117,68 enquanto numa pecuária rentável chegou aos R$768,76 por hectare/ano com base em dezembro, isso tirando todos os custos inclusive com depreciação de bens.“A pecuária terminada a pasto, deu, sim, dinheiro e, principalmente, para quem se preparou. por isso a gente tem que programar várias vendas para serem realizadas durante o ano, assim conseguimos um preço médio”, afirmou Carvalho.
Exportações em alta, de novo
A exportação de carne no Brasil em comparação com o consumo interno está aumentando ano a ano, comenta Carvalho. Segundo ele, em 2021 chegamos a uma distribuição de 33% de exportação e o restante de consumo interno. Apenas os chineses tiveram um consumo médio de 49 kg de carne por chinês no ano – fazendo um combo das carnes. Para João Gabriel, 2022 ainda não será um ano fácil pois existe a previsão do efeito “La Ninã” atuar novamente no Brasil, como neste ano, afetando o período de plantação que é de dezembro de 2021 a fevereiro de 2022, além das vacas da estação de monta atual não estarem muito em condições de emprenhar, o que irá afetar novamente a oferta de bezerros, mas com preparo e manejo, a pecuária continua sendo uma linha próspera de rendimento para o produtor.
“Não há outro lugar no mundo que consiga produzir carne bovina como no Brasil. E, cada vez mais a pecuária seguirá o caminho da sustentabilidade com técnicas como os modelos de integrações e diminuição da emissão de carbono. É um caminho próspero”, destacou o profissional.
(*) Camila Gusmão é jornalista, assessora de comunicação e repórter do portal Boi a Pasto
Foto: Juliana Amorim / Unsplash