Agricultura

Em dois anos, país quer chegar a 100 milhões de toneladas

Numa resposta a essa promessa, o presidente da Fetaesp – Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de São Paulo, Vidor Jorge Faita, assegura que uma safra com esse volume “pode ser colhida já, de imediato. Existe estrutura, a agricultura brasileira tem condições, é só dar garantias, porque sem elas ninguém vai plantar”.

Entre essas garantias, que o presidente da Fetaesp reivindica, estão além, de uma política agrícola “confiável”, a criação de uma política para estoques reguladores que “utilize principalmente e, sobretudo, produtos obtidos aqui mesmo no país e não importados”.

A Fetaesp, além de interesses dos assalariados rurais, também representam pequenos produtores ou proprietários em regime de economia familiar e que, esporadicamente, utilizam mão-de-obra de terceiros.

Além de uma política de armazenagem, que “enxague” o mercado no excesso e “desove” na falta, a fim de garantir um preço mínimo ao produtor, Vidor Faita pede uma política de seguro rural, que dê garantias de sobrevivência para o produtor. “Atualmente, o seguro só paga o banco. O governo precisa entender que essa tranqüilidade é necessária, pois, quando o agricultor perde a lavoura, ele anda para trás, fica com dificuldade até para comer, uma vez que vende o trator, o carro e outros bens para poder passar o ano”. “Segundo ele, os bancos, atualmente, estão entre os grandes proprietários de terra, com grande parte confiscada de produtores que não quitaram as dívidas devido a perda da plantação”.

Faita também lamenta a existência de desemprego no setor rural. Isenta o governo de qualquer culpa nesse fato que atribui aos avanços da tecnologia que, a exemplo do que ocorre na área urbana, também acontece no campo. Segundo afirma, uma colhedora (ou colheitadeira) de cana substitui outro tanto.

O problema acrescenta, é que o governo, que incentiva tanto o uso de novas tecnologias, relegou a um segundo plano a capacitação e até atualização de mão-de-obra. “O Sesc, Senai, Senar têm sedes tão grandiosas quanto ociosas”, observa afirmando que “a roça está avançando em tecnologia tanto quanto a área urbana”.

Faita entende que a mesma tecnologia que desemprega na grande propriedade, gera emprego nas pequenas. Explicando essa tese, diz que num pequeno sítio, de 20 hectares, plantado com cana, um homem dá conta do serviço e ainda acha tempo para pescar. Já um hectare plantado com uva ou verduras, ou ainda outras frutas quaisquer, “gera, no mínimo, três empregos permanentes”. A propósito de frutas, Faita diz que, no Brasil, esses produtos são consumidos por “apenas 3% da população e chama a atenção para o tamanho do mercado que ainda está por ser explorado”.

O presidente da Fetaesp acredita que uma saída para o desemprego é preparar a pequena propriedade para competir. Isso seria possível através da difusão de técnicos de produção, indução a uma diversificação, elaboração própria de compostagem (técnica para obtenção de adubo orgânico em 10 ou 15 dias), entre outras medidas, além de cursos de organização e noções de mercado aos produtores e trabalhadores que, aliás, já vêm sendo tocados pela entidade em convênio com o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural).

O problema, segundo Faita, é que o pequeno produtor e o trabalhador rural recebem pouco ou quase nada em termos de ajuda do governo. Existem os programas financiados pelo FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador, mas “a área não consegue pôr a maão nos recursos”. Conforme diz, as verbas são usadas politicamente, “estão nas mãos das centrais sindicais que condicionam a liberação do dinheiro, á adesão, defendidas por elas”.

Lupa, um retrato da situação

Citando os resultados do Projeto Lupa (uma pesquisa de Secretaria da Agricultura de São Paulo), Faita diz que existem 300 mil pequenas propriedades no estado, em situação precária de produção. Afirma, com ênfase, que esses sítios fossem capacitados a produzir e abrissem no mínimo um posto de trabalho, seria possível criar pelo menos, 300 mil empregos.

O presidente da Fetaesp diz concordar com as afirmações do secretário da Agricultura paulista, Francisco Graziano, que o problema de São Paulo não são os sem-terra, mas os com terra, “porque se não cuidarmos desses, eles viram sem-terra”. Para Faita, a reforma agrária em São Paulo, já foi feita.

Nessa mesma linha, questionado sobre o Pronaf – Programa Nacional de Apoio à Agricultura Familiar -, Faita diz que o projeto é bom e ajuda, “mas esbarra na burocracia bancária, que dificulta um maior aceso do produtor ao dinheiro”. Para ele, os bancos precisam dar um jeito de agilizar o processo de liberação dos recursos.“Agricultura não tem tempo para esperar. Ás vezes, numa semana pode-se perder um ano inteiro”, pondera, acrescentando que “os banqueiros parecem ter ojeriza do pequeno produtor”.

Essa demora acontece mesmo depois do governo ter amenizado e reduzido as exigências bancárias. Segundo Faita foi criado um fundo de Aval pelo qual o próprio governo avaliza o empréstimo. Nem com esse instrumento o dinheiro sai. “Será que os bancos desconfiam do governo?”, indaga.

No entanto, admite que a cautela dos bancos tem uma certa razão de existir. Para ele, “o agricultor tem sua parcela de culpa. Muitos pegam empréstimos alegando que vão usar o dinheiro na conservação do solo ou outra operação qualquer e investem em coisas diferentes, até comprando casa na praia. Não existe qualquer fiscalização sobre a aplicação dos recursos”.

Questionado sobre a recusa do governo de alonga a dívida securitizada dos pequenos produtores por mais três anos, Faita afirma que “demorou demais”. Ele lembrou que algum tempo atrás, o governo fez um programa pelo qual oferecia sementes selecionadas para o plantio, na base de troca, ou seja, o produtor pegava cinco sacos e devolvia oito ou até dez. “Ninguém pagou. É preciso ter em mente que o governo não gera, mas administra recursos. Por isso, é preciso pagar as contas, levar as coisas mais a sério”. Mas, para isso, ‘é preciso ser um agricultor nato, ter raízes na terra e não um aventureiro’.

Sobre a redução em 4 milhões de hectares na área de plantio desde a implantação do Plano Real, Faita diz acreditar que grande maioria dessa extensão foi diminuída pelas grandes propriedades. “O pequeno produtor planta e continua plantando de qualquer jeito, mal, sem técnica, mas continua”. Para ele, a redução também pode ser falta de confiança no plano. “Não seria só problema de dinheiro, mas garantia de continuidade”.

Faita elogia o atual programa de estabilização da economia e diz que o presidente Fernando Henrique Cardoso só está fazendo “um governo inteligente”. Apesar disso, lamenta que agropecuária tenha sido usada com âncora para sustentar o Real. Para ele, “seria uma incoerência o governo continuar sacrificando o setor” e, num recado, afirma que “está na hora de parar de segurar os preços dos produtos que compõem a cesta básica”. Para o presidente da Fetaesp, é preciso criar uma política agrícola com todos instrumentos, sobretudo armazenagem, que dê confiabilidade para o agricultor plantar. Lembra, ainda, que com a globalização, o mundo ficou pequeno e, na agropecuária, “só vai sobrar, só vai ficar quem tem vocação e se identifica com a terra”.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *