Por Pedro Luiz de Castro* – Acostumados com a máxima de que o consumo de peixes é saudável, nas últimas semanas, notícias divulgadas na mídia e em grupos de WhatsApp sobre o aparecimento de casos da Síndrome de Haff, popularmente conhecida como doença da “urina preta”, têm trazido preocupação aos consumidores.
Ainda se sabe muito pouco sobre as causas dessa doença, mas a maioria das suposições levam ao consumo de algumas espécies de peixes como a Arabaiana, também conhecida como “Olho de Boi”, e peixes onívoros de água doce, como o Tambaqui e a Pirapitinga. De acordo com pesquisadores da Universidade Federal Rural da Amazônia, acredita-se que essas espécies acumulam em seus músculos uma toxina a partir da ingestão de algas que se proliferam em ambientes contaminados por esgoto, metais pesados ou alguma outra fonte ainda desconhecida. Não é por acaso que a maioria dos casos identificados se concentram no baixo Amazonas, região onde a pesca artesanal diretamente de rios é bastante comum.
Assim, é importante ressaltar que não existe nenhum registro de casos dessa doença que tenha como origem os peixes de cultivo. Em nota, a Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR, São Paulo/SP) enfatiza que Tilápia e Tambaqui criados profissionalmente, em cativeiro e com toda a segurança, não estão relacionados a Síndrome de Haff em seres humanos.
Na piscicultura, uma das maiores preocupações existentes é com a qualidade de água, uma vez que, águas de má qualidade, proveniente de fontes poluídas ou com a proliferação exacerbada de algas, impactam diretamente no crescimento dos animais e, consequentemente, no retorno econômico da atividade. Além disso, pisciculturas comerciais alimentam seus peixes com rações completas, o que diminui consideravelmente a necessidade de aproveitamento dos alimentos naturais como as algas e, portanto, as chances de contaminação pela toxina causadora dessa síndrome são praticamente nulas.
Apesar de preocupante, o número de casos notificados de síndrome de Haff são mínimos quando comparado aos níveis de consumo de peixe, e se mostram pontuais e regionalizados. Infelizmente é impossível identificar se o peixe em sua mesa está contaminado. Isso porque a toxina não tem cor, não emite cheiro, não se dissipa com o cozimento e não possui sabor. Nessa situação a melhor coisa a se fazer é: manter o hábito saudável de comer peixe com o controle de sua procedência dando preferência sempre para aqueles provenientes das inúmeras empresas de credibilidade existentes no mercado.
(*) Pedro Luiz de Castro. Coordenador técnico de nutrição em Aquicultura, Zootecnista, Mestre e Doutor em Produção Animal pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), com Doutorado sanduíche realizado no Institute of Marine and Aquatic Science, University of Tasmania, Austrália.
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